Análise completa do acidente na Gruta do Baú em Pedro Leopoldo-MG

Por Christian Costa

Escalador Paulo Sérgio na via Rayovac | Foto: Christian Costa

Com a reabertura da Gruta do Baú em Pedro Leopoldo-MG no ano de 2016 para os escaladores um problema surgiu: muitas das vias do local possuem mais de 20 anos de conquista e algumas proteções se encontravam bastante deterioradas devido a ação de tempo e outros fatores externos.

Com o intuito de proporcionar uma escalada de qualidade e sobretudo segura, um pequeno grupo de escaladores locais está realizando, de maneira gradativa, a substituição das proteções e duplicando os top ropes. Todo este trabalho de manutenção está sendo feito de forma voluntária e, na maioria das vezes, os custos são arcados pelos próprios escaladores que estão fazendo o serviço.

Apesar destas ações nas proteções de escalada na Gruta do Baú, em 11 de fevereiro de 2018 houve um incidente em uma das vias do local. O escalador, que costurou a primeira proteção com um clip stick, caiu entre a primeira e a segunda proteção. Com impacto a primeira chapeleta saiu da parede junto com a porca.

Felizmente o escalador não se feriu, mesmo caindo direto ao solo.

A via “Rayovac”, graduada em 8c brasileiro (7b+ francês) e localizada no Setor Onda de Calcário, já havia recebido uma intervenção da equipe de manutenção em 2017. Na ocasião foi substituído o grampo antigo, que se encontrava bastante danificado.

No lugar da proteção foi colocado um parabolt da marca Âncora e chapeleta J. Gariglio em um novo furo. O furo antigo foi tampado com durepoxi (plástico termofixo que se endurece quando se mistura com um agente catalisador ou “endurecedor”).

Seguem os levantamento dos fatos apurados, com o objetivo de evitar problemas futuros:

  • Em conversa com o escalador que vivenciou o acidente, foi constatado que a chapeleta estava girando no momento da passagem da costura. Este giro indica que a porca da proteção já se encontrava frouxa.
  • Em inspeção física no local, foi constatado que o parabolt instalado não ficou totalmente perpendicular à superfície da rocha, que se mostrava negativa e bastante irregular no local
  • O parabolt apresentava desgaste nos últimos fios da rosca. A chapeleta e a porca utilizada não apresentavam danos estruturais aparentes.

Conclusões

Foto: Christian Costa

Durante a instalação da proteção a porca ofereceu o aperto necessário e a chapeleta não apresentava sinal de que iria girar. Acredita-se que com algumas quedas a chapeleta, provavelmente, girou e junto com ela a porca, fazendo com que sobrassem poucos, ou nenhum, fio de rosca entre a porca e a ponta do parabolt.

Portanto, com a queda do escalador a porca, que estava quase saindo, se desprendeu do parabolt levando ao desprendimento da chapeleta, causando o dano nos fios finais do parabolt.

A causa do incidente, portanto, seria a chapeleta ter girado após a instalação. Há ainda um fator contribuinte: O escalador não ter observado que a chapeleta estava girando e que a porca poderia estar frouxa.

Como é de conhecimento geral, para evitar incidentes/acidentes futuros, é primordial que a instalação da chapeleta seja feita segundo os critérios definidos. Um destes critérios é que a chapeleta deva estar totalmente perpendicular à rocha. Para evitar o ocorrido podem ser utilizadas porcas autotravantes, também conhecidas como travantes, ou também colas químicas, para impedir o giro da porca no parabolt.

Na Europa, em países como França e Espanha, nas áreas de escalada esportiva, devido ao grande número de quedas nas proteções, é muito comum as porcas estarem presas nos parabolts. Esta prática é exatamente para evitar o giro das proteções.

Importante salientar que em praticamente todas as áreas de escalada em calcário existem chapeletas que estão girando, por isto, mais importante que a manutenção é se lembrar sempre que a escalada é um esporte de risco, e que cabe ao escalador avaliar o estado das proteções e, em caso de dúvidas, não escalar a via e avisar a administração do local.

Christian Costa é escalador há 19 anos e autor do guia de Escalada do Baú. É também membro do grupo de trabalho da Gruta do Baú de Pedro Leopoldo-MG

There are 4 comments

  1. Âncora Sistemas de Fixação

    Olá David,
    Agradecemos o seu comentário.
    Nosso chumbador mecânico PBA (parabolt) é um chumbador mecânico controlado por torque composto por parafuso, expansor, presilha, porca e arruela lisa.
    Nossas roscas são produzidas conforme norma padrão.
    É necessário analisar o modo que está sendo aplicado o chumbador ou seja qual torque está sendo utilizado no aperto do chumbador, pois pode influenciar na fixação do mesmo sobre a base aplicada.
    Em caso de cargas de choque e cargas dinâmicas, de fato as porcas podem soltar com o tempo, sendo assim necessário o uso de outros produtos para travamento das porcas, outra opção é utilizar porca e contra porca fazendo-se necessário utilizar um chumbador de comprimento maior.
    Ficamos a total disposição para qualquer esclarecimento prático e técnico sobre a utilização de nossos chumbadores.

  2. David rocha

    Aqui no anhangava (Paraná) ja virou pratica comum levar uma chave 14 p apertar as porcas. Estes bolts da ancora estão soltando as porcas com facilidade. Então aqui ja estamos implementando o uso de “cola” torque nas porcas. O uso de contra porcas tambem é uma opção mas menos elegante e nem sempre há espaço p uma segunda porca.
    Valia a pena o fabricante (ancora) rever o projeto do passo de rosca. Há passos que dificultam na hora de soltar o que seria mais interessante para a escalada.

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