Afinal de onde vem a palavra “Dirtbag” e por que montanhistas se identificam com ela?

Há algum tempo os filmes outdoor foram tratados com certo preconceito e exibidos com desleixo em exibições gratuitas em parques e espaços públicos. Quem não possui contato com o público que pratica de verdade esportes de natureza, sabe como é importante para esta comunidade a exibição de suas histórias nas salas do cinema. Para eles é uma sensação de conquista e não de uma espécie de “esmola cultural” como vinha acontecendo.

O documentário “Dirtbag” foi considerado pelo público como um dos melhores filmes outdoor de 2018, rivalizando com verdadeiros blockbusters “The Dawn Wall” e o ultra premiado “Free Solo“. “Dirtbag” foi exibido nos cinemas no Brasil, em uma sessão única, que lotou o cinema, e consolidou a volta dos documentários de aventura e montanhismo de volta aos cinemas.

Atualmente os montanhistas de quase todo o mundo adotaram o termo dirtbag não somente como um adjetivo, mas também como uma espécie de estilo de vida. Mas se traduzir ao pé da letra o termo dirtbag, significa “saco sujo”. Por que então um termo que soa tão pejorativo foi adotado por escaladores e montanhistas do mundo todo?

Buscando o termo no Google, a definição é “Uma pessoa muito desleixada ou desagradável”. Desleixada pode até ser, pois quem escala e está sempre na montanha não vive para seguir a moda urbana. Mas e “desagradável”?

Na cultura da montanha, os dirtbag são sempre dignos do mesmo respeito que qualquer outra pessoa. O motivo todos conhecem: não é o melhor equipamento que faz com que alguém se destaque no esporte, mas sua atitude e dedicação à prática. Portanto, alguém desleixado não necessariamente significa alguém sem habilidades técnicas.

Primeira referência na mídia

A primeira referência da mídia à palavra dirtbag é de meados da década de 1970, quando a atriz Claudine Longet estava em julgamento pelo assassinato de Vladimir “Spider” Sabich em Aspen, Colorado. Sabich era um esquiador profissional de uma pequena cidade nos arredores de Lake Tahoe, considerado um dos melhores técnicos de sua geração.

Longet era uma atriz francesa, cantora e dançarina cujo rosto estava espalhado pela tela prateada na década de 1960. Claudine Longet deu um tiro no estômago de Sabich com uma pistola de imitação da Segunda Guerra Mundial enquanto Sabich tomava banho em sua casa em Aspen, Colorado. O esquiador, que tinha 31 anos, sangrou até morrer, antes que uma ambulância pudesse chegar.

O esquiador ganhava mais de US$ 200.000 por ano e andava ostentando roupas e equipamentos em Aspen. Conforme relatado no Mansfield News-Journal, Sabich costumava dizer aos amigos: “Sou apenas um dirtbag. Quem estou tentando enganar?”. Claudine Longet detestava o termo.

No filme “Valley Uprising”, o fundador da marca de roupas Patagônia, Yvon Chouinard, diz alegremente: “é claro, éramos todos dirtbags“, referindo-se a um grupo de escaladores pioneiros no Vale de Yosemite, no início dos anos 1960. Nomes como Yvon Chouinard ou Fred Beckey vêm à mente como alguns dos “verdadeiros” dirtbags originais.

Ivon Choinard iniciando seu negócio que mais tarde seria a Patagonia | Foto: Glenn Denny – http://www.samh.net

Atualmente, os dicionários de termos coloquiais definem um dirtbag como uma pessoa comprometida com um determinado estilo de vida (geralmente extremo), a ponto de abandonar o emprego e outras normas da sociedade, para perseguir esse estilo de vida.

Dirtbags podem ser distinguidos dos hippies pelo fato de que possuem uma razão específica para viver em comunidade e geralmente de forma não higiênica. Os dirtbags estão procurando passar todos os momentos buscando seu estilo de vida.

Por que os montanhistas se identificam com o termo?

Os próprios dicionários também não se preocupam em dar exemplos, considerando que dirtbags e dirtbagging são as comunidades de escaladores que podem ser encontrados em qualquer um dos principais áreas de escalada da América do Norte: Squamish (Canadá), Yosemite e Joshua Tree (EUA).

Hoje, as principais características definidoras de um dirtbag são:

Falta de emprego formal ou tradicional: poderia ser um trabalho sazonal, mas com mais frequência é algum tipo de empreendimento on-line, seja uma atividade paralela, como freelancer ou algo totalmente diferente. Dirtbags não são ricos, mas ainda podem encontrar maneiras de viajar e fazer o que amam, mesmo com pouco dinheiro. Importante: Youtubers são posers de dirtbags

Independente: Um dirtbag nunca fica vivendo às custas dos outros. Sabe o valor do trabalho e da independência social. Nunca há, portanto nenhuma namorada (o) ou família sustentando-o. Todo dirtbag possui, antes de tudo, caráter.

Habitação alternativa: pode estar morando em um caminhão ou van, pode ser acampar em algum lugar que o deixe fazer isso (e que não seja ilegal).

Seminômade: Dirtbags sempre tenderam a se mover com a estação, e isso ainda é verdade hoje, mas eles podem se estabelecer em um local específico por alguns meses ou mais, mas geralmente não têm uma base permanente.

Minimalismo: A existência seminômade exige um estilo de vida minimalista e, portanto, um nível reduzido de consumismo, permitindo que viajem com preços acessíveis por longos períodos de tempo. O principal é comprar menos e fazer mais.

Amor pela natureza: pode ser a peça que define os Dirtbags de outros estilos de vida semelhantes. Geralmente significa estar perto da natureza, nas montanhas, na trilha, etc.

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