As 5 escaladas no Himalaia mais contestadas da história

Por que alguns montanhistas apostam na mentira para ganharem fama? As causas do porquê alguns montanhistas mentem, tem ligação com fatores psicoemocionais complexos como ansiedade, medo, insegurança e frustração.

Dentro da filosofia, há um experimento mental criado por George Berkeley, que se encaixa muito bem no montanhismo: ‘Se uma árvore cai na floresta e ninguém está perto para ouvir, será que faz um som?”. Em um questionamento muito parecido, Albert Einstein perguntou ao amigo Niels Bohr (um dos fundadores da mecânica quântica) se ele acreditava que “a Lua não existe, se ninguém está olhando para ela”.

Na história do montanhismo, alguns escaladores afirmam ter alcançado este ou aquele pico sem que seja possível apresentar provas suficientes. Nesses casos, as escaladas contestadas costumam fazer com que muita discussão aconteça (geralmente de maneira acalorada).

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Foto: http://www.everestnepaltours.com/

Montanhistas amadores, como apresentadores de TV ou publicitários aposentados, interessados em alcançar fama com mínimo esforço, são carregados por sherpas ao topo das montanhas. Estes mesmos alpinistas sociais são os que procuram cavar um lugar na mídia não especializada todo o tempo.

A mais nova polêmica foi levantada pelo que muitos chamam de ‘helidoping’. O termo, cunhado pelo o alemão Stefan Nestler, se refere quando cordas e outros materiais são transportados para os acampamentos base junto de alguns membros da expedição, que pulam as etapas de escalada para chegar mais perto do cume.

Basicamente, consiste em usar helicópteros não só para resgates, mas para transportar material e pessoas para os acampamentos elevados. A situação vem se desenvolvendo há anos. Para quem não não acompanha a cobertura do montanhismo na Revista Blog de Escalada, somente no mês passado todos os recordes de ascensões foram quebrados no Annapurna, um dos oito mil menos ascendidos há pouco tempo.

O que é uma mentira?

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Mentir é contra os padrões morais de muitas pessoas e é tido como um “pecado” em muitas religiões. Com frequência, é mais fácil fazer as pessoas acreditarem numa grande mentira dita muitas vezes, do que numa pequena verdade dita apenas uma vez.

A prova disso vivemos em tempos de pandemia: tratamento precoce (que é uma mentira), uso da cloroquina (que é uma mentira), que COVID-19 é uma gripezinha (o que é uma mentira), que vacina causa autismo (o que é uma mentira) entre outras coisas vociferadas a todo instante pelos negacionistas.

Geralmente, mentir não é crime, e só é considerado um se causar danos ou perdas às partes. Outra possibilidade de ser considerado um crime é quando se ganha algo com a mentira. E é exatamente nesse aspecto que uma conquista no montanhismo pode, e deve, ser contestada no menor indício de mentira

Algumas mentiras são contadas de modo tão coerente, com tanta riqueza de detalhes, envolvendo emoção e proximidade com os sentimentos de quem as escuta, que é quase impossível não acreditar nelas. Assim como pescadores, montanhistas também possuem a tentação de mentir, ou amentar, suas conquistas.

Coreana mentiu chegar em Kangchenjunga?

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Na corrida internacional para ser a primeira mulher do mundo a ter escalado todos os picos com mais de 8.000 metros, a sul-coreana Oh Eun-Sun anunciou em abril de 2010 que tinha conseguido ao subir o Kangchenjunga (8.586 m). Porém, alguns detalhes de sua conquista levantou suspeitas de que poderia não ser verdade.

A foto do cume, sob a neve e em meio a um nevoeiro espesso, não permitia afirmar que estava no lugar certo. O depoimento de um sherpa apoiou a tese de sucesso, mas as dúvidas permaneceram, especialmente na equipe da a espanhola Edurne Pasaban, que também disputava o título de primeira mulher nas montanhas acima de 8.000.

Referência no assunto, Elizabeth Hawley considerou que a ascensão havia ocorrido, embora contestada. Mas no final de agosto de 2010, um montanhista encontrou a bandeira sul-coreana 50 metros abaixo do cume, bloqueada por rochas.

A única solução teria sido repetir esta subida, o que Oh Eun-Sun sempre se recusou a fazer. Um dos sherpas que a acompanhou, Dawa Wangchuk, admitiu mais tarde que o grupo parou a aproximadamente 150 metros de atingir o cume, devido a ventos fortes e reduzida visibilidade.

Assim, a Federação Alpina da Coreia do Sul declarou que ela não atingira o cume dessa montanha.

Kilian Jornet mentiu sobre o Monte Everest?

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Em maio de 2017, o catalão Kilian Jornet esteve no Tibete. No espaço de uma semana, Jornet escalou o Monte Everest (8.849 m) em tempo recorde… duas vezes.

Mas algumas inconsistências de dados em sua trilha de GPS, além dos depoimentos relatados, foram suficientes para que a dúvida seja resolvida. Dan Howitt, um jornalista norte-americano, estava particularmente interessado em todas essas inconsistências.

Para ele Jornet estava escondendo algo. Em 2020, uma mídia espanhola reabriu o caso e chegou à conclusão que as dúvidas são difíceis de desfazer. A opinião pública escolheu que o catalão não estava mentindo.

Ueli Steck mentiu sobre o Annapurna?

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O lendário montanhista suíço Ueli Steck, enquanto escalava sozinho no meio da noite na face sul do Annapurna (8.091 m), deixou cair sua câmera. Sua escalada em estilo solo foi feita em tempo recorde por uma via reconhecida por ser muito perigosa.

Por falta de uma foto que comprovasse que chegou ao cume, Steck não teve provas de sua presença no topo do Annapurna. Vários especialistas investigaram o fato, incluindo o francês Rodolphe Popier, que examinou todos os detalhes e testemunhos e apontou, na opinião dele, uma série de inconsistências.

Em um artigo para o jornal El Pais, Popier expôs suas conclusões. Mas o fato é que apenas Steck poderia elucidar cada ponto do jornalista, mas o suíço morreu em 2017 nas encostas do Nuptse.

Esloveno mentiu sobre o Lhotse?

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Tomislav “Tomo” Česen é um montanhista esloveno especialista em ascensões solo nos Alpes e no Himalaia. Česen reivindicou uma série de realizações notáveis ​​no montanhismo, mas algumas de suas alegadas ascensões frequentemente encontraram ceticismo de outras pessoas na comunidade do montanhismo.

O mais polêmico foi sua ascensão solo em 1990 do Lhotse, (8.516 m), a quarta montanha mais alta do mundo. Depois de uma ‘subida relâmpago’, Tomo Česen teria conseguido subir sozinho onde equipes inteiras falharam.

Apoiado por alguns e deprimido por outros, o esloveno foi acusado de ter usado fotos roubadas de outra expedição para ilustrar sua aventura. Em novembro do mesmo ano, uma expedição russa, levou dois meses para chegar ao topo, com um pouco de oxigênio engarrafado.

Os russos afirmam que foram os primeiros a superar a face escalada por Tomo e acham não poderia escalar a linha sozinho, principalmente o final. Os russos questionaram a única evidência fornecida por Cesen, sua foto, porque a paisagem que apresenta não seria visível do topo do Lhotse.

Poucos meses depois, o montanhista Viktor Groselj descobriu que algumas das fotos que Česen usou são suas, tiradas durante a tentativa de 1981. Alguns apoiaram Cesen, como os norte-americanos Wally Berg e Scott Fisher, mas outros permaneceram críticos, como o francês Ivano Ghirardini.

A mentira do Norte-americano sobre o Shishapangma

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O Shishapangma (8.013 m) é a 14ª montanha mais alta do mundo e a mais baixa das montanhas com mais de 8.000 metros de altitude. A montanha foi a última de mais de 8.000 metros a ser escalada.

Muito naturalmente, muitos escaladores que chegam ao Shishapangma param no que acreditam ser o cume. No entanto, esse ‘pré cume’ culmina em 8.013 metros. O cume real está a quase 2 horas de distância, em 8.027 metros.

Quando o norte-americano Ed Viesturs afirmou que alcançou o Shishapangma em 1993, ele conhecia essa distinção. Mas a crista para chegar ao cume principal é muito perigosa, pois as saliências de neve são numerosas. Viesturs voltou e reivindicou o cume.

Por ter faltado chegar ao cume principal, foi pesadamente contestado pela comunidade de montanhismo. Para completar seu desafio dos 14 picos de 8.000 metros, Viesturs escolheu então retornar a Shishapangma em 2001 e ir ao cume principal.

Uma segunda expedição para silenciar as intermináveis ​​discussões sobre a pertinência de aceitar este ‘pré cume’ como o verdadeiro cume sob o pretexto de que a diferença é de apenas 14 metros.

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