Café e montanha: Uma relação próxima que transcende os esportes

Por Sofia Arredondo

O café, aquela bebida altamente estimulante que é obtida a partir de grãos torrados e moídos do fruto do cafeeiro, está intimamente ligado à montanha por várias razões. É um produto nativo das zonas tropicais da África (mais precisamente da Etiópia) e se adaptou a outras áreas tropicais e subtropicais da América, Ásia e Oceania.

Para o seu cultivo, o café não só requer um clima quente, com um alto nível de umidade e temperaturas variando de 13°C a 21°C, mas também de uma altitude de 1.000 a 1.300 metros acima do nível do mar e chuvas moderadas, mas sem geadas.

Assim, o café é uma cultura que tem que se adaptar ao seu ambiente. Mesmo o Café Arábica (Coffea arabica), uma das espécies mais comerciais junto com o Café Robusta (Coffea canephora), pode ser cultivado em altitudes de até mais de 2.000 metros acima do nível do mar, próximo à linha do equador.

Foto: http://valdocafe.com/

Esta bebida representa um mercado global de US$ 100 bilhões de dólares. De acordo com o jornal El País, no ano passado foram consumidos mais de 9,537 milhões de quilos de café em todo o planeta. Este número faz com que o café seja um dos produtos com maior consumo global, gerando renda para mais de 25 milhões de domicílios em todo o planeta.

Porém, uma detalhe foge aos olhos dos montanhistas: O café é uma bebida que vem das montanhas e está intimamente ligada ao estilo de vida e culturas que habitam essas áreas.

Esta bebida estimulante, que representa para milhares de pessoas uma parte essencial da sua vida, mesmo no ritual da manhã para receber um novo dia, está muito ligada aos povos da montanha. Alimentou e energizou camponeses, mineiros e pecuaristas durante séculos, tal como acontece hoje com atletas e amantes de atividades outdoor.

O Brasil é o maior exportador de café no mercado mundial e ocupa a segunda posição entre os países consumidores da bebida. O país responde por um terço da produção mundial da bebida, o que o coloca como maior produtor mundial (posto que detém há mais de 150 anos).

A produção de cafés no Brasil em 2018 foi de 58,04 milhões de sacas de 60 kg. No território brasileiro, a área da cafeicultura que está em produção no ano passado foi de 1,88 milhão de hectares. Porém, se compararmos com outros países, como México, percebe-se a intimidade do café com as montanhas.

No México, por exemplo, a produção de café emprega 500.000 produtores de 14 estados e 25 diferentes grupos étnicos. Meio milhão de agricultores vivem graças ao consumo deste produto e dependem das condições climáticas necessárias das montanhas.

A Colômbia, conhecida por seus cafés suaves e de alta qualidade, colheu 13,6 milhões de sacas em 2018, inferior aos 14,2 milhões do ano anterior

Passado sombrio

Foto: Benjamin Davidson | https://www.flickr.com

A produção de café foi ligada à escravidão e violação dos direitos dos trabalhadores. Por exemplo, no Brasil descobriu-se que as empresas Nestlé e Jacobs Douwe Egberts não apenas violavam os direitos dos trabalhadores, mas também pulverizavam suas plantações com pesticidas altamente prejudiciais à saúde.

Da mesma forma, o México, por exemplo, deixou de ser o quinto exportador mundial para o décimo primeiro em 2017 e agora importa dez vezes mais do que no início do século XXI. E o problema mais sério não é a ferrugem, um fungo que afetou centenas de hectares, mas o pagamento aos produtores, que recebem no máximo 5% do preço que os consumidores finais pagam por uma xícara de café.

Um dos produtos mais consumidos no mundo, com uma das produções mais mal pagas?

Na produção de café no México, há pouca remuneração, poucos benefícios e benefícios, assim como maus-tratos dos donos das fazendas aos cafeicultores. Isso tem levado muitas pessoas a dedicar suas vidas aos curtos, deixar suas origens nas montanhas e migrar para as capitais em busca de um melhor emprego e condições de vida.

No Brasil, o maior consumidor da bebida, também possui o mesmo problema. Os números preocupantes de trabalho análogo ao de escravo coincidem com a maior safra de café da história do Brasil, segundo dados do IBGE. Dos 50 novos nomes incluídos em outubro na “lista suja” do trabalho escravo publicada pelo Ministério do Trabalho, quatro vieram de fiscalizações em fazendas de café em de Minas Gerais.

Uma bebida que depende da mudança climática

Foto: http://www.funleashed.com/

O café no Brasil é cultivado, principalmente, nas encostas íngremes da Serra da Mantiqueira, tomando boa parte do sul de Minas Gerais, além de abarcar áreas do interior paulista e do Espírito Santo. Ou seja, está muito próximo das áreas montanhosas do território brasileiro.

O café, como todas as espécies vivas do planeta, depende diretamente da mudança climática. Agora, o que está acontecendo com a sua produção, poderia determinar se em poucos anos continuaremos desfrutando de uma boa xícara desse estimulante.

Até 2008, a ferrugem , doença causada pelo fungo Hemileia vastatrix, não afetava os plantios acima de 800 metros acima do nível do mar.

No entanto, a partir deste ano o fungo começou a aparecer em plantações que estão acima de 1.000 metros acima do nível do mar. Os cientistas atribuem isso à mudança climática e ao aumento da temperatura nessas áreas.

Mas o que os montanhistas em a ver com isso?

Alastair Humphreys | https://www.flickr.com/

O setor cafeeiro realiza uma grande contribuição econômica, social e ambiental para o país. O Café Arábica que é colhido no Brasil é uma variedade ambientalmente amigável porque ocorre em áreas arborizadas e protegida do sol.

Portanto a espécie ajuda a preservar a flora, fauna, solo e o uso racional da água. Em vez disso, a variedade Café Robusta (mais resistente a pragas e mudanças climáticas) é cultivado sob luz solar direta, com maiores impactos sobre o meio ambiente, pois é necessário haver desmatamento.

Além disso este café é considerado de má qualidade e em muitos casos suas mudas são importadas de países da América Central, onde reinam ditaduras como a de Nicarágua.

Mas o que o montanhista tem a ver com isso? Muito, pois preocupar-se com a conservação de áreas de montanha é a prioridade número um de qualquer praticante.

Mas como ajudar? Como montanhistas, podemos apoiar a economia cafeeira com as seguintes ações:

  • Consumir café arábica nacional: Desta forma você irá proteger o meio ambiente e os produtores locais.
  • Beba café orgânico e apoie o comércio justo: Assim você garantirá que famílias produtoras vivam dignamente do fruto de seu trabalho e promovam alternativas de consumo que respeitem mais as pessoas e o meio ambiente.

There is one comment

  1. José

    De forma alguma o café faz bem.
    Como todo estimulante, ele gera o kickback que deprime o sistema imunológico.
    Na medicina Ayurveda (milenar) o café está na lista de alimentos negativos, ou seja, que retiram energia do sistema, assim como o alho a pimenta e a cebola.

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