A intenção inflexível complementa o aprendizado?

Na última lição nós vimos a importância de ter uma intenção inflexível para conseguir realizar grandes objetivos. À primeira vista pode parecer que ter esse tipo de intenção diminui nosso aprendizado, assim como ter uma forma inflexível de pensar pode ser limitante para nós.

Foto: http://warriorsway.com/

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Se a intenção inflexível faz isso, então não é um conceito que é parte do Caminho do Guerreiro. A intenção inflexível precisa complementar o processo de aprendizado.

A intenção ocorre depois do pensamento e antes do fazer; depois da preparação e antes da ação. A intenção é parte da transição entre elas; é parte do processo de tomada de decisão. Nós decidimos agir em um plano que preparamos; decidimos fazer com o corpo o que pensamos com a mente.

Nos deslocamos da preparação para a ação, da mente para o corpo, do pensar para o fazer. O processo de transição precisa quebrar essas duas formas distintas de usar nossa atenção. Nós decidimos romper a fase da preparação, mente e pensamento, e nos deslocar para a ação, o corpo e o fazer.

A última parte do processo de transição é estabelecer uma intenção naquilo que iremos focar nossa atenção durante a ação. Precisamos decidir como escolhemos focar nossa atenção. Isso é a intenção: atenção focada na direção de uma escolha ou decisão. Os guerreiros escolhem focar sua atenção em processos que irão ocorrer durante a ação.

Essa é uma intenção de processo, não uma intenção de alcançar um objetivo ou um resultado final. Essa intenção de processo é o que é inflexível. É assim que os guerreiros persistem.

Mas, uma intenção assim diminui ou evita o aprendizado? O processo de aprendizagem, por definição, requer a modificação de nosso conhecimento atual ao invés de sua validação. Precisamos estar receptivos a qualquer informação que se apresenta para que possamos aprender.

Foto: Andre Kiryanov | http://dreaminvertical.wordpress.com

Foto: Andre Kiryanov | http://dreaminvertical.wordpress.com

Nós também não sabemos o que precisamos aprender quando olhamos para o futuro de nossa perspectiva atual.

Tome como exemplo a malhação de uma via visando uma ascensão de cadena. Precisamos aprender a via trabalhando as sequencias de movimentos e outros detalhes. Fazer isto requer a modificação de nosso conhecimento atual.

Entramos no processo de trabalhar em uma via, com uma concepção inicial de como serão as sequências corporais, mas, ao trabalhar nela, modificamos essa concepção inicial. “Modificar” é a palavra chave aqui. Não estamos validando nossa concepção inicial.

Nós também nos engajamos neste processo sabendo que não podemos saber o que precisamos aprender desde nossa perspectiva atual. Isso seria como saber o que precisamos aprender para fazer Cálculo antes de começar a estudar a matéria. Não podemos saber o que precisamos aprender antes de aprendê-lo. Portanto, a escalada nos ensina o que precisamos aprender.

Podemos atingir um platô e não ser capazes de encadenar uma via. Não podemos saber o que precisamos aprender para superar esse platô desde nossa perspectiva atual. Devemos continuar nos engajando e perceber o que a escalada está revelando para nós.

A escalada está nos revelando que precisamos mudar uma sequência de movimentos, melhorar a respiração, ter melhor contato visual, ou desapegar do sucesso? A escalada revela o que está distraindo nossa atenção do momento. Simplesmente devemos colocar nossa atenção no momento para estar mais atentos ao que a está distraindo.

Quando trabalhamos em uma via, nossa intenção é aplicar o processo de como mover o corpo através de várias sequências até acharmos a melhor. Quando conseguimos fazer isso nós aplicamos os processos de respiração e relaxamento para refinar a forma como usamos nossa energia.

Também refinamos qualquer distração mental de atenção que a mente cria sobre o sucesso. A intenção inflexível, neste caso, significa que estamos inflexíveis em nossa intenção de mover nossos corpos, respirar e relaxar, os mesmos processos nos quais precisamos focar nossa atençao, quando engajamos em uma ação.

Resumindo, estamos inflexíveis em nossa intenção de manter nossa atenção em processos que ocorrem quando estamos em ação, para que ela esteja focada no momento.

Foto:  Jen Olson | http://climberpassionate.com/

Foto: Jen Olson | http://climberpassionate.com/

Uma intenção inflexível de processo pega uma parte de informação e a expande em várias possibilidades. Uma parte dessa informação é “trabalhar uma via”. Nossa intenção é trabalhar na via para que possamos aprender tudo que é preciso para encadená-la. Somos inflexíveis em nossa intenção de focar nos processos: trabalhar as sequências, refinar a respiração, relaxar ou outras distrações mentais.

Em outras palavras, nos mudamos: nossa sequência corporal, nossa respiração, nosso relaxamento, qualquer distração mental. Fazer isso nos modifica, para que possamos aprender, e portanto complementa o processo de aprendizado. Nós pegamos aquela pequena porção de informação, trabalhar uma vi, e estamos então inflexíveis na busca  de possibilidades de aprender.

Dica Prática: A escalada te ensinará.

Você provavelmente já teve a experiência de uma via que te impede de ter sucesso. Algo está faltando que você ainda precisa aprender. O que será?

Você não sabe porque você ainda não aprendeu. Portanto, não foque em pensar que você sabe. Pelo contrário, foque no que a escalada tem para te ensinar.

Engaje-se na escalada ao focar sua atenção no momento, especialmente no momento da sua queda. O que contribuiu para a queda? Foi uma sequência incorreta de movimentos que te fez usar energia demais? Foi uma respiração falha, estar tenso, ou focar no sucesso?

Mantenha sua atenção fora da mente e focada no corpo.

Mantenha sua atenção fora do pensar e focada nas ações somáticas do corpo, como o movimento, a respiração e o relaxamento. A escalada revelará o que está faltando na forma como você aplica estes processos.

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O livro “The Rock Warrior Way – Mental Training for Climbing” está à venda traduzido para a língua portuguesa no Brasil em: http://www.companhiadaescalada.com.br/

Tradução do original em inglês: Gabriel Veloso

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