Filme que documenta primeira ascensão em solitário no Cerro Torre é disponibilizado na íntegra

O filme de 1985 “Cumbre Italiano”, de Fulvio Mariani, que documenta a primeira escalada em solitário ao Cerro Torre está disponível para visualizaçao na íntegra. A ascensão foi feita pelo escalador suíço Marco Pedrini, na polêmica “Via do Compressor ” aberta por Cesare Maestri.

Nascido em 1958 na Suíça, Marco Pedrini foi um dos principais escaladores de sua geração, com importantes escaladas e primeiras ascensões pelos Alpes e patagônia. O escalador morreu em 1986 ao descer de uma escalada em solitário do “American Direct” no maciço do Mont Blanc.

A polêmica da “Via do Compressor”

Cada montanha possui uma dificuldade particular. Algumas são consideradas fáceis, outras nem tanto. Portanto, muitos montanhistas devem saber que existem muitas picos difíceis de se escalar no mundo. O Cerro Torre (3.128 m) foi considerado por muito tempo impossível. A escalada do Cerro Torre foi considerada impossível não só por causa das paredes verticais de granito, mas também pelo tempo instável da Patagônia.

Sua primeira ascensão é posterior ao Monte Everest (8.848 m), conquistado em 1954. No final de 1958 e começo de 1959, teve início uma grande polêmica em torno da conquista do Cerro Torre. A primeira expedição ao Cerro Torre. Mas devido às dificuldades encontradas, as quais foram bem maiores do que o esperado, a expedição não pode fazer o ataque ao cume do Cerro Torre. Para não sair de mãos vazias, os montanhistas fizeram conquistas de alguns outros picos próximos, mas com menos dificuldades.

Decidido a fazer a conquista, Cesare Maestri, escalador italiano integrante da primeira expedição, organizou segunda expedição para ano seguinte. A equipe era composta por Cesar Maestri, Toni Egger (Áustria), Cesar Fava (Itália) e contava com apoio de mais quatro estudantes universitários. Todos ficaram por lá aproximadamente dois meses. Maestri, que tinha sido criado nas Dolomitas era habilidoso na escalada em rocha e solava paredes de 600 metros. Egger era um especialista na escalada em gelo. para especialistas da época, a cordada composta por Maestri e Egger era a mais forte que existia no mundo na época.

Após vários contratempos, que os obrigaram a passar a noite no meio da parede de gelo, a dupla chegou ao cume em 4 de janeiro. Quase dois meses depois da expedição ter iniciado. Durante a descida uma avalanche matou Toni Egger. O corpo do montanhista não foi encontrado. Porém um pequeno detalhe acabou assombrando Cesar Maestri: junto de Toni Egger, a câmera fotográfica com as provas da conquista. A comunidade de montanhismo do mundo, como sempre é de praxe, acabou não acreditando em Maestri, fazendo piadas e colocando em xeque não somente a ascensão, mas também todos os feitos da carreira.

Após muitos anos Maestri, já cansado de toda “corneta” da comunidade escaladora, conseguiu patrocínio para voltar à Patagônia e organizou em 1970 mais uma expedição ao “Cerro Torre”. Um detalhe que mudou a história da montanha piucos perceberam: o patrocínio para realizar a expedição veio de uma empresa norte-americana Atlas Copco, um grande fabricante de compressores de ar.

A expedição saiu da Europa contando com um compressor de ar acoplado a um motor, especialmente desenvolvido pela empresa para a conquista da via. Cesar Maestri esperava-se abrir sem dificuldade os furos para colocação dos pinos necessários à escalada. Todo o processo seria, ao menos em teoria, mais rápido, um detalhe fundamental para uma escalada no instável tempo da Patagônia. A utilização do compressor gerou ainda mais polêmicas no mundo do montanhismo. Maestri, que já estava cansado do “mimimi” que havia no esporte à época, pouco se importou.

Maestri e a equipe iniciaram a conquista de uma nova via, já no inverno de 1970. De acordo com o montanhista esta seria muito mais segura e com predominância de escalada em rocha. O ataque ao cume seria feito pela face leste do Cerro Torre. A via não foi concluída no inverno e toda a expedição voltou no verão de 1970/1971 e a concluiu arrastando os 75 kg de compressor. O compressor foi levado desmontado em três partes, sendo que cada uma na mochila de um escalador da expedição.

Após conquistada a via, Maestri deixou o compressor pendurado na parede próximo ao final. Desde então, cada escalador que passa por lá retira uma peça como lembrança.

Escaladores passam por cima da ética e desrespeitam o local

A “via do compressor” viveu outra polêmica 41 anos mais tarde. O norte-americano Hayden Kennedy e o canadense Jason Kruk, decidiram por conta própria retirar os grampos de Cesari Maestri, desrespeitando a ética local da região, apagando toda a via que o italiano abriu quatro décadas antes.

De acordo com o montanhista argentino Rolando Garibotti, os escaladores aproveitaram o descenso para eliminar uma boa parte das proteções fixas deixadas por Cesare Maestri. Kennedy e Kruk alegaram que, por não terem utilizado nenhuma das proteções elas “deveriam” ser retiradas. Na descida a dupla arrancou nada menos que 150 grampos, impossibilitando para sempre a escalada para quem quisesse repetir esta via da mesma maneira que era tradicionalmente feita.

Quando a comunidade de escaladores que estavam em El Chaltén ficou sabendo do ocorrido, Hayden Kennedy e Jason Kruk tiveram de se esconder em um locutório para se esconder de um suposto linchamento. Protegidos por Rolando Garibotti, e posteriormente escoltados pela polícia, tiveram de ser retirados rapidamente de El Chaltén e voltar a seus países. Algumas queixas na polícia foram realizadas, porém sem grandes consequências jurídicas para os dois.

Jason Jruk anunciou uma ida a El Chaltén anos mais tarde, mas foi considerado Persona Non Grata pela cidade. Após o anúncio, que foi difundido rapidamente pela internet, o canadense acabou mudando de ideia e cancelou sua viagem. Inimigos históricos de Cesari Maestri faziam parte do Piolet D’Or, tentaram indicar a Kennedy e Kruk para o prêmio. Pela falta total e irrestrita de ética na escalada, além de um desrespeito sem precedentes à população de escaladores de El Chaltén, houve um grande mal-estar entre os jurados e patrocinadores do prêmio. A confusão foi tanta que naquele ano, não houve premiação.

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