Consciência e Sagacidade: Como aprimorar as qualidades mentais diante de perigos subjetivos e objetivos e ficar vivo

Mesmo que você, caro leitor, seja um escalador ou montanhista novato deve ter escutado ao menos uma vez alguma história sobre algum acidente por falta de atenção e displicência. A cada semana há a ocorrência de um óbito no montanhismo em todo o mundo. Não há uma estatística oficial do número de acidentes, mas basta acompanhar o número de e-mails do Google Alerts com a palavra “climbing”.

Segundo este raciocínio é fácil concluir que muito provavelmente nos últimos meses alguém soube de alguma história de algum acidente relacionado com a escalada. Algumas pessoas, por possuir falha de caráter e nanismo moral, optam por ocultar o fato de todos, da mesma maneira que os políticos acusados da Operação Lava jato. Outros, mais inteligentes e conscientes, escolher divulgar o acidente e fazer um post-mortem do ocorrido.

Foto: http://www.provo.org/

Os motivos são variados: falta de experiência, ausência de humildade e habilidade, excesso de confiança, falta de atenção, etc.

A ocorrência de acidentes não é característica de nenhum grupo em específico. Escaladores experientes, casais, amigos e etc estão dentro do espaço amostral de qualquer estatística de acidente.

O que é consciência?

A consciência na escalada, assim como em qualquer atividade de montanha, nada mais é do que a informação e estímulos recebidos do mundo exterior por meio de nossos sentidos e, consequentemente, percebida em nosso interior para, desta maneira, criar uma realidade. Esta mesma realidade irá se transformar à medida que adquirimos conhecimento a respeito das coisas. A consciência é, portanto, o sentimento que permite ao ser humano vivenciar, experimentar e compreender aspectos de seu mundo interior.

Foto: http://www.offthegridnews.com/

Por exemplo: Um escalador novato pode ver uma situação perigosa em uma via de escalada. Por outro lado um escalador mais experiente passará no mesmo ponto sem sentir a mesma sensação. Desta maneira um pode acabar por acidentar-se por conta da sensação de medo, enquanto o outro pensa que não. Porém o relaxamento em algum ponto perigoso, mesmo sendo fácil, também produz algum acidente pois o estado de consciência foi “desligado”.

Seguindo o mesmo raciocínio, pequemos o exemplo típico da escalada esportiva: escalar sem capacete. Pode parecer incômodo para alguns, que alegam o sentimento de liberdade cerceado. Como aparentemente não há nenhum perigo de vida porque, ao menos em teoria, as vias são seguras, repetem o costume relaxando-se. Este relaxamento faz com que a perda da consciência ao redor seja reduzida, conduzindo assim a um acidente.

O que é sagacidade?

Muito se fala sobre uma pessoa ser “sagaz” e possuir “sagacidade”. Mas o que seria isso na realidade? O conceito é relativamente simples: É a capacidade para depreender, aprender ou interpretar algo através de indicações simples. Utilizando outras palavras é saber reagir rápido a um estímulo do estado de consciência. Não é, entretanto, relacionado com a rapidez da resposta e sim com a eficácia dela.

Foto: Ted Hesser | https://blog.trashbackwards.com/

Um montanhista sagaz é aquele que sabe que não está imune a algum acidente e procura estar atento todo o tempo na sua própria segurança. Sagacidade, portanto, seria uma pessoa decidida a voltar para casa inteiro no momento que sair dela. Não há, entretanto, nenhuma relação com medo nem de seu enfrentamento.

Um escalador sagaz sabe, por meio de sua consciência, o momento de ser ousado, prudente e de recuar diante de cada situação.

Perigos Objetivos na escalada

Escalar é um esporte de risco. No manual de qualquer equipamento, guia e site de escalada existe algum aviso sobre esta realidade.

Desta maneira há perigos existentes na prática da atividade. Os perigos objetivos são aqueles que podemos controlar como por exemplo:

  • Utilizar sempre equipamento adequado
    • Nunca esquecer de inspecionar previamente
    • Evitar sempre improvisar qualquer equipamento de segurança
    • Nunca esquecer de usar capacete em qualquer local de escalada
  • Buscar sempre a informação correta em sites e livros de credibilidade
    • Checar sempre as fontes de informação e o conhecimento de quem escreve
    • Nunca tomar como verdade qualquer coisa lida na internet
  • Reciclar sempre os conhecimentos técnicos de segurança
    • Fazer sempre cursos de reciclagem e aprofundamento de técnicas de escalada
    • Reler artigos e livros sobre um mesmo assunto que não domina
  • Conhecimento do equipamento que possui
    • Ler sempre o manual do usuário periodicamente
    • Procurar utilizar o equipamento seguindo as instruções do fabricante, nunca do amigo ao lado
    • Sempre inspecionar o parceiro antes de qualquer escalada
  • Ter consciência que nunca se sabe tudo e sempre há algo novo a aprender
    • Saber identificar perigos de acidente ao seu redor
    • Estar atento a todos os procedimentos
  • Ser humilde e não se achar o dono da verdade
    • Escutar todas as opiniões, mesmo que não concorde
    • Buscar sempre conversar, nunca discutir
    • Deixar a postura de “xerifão” em casa e respeitar o conhecimento do próximo
    • NUNCA achar que já sabe tudo

Perigos Subjetivos

Os perigos subjetivos são os mais difíceis de controlar, pois dependem muito do meio no qual estamos inseridos. Um exemplo clássico é a queda de pedras, animais peçonhentos, quebras de agarras de uma via de escalada, ataque de formigas ou marimbondos, etc.

Foto: http://cruxcrush.com

Não há como prever um perigo subjetivo.

Contra este tipo de perigo há somente um remédio: aumentar nossa percepção exterior para tudo à nossa volta para, desta maneira, interpretar melhor o que está acontecendo e ter a sagacidade de agir.

  • Fazem parte dos perigos subjetivos de qualquer escalada
  • Queda de pedras, mesmo em locais muito frequentados
  • Quebra de agarras de escalada, por qualquer que seja o motivo
  • Queda de material de outro escalador como, por exemplo, uma costura, mosquetão, etc.
  • Proteção (chapeleta ou grampo) mal instalada que acaba quebrando com o uso intenso
  • Ataque de animais peçonhentos ou formigas

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