Como é o seu sentimento em relação à escalada?

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“E os que dançavam foram considerados loucos por aqueles que não ouviam a música”. Nietzsche

Aposto que essa frase também resume o seu sentimento em relação a escalar.

Quantas vezes você já deve ter sido questionado ou chamado de louco, destemido, inconsequente e por aí vai…

Muitos tentam entender os motivos que levam estes “loucos”  a encontrarem seu estado de espírito perfeito estando pendurados por uma corda, respirando o ar que as pedras ignoram misturado com a nuvem branca de magnésio, que entre um perrengue e outro pairam no ar.

Pense aí, você lembra o que te levou a escalar?

Talvez a ânsia pelo desconhecido, ou o desejo de encontrar no alto o sentido para a vida marasma que se arrastava lá embaixo, feito relógio sem pilha?

Talvez a vontade de ir contra uma vida considerada “normal” e provar para si mesmo que em domingos a fio no conforto e proteção do lar nunca encontraria esta sensação de estar com o coração na ponta dos dedos e fazer com que cada pedacinho do seu corpo encontrasse a razão de existir?Viviane_3

Uma coisa é certa, e isso todos nós aqui já sabemos, a vida pode sim ser mais que televisão e sofá, e adrenalina pode ser muito mais que uma cena hollywoodiana cheia de efeitos especiais.

Naturalmente cada um tem em si a necessidade de sentir-se parte do mundo e por sorte, muitos se sentem parte quando rodeados pela natureza, sentindo-se abraçados pelo arco-íris vivo de cores e sons que ficam lá esperando para contemplar nossa escalada. Poderiam ser várias outras atividades ou esportes, a escolha foi escalar.

Aceitar que a escalada entre na sua vida é o primeiro desafio, é preciso estar disposto a entender que ela mudará seus hábitos, sua alimentação, sua rotina, sua consciência ambiental, seu corpo, ela exigirá de você disciplina, foco, tempo, mente e coração. Inclusive muitos dos seus amigos não entenderão sua ausência tampouco essa “cachaça” que programará sua agenda.

Mas só assim você passará a entender que é você quem precisa da natureza e do que ela oferece e não o contrário, como arrogantemente a sociedade urbanista, materialista e egocêntrica vem tentando doutrinar.

E quando você entende tudo isso e descobre que desse modo sua vida pode ser mais plena, logo você está na rocha e entre um crux e outro, entre uma costurada e um suspiro de “Consegui!”, ou naquele momento que você chega na parada da via, grita para o seg “em auto” da aquela olhada para a vista, sente como se o mundo desse boas vindas a você  e finalmente entende-se a razão de tantas renúncias e tanto paixão por este esporte.

Essa vida nova do coração acelerado, da respiração contida, da perna indomável quando a tremedeira começa é que faz pensar lá do alto: Eu não quero mais descer daqui!

Ou melhor…eu quero sempre subir até aqui. Esse “aqui” você passa a chamar de VIDA…e essa decisão de LIBERDADE.

Esse sentimento é muito bem traduzido em uma passagem do livro Na natureza Selvagem:

“Um estado semelhante ao transe cai sobre nossos esforços; a escalada toma-se um sonho de olhos abertos. As horas passam como se fossem minutos. O acervo acumulado da existência cotidiana – os lapsos de consciência as contas não pagas, as oportunidades perdidas, a poeira sob o sofá, a inescapável prisão de seus genes, tudo isso é temporariamente esquecido, excluído de nossos pensamentos pela claridade avassaladora do objetivo e pela gravidade da tarefa em execução. Nesses momentos, algo parecido com a felicidade bate de fato em seu peito…”(pag. 152)

Eu comecei “ontem” a escalar, tenho muito a aprender, muitos medos para domesticar, muito crux para malhar, milhares de lugares para estar, e assim como eu tantas pessoas estão começando também, mas isso não significa que o espírito da escalada já não possa já estar impregnado em mim e sem esforço, essa filosofia de vida vai tomando mais espaço no dia-a-dia, através da consciência de que meu corpo é sim um templo sagrado movido pela emoção da superação de desafios, somado a satisfação de sentir-me parte de algo que é divinamente perfeita na sua simplicidade, a natureza.

Quando você coloca sua mochila nas costas é como se naquele momento a direção da sua vida fosse uma escolha só sua. Você tem a chance de escolher aquilo que realmente lhe faz sentir feliz. E percebe que não precisa de muito mais do que cabe nela para ter momentos infinitamente felizes.

Ahh! Escalar é bom, é muito bom e encontrar pessoas que vivem o mesmo, a parceria que se fecha na base, o incentivo “para cima”, os amigos que se conquista, as histórias de vidas que se tem oportunidade de conhecer, é algo que faz todos estes “loucos” colocarem a sua vida literalmente por um fio.

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É tudo isso que me faz pensar: É aqui que eu quero estar! Com chuva ou sol, com cadena ou não, almoçando sanduíche, bergamota ou o que sobrar na mochila alheia…não importa, é tudo isso que me faz acordar 7 da manhã de um dia frio de inverno gaúcho, quebrar a geada rumo ao morro e exibir com orgulho os calos nas mãos e os roxos que já nem somem mais. Melhor ainda é saber que não estou sozinha nessa!

E você que nunca escalou, ainda não teve oportunidade, ou está só esperando por ela, que mesmo assim não conseguiu entender esse sentimento que tentei descrever aqui e seguirá achando esse povo doido…te dou duas dicas: ou experimente e passe a ser mais um louco feliz ou continue chamando-os simplesmente de loucos, porque a loucura é o melhor remédio num mundo de gente que adoece de normalidade.

Eu não quero morrer disso.

É como dizem, se não queres ter uma vida comum, não faça coisas que pessoas comuns fariam.

Desliga essa Tv, saia desta sala e descubra no que um domingo outdoor pode tornar a sua vida.

E isso serve para tudo! Boas escaladas!

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