Calçados de montanha: O que prestar atenção na hora da compra?

O calçado de montanha é um assunto constante aqui na Revista Blog de Escalada. Já foram explicados muitos aspectos, mas poucos exploraram os principais detalhes na hora de comprar. Existem várias lojas físicas e virtuais, porém poucos explicam devidamente o que deve ser observado em um calçado de montanha.

O calçado de montanha, seja ele de cano alto ou baixo, é o companheiro comum de praticantes de trekking, escaladores e entusiastas da natureza. Como todo e qualquer consumidor, o objetivo é sempre conseguir gastar menos e obter o melhor equipamento possível. Mas além de procurar um bom preço, conforto e impermeabilidade, existem outras questões importantes que geralmente são esquecidas.

Pisada natural

Assim como na corrida, no trekking e atividades de montanha é necessário observar que tipo de pisada possui. Fatores biológicos e anatômicos, como a rotação dos joelhos, flexibilidade das articulações e a própria forma natural dos pés, são fatores que determinam a diferença de pisada.

São basicamente três os tipos de pisada:

  • NeutraPé se apoia uniformemente no chão. Necessitam amortecimento homogêneo.
  • Pronada – Projeta a carga corporal para a lateral externa dos pés. Necessitam calçados com motion control.
  • Supinada Pés fazem uma rotação excessiva para o lado de dentro, jogando o peso corporal para a parte interna dos pés. Necessitam calçados que possuam amortecimento na parte lateral externa.

Além disso, se o seu calçado de montanha dobra frontalmente de uma parte diferente para onde seus dedos o fazem, você terá um problema sério. Você pode detectar este defeito com relativa facilidade no ponto de venda, apoiando o dedo do pé vazio da bota e fazendo uma força moderada no calcanhar, sem exagerar para não danificar o produto.

Uma flexão atrasada em relação aos dedos geralmente está associada a calçados baratos ou a fabricantes não especializados.

Evite calçados com salto alto

Apesar de poucos considerarem, todas as botas, masculinas e femininas, possuem salto. Apesar de não se saber exatamente quem criou o salto alto, é possível encontrar uma versão primitiva nos desenhos dos murais do Egito antigo datados de 3.500 a.C.

Diferentemente do salto alto, os solados de botas de trekking, que em geral possuem uma espessura acentuada da borracha do solado para evitar a lama, possuem um tamanho de salto “padronizado”. As aspas se justificam pelos saltos das botas de trekking possuírem variações de fabricante a fabricante.

Alguns modelos de nova geração de calçados de montanha incluem salto externo (também chamado tecnicamente como suporte de calcanhar) mais de 2 a 3 centímetros acima do normal. Esta nova tendência se transforma em maiores chances de torcer o tornozelo.

Entressola

A entressola é a camada intermediária colocada entre a palmilha (que tem a responsabilidade de manter o pé na postura correta dentro do calçado) de montagem e a sola. Essa parte tem a função de garantir a dispersão dos impactos e o controle dos movimentos.

Uma entressola muito macia oferecerá um bom toque ou sensibilidade no chão em que você pisar, mas cansará a planta do pé em caminhos irregulares (como cascalhos). Uma entressola muito macia fará com que em apenas duas ou três horas sofrer vários desconforto e inflamações.

A regra prática é que se alguém pesa mais de 80 kg, pessoas que geralmente usam em trekking mochilas que excedem 10 kg (pouco mais de 13% do peso corporal) ou pratica alta montanha, deve optar por opções de entressola mais rígidas.

As informações sobre a composição da entressola e seu grau de rigidez podem ser encontradas nos sites dos melhores fabricantes. Calçados muito rígidos serão pouco indicados para trekkings considerados fáceis, mais de de grande comprimento como o Caminho de Santiago (que é recomendável que o peso de mochila não exceda 10% do peso corporal).

Onde é fabricado

Dentro da língua do calçado (que Auxilia no conforto e na flexibilidade) geralmente aparece o país de origem. Por questões de “regras trabalhistas particulares” muitas vezes são países asiáticos como China, Vietnã, Cambodja, Tailândia Taiwan e Macau ou outros países do leste.

Diretamente não há problema em um equipamento ser fabricado lá. Porém, ecologicamente falando, o impacto ambiental é grande. O transporte e fabricação de calçados em países com liberdade de imprensa inexistente, pagamento de salários a preços irrisórios e trabalho análogo à escravidão são alguns dos problemas existentes nestes países. Sobretudo na China.

Além disso, todo calçado e indumentária de montanha fabricada nestes países possui uma pegada de carbono (carbon footprint) considerável. A pegada de carbono é uma medida que calcula a emissão de carbono equivalente emitida na atmosfera por uma pessoa, atividade, evento, empresa, organização ou governo.

São exemplos de atividades que geram emissões a queima de combustíveis fósseis, como o transporte dos calçados desde a Ásia até o Brasil.

Impermeabilização

Foto: http://www.gore-tex.com

Calçados de montanha devem possuir impermeabilização e ser respiráveis. Para conseguir este tipo de propriedades, é aplicado no revestimento (sintético ou natural) uma película protetora. A mais conhecida é a GoreTex.

Os maiores e melhores fabricantes aplicam outras tecnologias similares de película impermeável como eVent, Pertex Shield, Omni-Tech, Porelle Dry e H2No. Maracas mais baratas ou não aplicam este tipo de proteção, ou anunciam “tecnologias próprias” de impermeabilização sem anunciar o nome e sua patente.

Poliuretano

Botas que ficam sem usar durante muito tempo, acabam apresentando Hidrólise de Poliuretano, um processo químico que deteriora o poliuretano (material utilizado no solado dos calçados e botas).

A hidrólise, em linhas gerais, é quebra química de uma molécula quando associada a água. O fenômeno ocorre com frequência em polímeros. Apesar de o poliuretano ser um polímero resistente, não está imune à hidrólise.

Como as botas mais baratas o solado inteiro é feito de poliuretano, este tipo de problema apresenta mais cedo que outros modelos de melhor qualidade. Portanto, deve-se observar a quantidade de vezes que irá utilizar o calçado (o ideal é usar pelo menos três vezes a cada 4 semanas) e preocupar-se com o armazenamento adequado.

Após a compra, observar se seus calçados de montanha estão sempre secos, limpos e armazenados em locais frescos e arejados. Não deixe que esteja tomando sol (observe se o mesmo acontece na loja que visitar). Altas temperaturas (provocadas pelo sol) e a umidade excessiva colaboram para a Hidrólise de Poliuretano.

There is one comment

  1. Ricardo Lanner Silveira

    Otimo artigo. Só pecou, e muito, ao falar mal da compra de artigos produzidos na China. Você prefere ver esses países pobres para sempre ? Só comprando deles daremos a chance de as pessoas ficarem mais instruídas e lutarem por um país melhor. Você sabe o que é melhor para essas pessoas mais do que eles mesmas ? Não. Então deixe-as ter uma possibilidade de vida melhor.

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