Vídeo da semana: L’héritage – A importância da renovação da geração de escaladores para o esporte

O vídeo Brooke Raboutou: L’héritage – Part 1, realizado pela produtora norte-americana de vídeos Louder Than Eleven para a Petzl, traça o perfil da escaladora Brooke Raboutou, a primeira atleta norte-americana a se classificar para as Olimpíadas de Tóquio 2020. Brooke Raboutou é a pessoa mais jovem a escalar 5.14b norte-americano (11c brasileiro) e há cerca de dois anos escalou sua primeira linha de boulder V13.

Por ter se classificado para as Olimpíadas de Tóquio 2020, a jovem atleta ganhou destaque na mídia de todo o país. Pode não ter nenhuma ligação, mas a ESPN já comprou os direitos de transmissão das competições de escalada em todo território norte-americano. A exposição de Brooke Raboutou, e de outros atletas na mídia, renderá patrocínios pomposos para o esporte.

A parte 1 da série, a qual terá apenas duas partes, destaca a educação da atleta como competidora jovem e como filha de dois veteranos no circuito da Copa do Mundo. A Parte 2 acompanhará sua temporada competitiva em 2019 até o Campeonato Mundial em Hachiōji, Japão.

Como é de praxe no vídeo da semana, vamos examinar mais a fundo o conteúdo do vídeo para entender o que está sendo mostrado e as coisas que existem ao redor. Primeiramente, quem é Brooke Raboutou?

Quem é Brooke Raboutou

A atleta, de apenas 18 anos, é filha de Didier Raboutou e Robyn Erbesfield-Raboutou, ex-escaladores profissionais e que já foram campeões do mundo. Didier é tricampeão da Copa do Mundo e Robyn quatro vezes campeã da Copa do Mundo. Robyn Raboutou se aposentou da escalada competitiva em 1996 para se concentrar no ensino de escalada na academia ABC Climbing, no Colorado.

Competindo desde os sete anos de idade, Brooke Raboutou tem mais de dez anos de experiência atuando sob pressão em ambientes de competição. Raboutou ganhou destaque nas das competições depois que o estilo estático e de força bruta da escalada mudou para as exigências de equilíbrio, coordenação e tensão corporal. Concorrentes mais antigos da Copa do Mundo, como Angie Payne e Alex Johnson, tiveram que aprender anos de coordenação em suas carreiras competitivas de escalada.

Sete mulheres qualificadas para as Olimpíadas na edição extra do Campeonato Mundial combinado, Brooke ficou em 9º. Mas, apenas dois concorrentes de cada gênero por país podem se qualificar. Como o Japão tinha quatro competidoras nos sete primeiros lugares, e é garantido um escalador de cada gênero como país anfitrião dos jogos, três competidores japoneses não conseguiram se classificar, colocando Brooke em um dos sete lugares classificados. Sorte? Talvez, mas para isso a pessoa deveria ter chegado em 9º (ou seja, pelo menos se destacar nas semifinais).

O segredo

Foto: Louisa Albanese

O segredo disso tudo é que sua mãe, Robyn Erbesfield-Raboutou, já trabalha para a renovação da geração de escaladores há 20 anos. Sob sua tutela está Megan Mascarenas, Margo Hayes (a primeira mulher a encadenar 12a no mundo) e sua filha Brooke Raboutou. Tudo começou quando Robyn fundou a academia de escalada ABC Kids Climbing em Boulder, no estado norte-americano do Colorado. Na academia, o foco do treinamento é no desenvolvimento de agilidade, equilíbrio e coordenação em jovens escaladores. Muitos de seus pupilos estão escalando vias acima de 10c brasileiro.

Erbesfield-Raboutou iniciou sua carreira de treinadora em 1993, Desde o início, ela se baseou em sua própria experiência, desenvolvendo técnicas e estratégias testando-as em si mesma. Por exemplo, Robyn ensinou uma jovem Emily Harrington (cinco vezes campeã nacional de escalada esportiva dos EUA), a “dizer sim” a si mesma enquanto subia para manter uma mentalidade positiva. Mesmo 14 anos depois, Harrington ainda usa essa estratégia.

A academia se tornou o que é hoje por causa da paixão de Erbesfield-Raboutou. Hoje, Erbesfield-Raboutou tem 15 treinadores trabalhando para ela e ainda mais funcionários realizando aulas recreativas e acampamentos de verão. Ela faz um esforço para conhecer seus funcionários pelo nome e rapidamente os lembra de que está feliz por tê-los lá. Seu estilo de treinador enfatiza a comunicação e a diversão e também dedica um tempo para se comunicar com os pais das crianças.

No Brasil, há um “apagão” de novos atletas. Quase 90% dos atletas que competem hoje pelo país no cenário internacional possuem mais de 30 anos. Além disso, quase todos são os mesmos de 10 ou 12 anos atrás, com raríssimas exceções. Fosse possível fazer uma previsão otimista, a seca de talentos atual é a oportunidade de abrir um novo ciclo na escalada brasileira.

Ignorando o bom relacionamento da imprensa, a audiência de mídias relevantes que cobrem o esporte, possuindo visão megalomaníaca em torno de gastos, além de resistência em pensamentos de treinamentos modernos, não trarão a renovação da nova geração de escaladores tão cedo.

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