Responda honestamente:Você tem o costume de fazer checagem dupla antes de escalar?
De forma literal, checagem é a ação ou o efeito de checar, verificar e conferir alguma coisa. Assim como várias palavras no montanhismo e escalada, a a palavra “checagem” é um estrangeirismo (palavra ou expressão estrangeira) e vem do verbo em inglês “to check”, no sentido de “fazer parar, obstaculizar”, que por sua vez vem o idioma francês eschequier, que significa “colocar em perigo o rei do adversário num jogo de xadrez”.
À parte da origem da palavra, na prática da escalada existe um hábito considerado de boas maneiras que é verificar se alguns itens de segurança do (a) companheiro (a) de escalada antes de iniciar uma via. Uma espécie de auditoria do companheiro: um exame cuidadoso e sistemático dos procedimentos de um determinado procedimento, com o objetivo de averiguar se elas estão de acordo com o que é considerado correto.
Conforme todas as semanas é ilustrada no programa semanal de notícias do universo outdoor Papo de Redação, acidentes podem acontecer. E acontecem com qualquer um, independente se é experiente ou iniciante. Muitos deles serão devidos a erros humanos e que poderiam ter sido evitados com uma pequena checagem.
A verificação mútua entre os (as) parceiros (as) é uma prática incentivada (e negligenciada) entre o (a) escalador (a) e o (a) segurador (a). O procedimento leva apenas alguns segundos e pode evitar um número de acidentes gigantesco.
Sim, escalada é perigosa para irresponsáveis
Não nos iludamos com a escalada: o perigo de acidentes existe. E este perigo é potencializado para todo praticante irresponsável. Quer identificar um (a) escalador (a irresponsável? Todo aquele que responde sobre sua displicência com a segurança com a frase “sempre fiz assim e nunca aconteceu nada”.
Mas não tem como ignorar o fato de que o risco, na escalada, é algo que também atrai muitas pessoas. Além das endorfinas geradas durante o exercício físico, a adrenalina é um dos elementos que nos deixa viciados nessa atividade aparentemente improdutiva que envolve subir uma montanha e depois descer cansado, sujo e arranhado.
Mas o risco se torna ainda mais atraente quando é um risco que podemos controlar e quando nos sentimos seguros de danos graves. Escaladores experientes sabem que escalar não é tão louco quanto parece.
Os escaladores de primeira viagem tendem a falar mais sobre sua experiência de vertigem ou quedas do que sobre o prazer e os desafios envolvidos. Esses relatos épicos em primeira pessoa de aventuras de escalada provavelmente não ajudam a apagar imagens de horror nas mentes de não escaladores.
Pouco antes de sair do cão, ao pé da via e escalada, encontra-se o ponto em que o escalador comete o pecado da negligência ao dar por certo todo o ritual de segurança, acreditando que foi feito perfeitamente por tê-lo repetido mil vezes. O motivo? Porque , como todo acidentado, “sempre fez assim e nunca aconteceu nada”.
Segurança e negligência na checagem dupla
O termo que designa falta de cuidado ou de aplicação numa determinada situação, tarefa ou ocorrência é negligência. O termo é frequentemente, utilizado como sinônimo dos termos descuido, desleixo ou preguiça. Juridicamente falando, a negligência faz parte de um trinômio que determina a culpabilidade em uma situação junto de imperícia e imprudência.
Na imperícia, executa uma tarefa alguém que não possui a habilidade necessária (decide usar um equipamento que não conhece), enquanto que na imprudência faz sem o cuidado devido (não faz checagem de segurança). Já na negligência a atitude é omissiva, posto que o indivíduo deixa de fazer algo que deveria fazer.
Por exemplo: um (a) escalador (a) realiza mal o nó por ser inexperiente ou estar distraído com algo, e o seu segurador não se preocupou em fazer a checagem. O escalador foi imprudente, pois não estava concentrado na atividade, enquanto o segurador foi negligente, porque é uma boa prática fazer a checagem de seu segurador.
Assim, é facilmente concluir que a negligência na escalada implica em omissão ou falta de observação do dever de agir de forma prudente. Para suprimir a margem de erro, além de diminuir o número de acidentes, criou-se a cultura de “checagem dupla”.
A checagem dupla é um processo relativamente fácil, rápido e ágil que não pode faltar antes de qualquer escalada. Ela consiste em uma série de etapas simples que devem ser feitas SEMPRE da mesma maneira. Independente se escalador e segurador sejam conhecidos ou não.
Checagem dupla na escalada
Possuir um hábito é agir constantemente de certo modo, adquirida pela frequente repetição de um ato. A checagem dupla deve ser exatamente isso: habito de escalar, da mesma maneira que escovar os dentes pela manhã, tomar banho, entre outros exemplos.
O momento para realizar a checagem dupla do parceiro é o instante imediatamente anterior ao início da escalada. Logo após ela, deve ser realizada a escalada imediatamente. Caso haja alguma conversa, ou alguma distração, a dupla checagem deve ser refeita.
Embora possa parecer confuso, uma vez que seu hábito seja internalizado, será uma questão de segundos fazê-lo. Importante lembrar que a ordem das fases é irrelevante:
- Cadeirinha (VERIFICAÇÃO MÚTUA)
- Verificar se não está danificada ou com defeito.
- Verificar se cinto está acima dos quadris.
- Verificar se as fivelas não estão frouxas ou o ajuste muito solto.
- Verificar se as fivelas estão bem fechadas.
- Verificar se a alça restante da fita está escondida.
- Verificar se há alguma parte torcida.
- Verificar se o loop está em boas condições.
- CORDA (VERIFICAÇÃO MÚTUA)
- Verificar se a corda não está com nenhum defeito.
- Verificar se o nó é feito através de ambas os alças de amarração na cadeirinha.
- Verificar se o nó foi feito apenas no loop da cadeirinha.
- Verificar se nó OITO está correto, apertado, verificado duas vezes COM ARREMATE
- Verificar se o escalador não gostaria de trocar o nó lais de guia (que não e 100% seguro) pelo nó OITO.
- Freio (VERIFICAÇÃO MÚTUA)
- Verificar se o freio de segurança está danificado ou com defeito.
- Verificar se corda é instalada na direção correta (principalmente para o GRIGRI)
- Verificar se o mosquetão está conectado ao lugar correto da cadeirinha e o gatilho está travado.
- Puxar a corda para verificar se o dispositivo trava corretamente.
- Equipamentos (VERIFICAÇÃO MÚTUA)
- Verificar se o escalador está com todas as costuras necessárias.
- Verificar se o escalador possui sistema de desmontagem de vias (freio e solteira).
- Verificar se o escalador está com o cadarço das sapatilhas amarradas (caso seja de cadarço) e presas (caso seja de velcro).
- Verificar se o capacete está ajustado e fechado.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.