Agarras de escalada de bioplásticos: Chegou a vez dos fabricantes abraçarem a sustentabilidade?

A fabricação de agarras de escalada, pelo menos no Brasil, ainda é uma atividade pouco desenvolvida. Há poucos fabricantes e poucas inovações no mercado, se comparadas aos fabricantes europeus.

Na Europa, considerado o epicentro do esporte no mundo, a realidade já é outra. Também no continente europeu existe uma preocupação muito grande com questões como sustentabilidade e mudanças climáticas.

Já no Brasil esta realidade começa a também mudar. Em 2015, a consultoria PwC desenvolveu uma pesquisa que identificou que 95% dos brasileiros estão mais inclinados a comprar um produto ou serviço relacionado a um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, desenvolvidos pela ONU.

Foto: Jackie Hueftle | https://spotsettingblog.wordpress.com

Desde que a escalada esportiva foi promovida a esporte olímpico, os fabricantes de muros e agarras de escalada nunca tiveram tanta demanda e o negócio prosperou como nunca. Sobre a possibilidade de que agarras de escalada pudessem ser recicladas, a Revista Blog de Escalada foi o único veícuulo outdoor do Brasil que fez uma reportagem sobre o assunto.

O motivo da preocupação com o meio ambiente é que as agarras de escalada são feitas de resina de poliéster ou de poliuretano. Ou seja, caso sejam despejadas no lixo, quando são descartadas, elas podem nem se deteriorar, ficando poluindo o planeta.

Os plásticos são materiais empregados em quase tudo o que o ser humano utiliza no cotidiano, não somente nas academias de escalada. As agarras de escalada são feitas de materiais derivados de petróleo, fonte não renovável de matéria-prima e demoram centenas de anos para se decompor na natureza.

Em geral, os plásticos levam de 200 a 600 anos para se decompor completamente na natureza.

Mas qual seria a solução para que a escalada esportiva, um esporte que tem ligação histórica com o meio ambiente e as montanhas, tornar-se mais ecológico?

A resposta a esta pergunta pode estar ligada ao uso de bioplásticos.

O uso de bioplásticos

Os bioplásticos, ou biopolímeros, não são apenas os plásticos biodegradáveis e compostáveis feitos de materiais naturais. O nome “bioplástico” também se refere a plásticos feitos a partir de fontes não renováveis, como o petróleo, mas que se biodegradam, e a plásticos produzidos com base em fontes renováveis, como as plantas, mas que não se biodegradam.

Os bioplásticos representam hoje menos de 1% dos 359 milhões de toneladas de plásticos fabricados anualmente no mundo. Segundo a associação European Bioplastics, que representa os interesses da indústria. Mas a produção cresce ano a ano.

O conceito adotado pela European Bioplastics para a classificação dos bioplásticos abrange duas vertentes: uma com relação à origem do material e outra associada à sua degradação. Portanto, um material é considerado bioplástico se for parcial ou totalmente de fonte renovável, ou seja, derivado de biomassa, como milho, cana-de-açúcar, celulose etc.

Alguns tipos de bioplástico são:

  • Bioplástico de poliamida (PA) – produzido a partir do óleo de rícino
  • Bioplástico de polibutileno tereftalato adipato (PBAT) – produzidos a partir de petróleo, mas que é biodegradável e compostável.
  • Bioplástico de polibutilenosuccinato (PBS) – é feito a partir de fontes renováveis e ajuda a reduzir a pegada de carbono.
  • Bioplástico de poliácido láctico (PLA) – produzido a partir de bactérias.
  • Bioplástico de polihidroxialcanoato (PHA) – produzidos por cepas específicas de bactérias.
  • Bioplástico de polietileno furanoato (PEF) – feito com matéria-prima 100% biológica
  • Bioplástico drop-in – feitos total ou parcialmente de base biológica, mas não são biodegradáveis;
  • Bioplásticos de algas – feito a partir de biomassa de algas
  • Bioplástico de casca de camarão

Agarras de escalada de bioplásticos

Inegavelmente, os bioplásticos possuem enorme potencial de serem alternativas mais limpas ao plástico convencional. Mas é importante sabe que também produzem impactos no ambiente durante sua produção e não são garantia de biodegradabilidade ou reciclagem.

Conforme descrito acima, bioplásticos não necessariamente são biodegradáveis. Isso porque dependendo da matéria-prima utilizada, como milho e outros grãos, é necessário também investigar qual o impacto disso no cultivo.

Tratando de agarras de escalada com bioplásticos, é preciso que academias e proprietários de muros de escalada reduzam o consumo de plásticos, aumente a reutilização do material e a sua reciclagem. Ou seja, ações vão ao encontro do que prega a economia circular.

Mas já existem empresas de agarras de escalada que estão investindo no uso de bioplásticos? Sim, existem.

Na verdade, após extensa pesquisa, existe apenas uma. A espanhola Saito Climbing Holds, que lançou recentemente uma coleção chamada Aqua Series, a qual utiliza em sua composição 70% resina de bioplástico e aditivos naturais. De acordo com o fabricante há uma redução de 20 a 25 kg no produto final.

Outras empresas, como as britânicas Banana Fingers e Deadpoint Climbing, investiram em bioplásticos para fabricar escovas de agarras de escalada.

Por outro lado, os grandes produtores de agarras de escalada europeus, como a Euroholds, Holdtopia, KMZ, nem mesmo a própria Federação Internacional de Escalada Esportiva (IFSC), ainda não se posicionaram sobre o uso de bioplásticos nas agarras de competição.

Nos EUA, alunos formados em sistemas biorenováveis ​​do Penn State’s College of Agricultural Sciences trabalharam viram a necessidade de tornar a escalada mais ecológica e criaram uma agarra de escalada totalmente biológica. Eles perceberam que uma agarra híbrida, usando uma base de madeira e outro material que pudesse se prender à madeira seria mais sustentável.

Os pesquisadores norte-americanos experimentaram madeira misturada com EcoPoxy e também com PLA (ácido polilático derivado do milho). Ao que parece, o resultado agradou e está sendo feito experimentos para atestar a sua resistência e, se possível, patentear a descoberta.

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