A escalada de competição está a pouco mais de dois anos de sua estreia como esporte olímpico na cidade de Tóquio em 2020. A competição de escalada contará com 40 atletas (20 mulheres e 20 homens) disputando um formato nunca utilizado desde então: vias guiadas + boulder + velocidade. O formato foi muito criticado por atletas e veículos especializados.
Com o objetivo de conquista o público jovem, os organizadores dos jogos de verão de 2020 aposta em esportes não tradicionais como a escalada. Mas para a mídia tradicional a modalidade, assim como o sistema de pontuação, é confuso e difícil de explicar. Além do sistema de pontuação, há ainda diversas regras que os competidores devam seguir. Esta cartilha de conduta que os competidores devem seguir, será abordada em um outro artigo, pois é extensa e até certo extenso.
Se você nunca ouviu falar de escalada, vale aqui uma explicação simplista: o International Federation of Sport Climbing (IFSC) está para a escalada como a Fédération Internationale de Football Association (FIFA) está para o futebol. É ela que determina o sistema de pontuação de campeonatos e os parâmetros como altura de uma parede, espessura dos colchões e regulamentos.
Mas como funciona o sistema de pontuação de competições de boulder do IFSC?
Sistema EUA x Sistema IFSC
Muitas pessoas, dentre todas as alegações, reclamam que o sistema criado pelo IFSC é “injusto”, abrindo margem para muita discussão.
No Brasil, por exemplo, o sistema de pontuação adotado por muito tempo era uma interpretação de uma versão já existe. A iniciativa brasileira não foi seguida por nenhuma outra federação no continente.
As competições de boulder debatem a respeito do que seria “justo” ou “injusto” sobre o sistema de pontuação atual. Basicamente, pelo sistema atual, somente é levado em conta o número de boulders encadenados e o número de agarras bônus alcançadas por cada escalador. O número de tentativas serve apenas como critério de desempate.
O uso de agarras bônus permite que alguns escaladores, muitos sem recursos técnicos, realizem botes e saltos para alavancar sua pontuação. Esta forma de pontuar competições de boulder provocou situações consideradas “injustas”, além de resultados aleatórios. A pontuação estabelecida pelo IFSC é aplicado em vários outros campeonatos nacionais na Europa.
Uma reportagem completa, a qual aborda de forma mais aprofundada a pontuação americana de competições de boulder, pode ser lida aqui.
Pontuação campeonatos boulder
A pontuação de boulder é um pouco confusa e complexa à primeira vista. Neste tipo de competição é feito em três fases: classificatória, semifinais e finais.
- Classificatória: Não possui um número limitante de participantes. O IFSC apenas exige que as pessoas sejam representantes reconhecidos por suas federações para competir. Entretanto a entidade não exige uma maneira, como uma competição, para que estes representantes sejam escolhidos. Há vários casos de países, como o Brasil, que não possuíam uma competição nacional organizada e que os atletas iam competir de acordo com sua situação financeira.
- Semifinal: Para a semifinal são classificados os 20 melhores atletas de toda a fase classificatória.
- Final: Para a final são classificados os 6 melhores atletas de toda a fase semifinal.
Na final, os competidores enfrentam 4 linhas de boulder, nas quais têm apenas 4 minutos para finalizar. São considerados alguns critérios, o qual possuem a importância decrescente:
- Top: Quantidade de linhas que o escalador completou até o topo. Indicado com letra “T” maiúscula.
- Zone Points: Cada linha de boulder possui uma agarra bônus, que é destacada. A partir de 2018, esta agarra bônus foi chamada de zona. Cada competidor que chegar, e a dominar, recebe uma pontuação indicando que chegou nesta zona de agarra bônus. Existe apenas uma agarra bônus por linha de boulder.
- Attempts: Total de números de tentativas que o(a) escalador(a) teve.
Exemplos:
- Se um(a) escalador(a) realiza 8 tentativas e chega a 4 topos, recebe nota: 4T4z 8
- Se este mesmo (a) escalador(a) realiza também 10 tentativas, mas soment chega a três zonas de agarras bônus: 0T3z 10
- Se um(a) escalador(a) escala todas as vias à vista: 4T4z 4
- Se um escalador faz 10 tentativas em um boulder, mas não consegue chegar nem na zona de agarra bônus: 0T0z 10
Exemplo de classificação:
Tomemos quatro escaladoras (com nomes fictícios)
- Janete: 3T4z 8 (três topos + quatro agarras zona bônus em oito tentativas)
- Olívia: 4T4z 6 (quatro topos + quatro agarras zona bônus em seis tentativas)
- Maria: 3T3z 9 (três topos + três agarras zona bônus em nove tentativas)
- Poliana: 3T3z 8 (três topos + três agarras zona bônus em oito tentativas)
Como ficaria a classificação? Lembrando que, pela ordem, a importância da pontuação é: 1-Tops, 2-Zone Points, 3-Attempts
Desta maneira a atleta Olívia ficaria em primeiro, pois o que mais conta é o número de TOPS. Tendo o mesmo número de tops e tentativa de tops, o critério de desempate é a quantidade de zona de agarras bônus. Caso o empate persista, o número de tentativas é levado em conta. Caso o empate persista, a colocação na fase anterior é utilizada. Janete seria a segunda colocada, por ter conseguido chegar a mais zonas de agarra bônus que a terceira colocada que foi a Poliana, que ganhou de Maria por ter feito uma tentativa a menos.
Ranqueamento
O IFSC também utiliza um sistema classificatório diferenciado para o ranqueamento, utilizado na Copa do Mundo. A Copa do Mundo de Escalada possui várias etapas durante o ano, e este sistema serve para determinar quem é o campeão da temporada.
No raqueamento, que é utilizado para saber quem é o campeão da Copa do Mundo após tantas etapas, funciona da seguinte maneira:
Posição | Pontos | Posição | Pontos | Posição | Pontos |
---|---|---|---|---|---|
1º | 100 | 11º | 31 | 21º | 10 |
2º | 80 | 12º | 28 | 22º | 9 |
3º | 65 | 13º | 26 | 23º | 8 |
4º | 55 | 14º | 24 | 24º | 7 |
5º | 51 | 15º | 22 | 25º | 6 |
6º | 47 | 16º | 20 | 26º | 5 |
7º | 43 | 17º | 18 | 27º | 4 |
8º | 40 | 18º | 16 | 28º | 3 |
9º | 37 | 19º | 14 | 29º | 2 |
10º | 34 | 20º | 12 | 30º | 1 |

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.