Seguindo o modelo relacional de capacidade versus demanda, cada praticante de escalada têm uma capacidade diferente e podemos simplificar esse conceito como a quantidade de carga (demanda) que o sistema musculoesquelético recebe mantendo a integridade.
Se um atleta, amador ou profissional, é submetido a situações que sobrecarregam o sistema musculoesquelético, ele pode ter um risco aumentado de lesão. Essas situações são variadas e alguns exemplos são o aumento da graduação de dificuldade da escalada rapidamente, aumento do ritmo de treino (Em 2007, JONES et. al. registrou em 201 escaladores 35% de lesões em dedos, 25% em mãos e 20% em cotovelos por excesso do volume de escalada!) e alterações biomecânicas, tais como: hipomobilidades, instabilidades e descontrole do movimento. Essas situações são classificadas como fatores de lesão intrínsecos e são modificáveis com o acompanhamento fisioterapêutico.
As lesões mais comuns citadas em estudos científicos são em tornozelos, mãos e dedos, coluna lombar e cotovelos. Exceto por fatores de lesão extrínsecos como quedas e traumas as lesões podem ter seu risco diminuído.
Além das lesões “de primeira viagem”, grande parte dos escaladores apresentam recidivas de lesão em membros superiores por não realizar a reabilitação e repouso.
O primeiro passo é realizar uma avaliação cinético-funcional para avaliar os fatores de risco. Nessa avaliação* (feita por um fisioterapeuta – procure sempre um especializado e que tenha experiência com escaladores) são realizados vários testes, sendo os principais para:
- Verificar a mobilidade de segmentos corporais específicos
- Analisar o controle de movimento e descobrir entre segmentos onde está a flexibilidade relativa (movimenta mais) e a rigidez relativa (movimenta menos)
- Analisar a cinemática (movimento) funcional durante a escalada
- Testar a estabilidade de músculos estabilizadores (os que estabilizam as articulações) e força de músculos mobilizadores (os que movimentam a articulação)
Depois de realizar a avaliação o atleta seguirá um programa de prevenção específico para as alterações encontradas na avaliação e realizará um acompanhamento com seu fisioterapeuta para verificar a evolução. O acompanhamento depende do cliente e do fisioterapeuta*, então, cada caso é um caso, mas é importante definir os objetivos a curto, médio e longo prazo.
Reduzindo os fatores de risco intrínsecos o escalador aumenta sua capacidade e fica menos exposto a sobrecargas. Evitando as sobrecargas existe melhora da recuperação pós-escalada, desempenho da escalada e redução da fadiga muscular.
Com o acompanhamento fisioterapêutico além da prevenção, há também melhora da performance de forma indireta!
*Vale lembrar que cada fisioterapeuta tem uma forma de avaliar e um raciocínio clínico para prevenir e reabilitar.*
Referências
- · Jones G.; Asghar A.; J. D. The epidemiology of rock-climbing injuries. Br J Sports Med, 2008, 42:773–778.
- · Woollings K. Y.; McKay D. C.; Emery A. C. Risk factors for injury in sport climbing and bouldering: a systematic review of the literature. Br J Sports Med 2015;0:1–7.
- · Jones G.; Llewellyn D.; Johnson I. M. Previous injury as a risk factor for reinjury in rock climbing: a secondary analysis of data from a retrospective cross-sectional cohort survey of active rock climbers. BMJ Open Sport Exerc Med 2015;0:e000031.
Graduado em Fisioterapia – Uni-BH, Pós graduando em Dor, formado em Quiropraxia, Kinetic Control – LV.1, Podoposturologia, Dry Needling e clínica da dor, KT1/KT2. Membro da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor.
Possui experiência em avaliação cinético-funcional, prevenção e tratamento de atletas de escalada, Crossfit e corrida.