Conheça a história da escalada no Rio Grande do Sul: As Primeiras Escaladas Gaúchas

Da esquerda para a direita: Edgar Kittelmann, Giuseppe Gâmbaro e Luiz Cony. Ao fundo o Itacolomi com o Pico dos Corvos à esquerda.

Qualquer assunto relacionado às montanhas me encanta!

Sou particularmente interessada na história do montanhismo: as primeiras conquistas e as batalhas ao enfrentar lugares inexplorados sem o conforto e as facilidades do mundo moderno.

O meu estado, Rio Grande do Sul, também tem a sua história montanhística cheia de aventuras e seus heróis. Escrevi este artigo com base nas publicações que encontrei pela internet e também nas histórias que escuto dos meus amigos montanhistas.

Espero que gostem!

Equipamentos de escalada das décadas de 50 e 60.

Até onde eu sei não existia justificativa científica ou geopolítica para a primeiras ascensões às montanhas gaúchas.

O motivo era meramente esportivo exploratório.

As primeiras escaladas iniciaram no ano de 1950 quando Edgar Kittelmann, Sérgio Machado, Luiz Cony e seus amigos tiveram a ideia de alcançar o topo do Pico dos Corvos, localizado no conjunto de morros do Itacolomi, no município de Gravataí.

O conjunto se descata pela sua beleza: mata nativa exuberante e belas torres de arenito quase sempre envoltas por nuvens, contrastando com o concreto adjacente da região metropolitana de Porto Alegre que começava a se formar.

É bem provável que esses jovens tenham se sentido atraídos por essa paisagem singular e não é de se surpreender que eles queiram ter conhecido um pouco mais de perto esse lugar.

Conquista da via “Enferrujada no Itacolomi.

Após o reconhecimento do local, de trilhas pela mata e de muita “escalaminhada”, o grupo concluiu que técnicas de escalada em rocha precisavam ser empregadas para vencer um último trecho de arenito vertical antes do cume.

Início da conquista do Pico do Morcego em Bagé.

Muitos montanhistas gaúchos contam que foi nesse momento que o “Seu Edgar” (maneira carinhosa como Edgar Kittelman era conhecido pelos seus amigos) entrou na história, pois parece que no seu trabalho ele utilizava escadas.

Então o grupo de exploradores convidou Seu Edgar para emprestar uma escada que teria sido usada para ajudar a vencer o trecho de rocha vertical.

A partir desse momento, e com o auxílio técnico do italiano Giuseppe Gâmbaro, o grupo começou a confeccionar proteções que seriam fixadas na rocha e adquiriram cordas de sisal.

Então, em 1952, com equipamentos precários, força de vontade e espiríto de aventura o grupo alcançou o Pico dos Corvos.

Estava concluída assim a primeira via de escalada no Rio Grande do Sul, denominada via Sul e graduada como 5º.

Não satisfeitos com a primeira conquista, o grupo de montanhistas gaúchos foi explorando outras faces do Morro dos Corvos, com dificuldades técnicas maiores.

Irene conquistando a “Via da Irene (A0/7a) no Itacolomi.

Em 1960 foram conquistadas as vias Norte (5º), Diedro (5º) e Enferrujada (6º), que são vias muito repetidas até hoje e permanecem com algumas proteções originais!

Ao mesmo tempo que exploravam o Pico dos Corvos os pioneiros iniciaram conquistas por outras montanhas gaúchas.

Caçapava do Sul, Bagé e mais tarde Sapucaia do Sul e Montenegro tiveram suas montanhas exploradas antes do ano de 1977.

Cony no cume do Monte Ie-ie em Montenegro.

Assim como crescia o número de conquistas, crescia também o número de montanhistas no grupo: Norton Schereder, Roberto Capellari e Irene Fernadez também participaram de muitas conquistas importantes aqui no estado nos primeiros 25 anos do montanhismo gaúcho.

Uma conquista que entrou para a história foi a do Pico do Morcego, em Bagé.

Seu Edgar em Caçapava do Sul.

Seu Edgar em Caçapava do Sul.

O pico foi conquistado em 1976 por Norton Schereder, Irene Fernandez, Roberto Capelari e Edgar Kittelmann que abriram a “Via dos Marimbondos” (A0/5º).

E hoje, por onde andarão os heróis que abriram os caminhos das montanhas gaúchas?

Seu Edgar escalou até onde pode (ele sofria das sequelas da paralisia infantil) e depois se dedicou a canoagem que, assim como na escalada, ele mesmo confeccionava seus equipamentos.

Faleceu no dia 7 de abril de 2010, deixando muitos montanhistas gaúchos órfãos.

Cume do Itacolomi com o Morro do Pudim ao fundo.

Luiz Cony vive em Cachoeirinha e pinta lindas imagens de ambientes naturais, principalmente montanhas.

Pode ser visto aos domingos no brick da Redenção, em Porto Alegre, vendendo seus quadros. Irene formou-se em biologia e dedicou-se aos estudos da vegetação dos morros gaúchos.

Trabalhava como professora na Universidade Federal da Paraíba. Dos outros, infelizmente não tenho notícias.

A esses desbravadores nos resta agradecer por terem aberto o caminho nas montanhas gaúchas e terem nos deixado exemplo de coragem, espírito esportivo, ética e respeito pelas montanhas!

Fonte: http://inema.com.br/

http://montanhismogaucho.blogspot.com.br/

Fotos: arquivo pessoal de Edgar Kittelmann

Comente agora direto conosco

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.