O Nepal começa a sentir o crescimento do problema a respeito do COVID-19 nos acampamentos de base das montanhas acima de oito mil. Agravado pelo sigilo absoluto das autoridades nepalesas, que negam toda a situação, o aeroporto do país foi fechado.
Enquanto negacionistas em diversas partes do mundo comemoram de maneira irresponsável nas redes sociais que o Monte Everest possui cada vez mais licenças para subi-lo, Nepal fecha aeroportos em plena temporada de expedições.
Nepal e a pandemia
Segundo o jornal Kathmandu Post, o Nepal relatou o maior número de mortes em um único dia (55 mortes) e o registro de novos casos (7.587). Este é o terceiro dia consecutivo em que o país registra mais de 7.000 novas infecções, com 47% do total de testes apresentando resultados positivos.
Os números, se comparados com países como o Brasil, podem parecer pequenos, mas é importante salientar que o Nepal possui uma população de 28,61 milhões de habitantes e faz divisa com a Índia, país que vive uma explosão de contágios na última semana. A Índia se tornou no sábado o 1º a registrar mais de 400 mil casos em um único dia e passa por um colapso em seu sistema de saúde.
O Nepal tem recebido muitos visitantes indianos nesta época de reabertura ao turismo.
O número de mortos no país no Nepal até o momento é de 3.417. De acordo com o Ministério da Saúde do Nepal, 7.587 pessoas tiveram resultado positivo em 16.131 testes nas últimas 24 horas. Ou seja, 47% dos testados apresentaram resultados positivos.
O Kathmandu Post possui uma ferramenta on-line para rastrear as áreas de maior contágio: https://kathmandupost.com/covid19
Dhaulagiri
O montanhista Zbyszek Bąk, que atualiza as posição do polonês Waldemar Kowalewski, que está em sua segunda tentativa de oito mil na temporada no Dhaulagiri, informou que 30% dos escaladores no acampamento base foram ou estão esperando para serem evacuados de helicóptero.
Da mesma forma, diferentes fontes “fora” do Nepal, confirmam que a onda de COVID-19 está atingindo o Acampamento Base do Monte Everest, conforme expressou pelo jornal britânico The Guardian. O periódico inglês afirmou que:
“É claro que existe ou existiu COVID-19 no acampamento base do Everest. Bem, pelo menos está claro que as pessoas que tiveram lá foram levadas para Katmandu, onde deram positivo e estão recebendo tratamento. Também está claro que o Nepal está experimentando um grande aumento de novos casos e está novamente sob bloqueio”.
Enquanto isso, as autoridades nepalesas, continuam a negar quando consultadas sobre esta situação, assim como os jornais locais de maior destaque, que não mencionam sequer uma única linha sobre esta situação. Os jornais de massa em todo o mundo estão levantando a hipótese de que há algum tipo de censura pela autoridade local para questões ambiciosas.
Aeroporto fechado
Com relação à situação de pandemia em nível local no Nepal, o primeiro-ministro Sharma Oli ordenou aos militares nepaleses que criassem hospitais temporários COVID-19 com 1.000 leitos em todas as províncias e em Katmandu.
O governo nepalês vem aplicando novas restrições há dias para tentar conter ao máximo a onda de infecções. Na semana passada, ele confinou o Vale de Kathmandu, mas nesta semana foi ainda mais longe. As autoridades decidiram fechar os aeroportos e suspender todos os voos, tanto internos como internacionais.
Assim, se uma expedição ainda não chegou ao país, não poderá fazê-lo até o dia 14 de maio, data marcada para o fim dessas novas restrições. Da mesma forma, os montanhistas que atualmente estão nas montanhas do país terão que assumir a incerteza sobre o retorno para casa.
Assim, corre-se o risco de se repetir a situação do ano passado. Quando a pandemia global foi declarada, o Nepal fechou suas fronteiras e muitos grupos de trekking e expedições tiveram dificuldade para voltar para casa. Alguns deles até mesmo tiveram que passar várias semanas a mais do que o esperado em um país confinado.

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.