Livro da semana: “Alpinismo bisexual” – Simón Elías Barasoain

Falar de tabus em qualquer área é uma tarefa penosa. No momento que for exposto o tema, na esperança de ser discutido de maneira adulta, existirão os radicais, que irão atirar pedras e vociferar, os militantes puristas, que mais se preocupam em enfurecer e provocar os radicais e, por fim, as pessoas as quais interessam o assunto. É assim em todas áreas. Obviamente que as pessoas de cérebro pequeno, bradarão que onde quer que esteja publicado o assunto que não leem aquele veículo, mas na verdade fazem parte da audiência do veículo.

Assim é a dura realidade de uma sociedade que a cada dois passos, inevitavelmente anda um para trás. Este tipo de hábito faz com que vários temas, outrora pouco discutidos, possam ser pouco debatidos na sociedade. A sexualidade nas montanhas é um destes temas praticamente proibidos de se discutirem. O que é irônico. Pois, caso algum veículo queira angariar vários leitores, especialmente os sexualmente ativos, basta publicar um texto sobre sexo nas montanhas. Assim que publicado, há uma avalanche de leitores interessados em saber mais sobre o assunto. Muitos deles, como sempre, protegidos pelo anonimato das telas de computador.

Foto: http://www.pelayo.com

Por outro lado, quando algum veículo tentar tocar em temas sobre homossexualismo, a sensação é de que chutar uma caixa de marimbondos. Ninguém na verdade quer falar sobre o assunto, apenas despejar aquilo que tem na cabeça, como se a área de comentários em redes sociais fossem vasos sanitários. Nem mesmo quem é homossexual parece refletir com clareza de pensamento e maturidade. Porque os militantes, sempre com pouca razão no cérebro, se preocupam com brechas linguísticas publicadas em uma cartilha tosca, por uma “personalidade” interessada em reescrever o idioma. A tempo: o sufixo ISMO, na língua portuguesa em específico, não detona especificamente doença. Mas também se refere às doutrinas, práticas, filosofias e conceitos. Sendo assim há palavras com ismo que não significam doenças: montanhismo, capitalismo, comunismo, anarquismo, dadaísmo, cubismo, ostracismo, heterossesualismo, bissexualismo, etc.

Reescrever um idioma para apagar a história do passado, que nos ajuda a compreender onde estamos no presente, é prática de governos totalitaristas (também conhecidos como ditaduras, que ironicamente é quem persegue os homossexuais). Para quem quer ver como estes “ativistas” puristas, que jogam contra o próprio time, se comportam atualmente basta ler o livro “1984” do inglês George Orwell. Nele, o autor irá mostrar de maneira explícita a seja lá quem for, que fica defendendo a bandeira de reescrever um idioma para apagar uma ideia e história, como é terrível a prática. Quem defende a bobagem de reescrever um idioma, para abolir conceitos de linguística e gramática, em nome do que quer que seja, estará, infelizmente, ressuscitando o duplipensar do livro.

O livro “Alpinismo bisexual”, do escritor espanhol Simón Elías Barasoain, deve atrair os leitores por dois principais motivos. O primeiro, mais que evidente, é o título direto e bastante sugestivo. Parece um convite à leitura do tema. O segundo é a foto da capa que aparece o autor, com uma micro sunga e botas em plena montanha. Não bastasse a indumentária mínima, Simón está realizando uma posa que parece imitar algum filme pornô dos anos 1980. A obra é um conjunto de textos, independentes uns dos outros, que abordam temas muito além do esporte. Na verdade é um olhar irônico, com pitadas de humor típico espanhol, sobre as experiências em torno do esporte de escalada e montanhismo.

Segundo o próprio autor, a escalada, como puro esporte de subir montanhas ou vias de escalada, já é por si algo curioso e, guardada as devidas proporções, anedótico. Isso porque o importante era compartilhar um bivac com amigos, comer algo (que também servia de café da manhã) e fumar algum cigarro (seja legalizado ou não). Tudo isso longe da civilização e leis da sociedade. No fundo “Alpinismo bisexual” é um livro de viagens, com histórias interessantes e pouco ortodoxas. Histórias curtas, mas com uma pegada de humor e ironia incomum neste tipo de obra.

Para deleite do autor, além de tocar levemente em temas de homossexualismo, há também buscas pelo Yeti (criatura mítica dos Himalaia). Um dos fatos mais curiosos, como não poderia deixar de ser, o livro, a partir do título, convida também aos radicais e ativistas a devorá-lo para procurar deslizes e escorregões em seu texto e na abordagem. A capa, como citada, é parte deste processo de procurar provocar e, já dentro do livro, conquistar e seduzir com suas palavras e assuntos temas mais além de ser algo “certo” ou “errado”, pois, afinal, na montanha tudo aquilo que conhecemos como sociedade, ética e conceitos foi deixado para trás.

Ironicamente, os leitores irão descobrir, ao terminar “Alpinismo bisexual”, que o título é parte das ironias e do humor do autor. Isso porque tudo o que é lido é resultado de sua paixão como jornalista, tendo escrito livros técnicos e também relatos de viagens, com sua vida de montanhista ativo e apaixonado. O próprio autor teve de explicar em várias entrevistas, sobretudo a meios de comunicação de massa (conhecido como mainstream) a ideia do livro. Resta ao leitor descobrir e, claro, desnudar-se de todo ativismo e preconceito a respeito de montanhismo e de tudo que cerca a atividade.

Ficha Técnica

  • Título: Alpinismo bisexual
  • Autor: Simón Elías Barasoain
  • Edição:
  • Ano: 2014
  • Número de páginas: 172
  • Editora: Pepiras de Calabaza

As primeiras páginas do livro podem ser apreciadas neste link: http://www.pepitas.net

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