A importância da biodiversidade da Serra da Mantiqueira para o mundo

A Serra da Mantiqueira vai além de belezas naturais. Seus atributos são funcionais e essenciais à vida. O complexo geológico da Mantiqueira possui características determinantes, uma delas são as trincas em suas rochas. Nas pedras expostas, facilmente, é possível notar essas fraturas. E isso não ocorre apenas dentro das montanhas.

Quando chove, a água se infiltra rapidamente, como se fosse uma caixa furada. Alguns especialistas, se referem a Mantiqueira como aquífero fraturado. Essa característica confere à água da Mantiqueira uma qualidade única que constantemente é renovada. Por outro lado, esse depósito se esvazia rápido.

Foto: Thayná de Castro

Infelizmente o cenário é crítico. Por ser detentora de tanta riqueza, a Mantiqueira sofre uma degradação alarmante e precisa de atenção e cuidados o quanto antes. A expansão da economia no Brasil, e os 40% de aumento das terras agrícolas na próxima década, vão representar uma séria ameaça para os restantes 10% da Mata Atlântica.

Além disso, ao conhecer sua diversidade de espécies endêmicas, podemos entender ainda mais profundamente o risco que esta biodiversidade está correndo. Vamos lá!

A Fauna e Flora local e os Campos de Altitude

As araucárias do sudeste estão restritas à Serra da Mantiqueira. Segundo os dados apurados pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente foram identificadas 352 espécies de plantas, das quais 13% endêmicas, ou seja, típicas da região.

Na fauna, destacam-se queixadas, veado-campeiro, lobos guará, esquilos, jaguatiricas e a onça parda, além de ouriços, macacos mono carvoeiros, pacas, e aves como gaviões, arapongas, inhambus, jaçanãs, tucanos, canários, maritacas, pica-paus e gralhas azuis. Foram catalogadas 178 espécies de aves e, infelizmente, muitas ameaçadas de extinção, como o papagaio-de-peito roxo, uma raridade da Mantiqueira.

O macaco muriqui e o anfíbio melanophryniscus moreirae, também conhecido como Sapo-flamenguinho, ícone do Parque Nacional de Itatiaia, são espécies endêmicas de muito destaque desta região também.

Foto: Juliane Januncio

“Diversas espécies associadas às matas de araucárias e aos campos de altitude só ocorrem nessas áreas mais altas da Mantiqueira, sendo estas os únicos refúgios desta fauna em nosso Estado. Muitas dessas populações são os remanescentes de grupos de animais do sul do Brasil e dos Andes, um resquício isolado de um passado remoto quando as temperaturas eram mais baixas em toda a América do Sul”, afirmou André Victor Lucci Freitas, professor da Unicamp e membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP.

Além disso, 20 das 55 espécies de borboletas do Brasil ameaçadas de extinção encontram refúgio na Serra da Mantiqueira. Muitas dessas espécies possuem populações pequenas e frágeis, sendo facilmente eliminadas quando ocorre perturbação antrópica, como: queimadas constantes, plantio de pinheiros e eucaliptos e poluição dos corpos d’água.

Dentro disso, é possível perceber que os ambientes de encostas e topos de serras e montanhas vêm funcionando, no curso da história evolutiva, como verdadeiros berçários de espécies.

Foto: Juliane Januncio

E a água nessa história?

Além de abrigar um grande número de espécies animais e vegetais endêmicas, muitas delas ameaçadas de extinção, os remanescentes florestais da Serra da Mantiqueira garantem grande parte da água que abastece as populações e as indústrias das cidades do Vale do Paraíba (no leste do estado de São Paulo e no sul do estado do Rio de Janeiro) e da capital fluminense.

Em suas vertentes, encostas e vales, a região apresenta milhares de nascentes. A sua bacia hidrográfica possui 54 importantes córregos e riachos que serpenteiam as montanhas em direção às bacias do Paraíba do Sul e do Rio Grande, em Minas Gerais, um dos formadores do rio Paraná e da bacia do rio da Prata.

Os pontos culminantes da Mata Atlântica são encontrados na Serra da Mantiqueira, onde podemos observar uma fauna particular que resulta de um grau de endemismos mais elevado que o das áreas vizinhas, em altitudes menores. Assim, a conservação de remanescentes de Mata Atlântica é urgente e, dentre estas áreas, aquelas localizadas nas altitudes mais elevadas, como na própria Serra da Mantiqueira, devem ser priorizadas.

Como reduzir estes impactos ambientais?

Sabendo de tudo isso, constatamos que a degradação desses mananciais poderia comprometer tanto a quantidade como a qualidade da água para os municípios da região. Além disso, sabemos hoje que as nascentes e a floresta têm papel fundamental na qualidade da água. E, de acordo com Joly, um dos organizadores do movimento Mantiqueira Viva, “uma das principais ameaças aos remanescentes de Mata Atlântica na região da Mantiqueira é a expansão da mineração de bauxita para a produção de alumínio e de outros minerais, principalmente perto da divisa do Rio de Janeiro com os municípios de Lavrinhas e Queluz”.

O pesquisador também menciona a extração ilegal de madeira, palmito, bromélias e orquídeas; a caça de espécies ameaçadas de extinção, como o macuco (Tinamus solitarius), a araponga (Procnias nudicollis), o sabiá-cica (Triclaria malachitacea), o muriqui (Brachyteles arachnoides) e o bugio (Alouatta guariba); a especulação imobiliária; e o descarte inadequado de lixo urbano e de resíduos da mineração.

Em 2006, o Ministério do Meio Ambiente criou o Mosaico Mantiqueira, uma rede de unidades de conservação públicas e privadas, para melhorar a conservação da biodiversidade e o bem-estar local, formando assim o Mosaico Serra da Mantiqueira, que abrange uma enorme área dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

O grande desafio é como preservar as matas remanescentes do processo de ocupação e, ao mesmo tempo, permitir o desenvolvimento dos municípios encravados em suas montanhas.

O futuro da cadeia de montanhas mais proeminentes do Brasil como um espaço natural agora depende da implementação acelerada da rede de conservação pelo Governo Federal para que o Mosaico Mantiqueira possa promover a conservação da biodiversidade e gestão ambiental através do uso sustentável da terra e acesso do cidadão.

Para a Secretaria do Meio Ambiente e também para os municípios, a adoção de um plano gestor que fixe regras claras sobre como usar bem o potencial da serra, sem degradar a natureza, é fundamental para a conservação da Mantiqueira.

Enquanto isso, o que você pode fazer para ajudar na proteção dessas regiões?

Aqui vai algumas dicas de ouro para quem vai visitar os ambientes naturais ou de montanhas da Mantiqueira – mas serve para quaisquer ambientes naturais, na verdade.

  • Não retire plantas e pequenos animais do ambiente. Muitas espécies já se encontram em extinção, como citamos lá em cima.
  • Procure também não pisar na vegetação e nem abrir trilhas alternativas, pois muitos se perdem por essa prática, além de degradar mais o solo e mata auxiliar, impulsionando novas áreas com a erosão.
  • Não alimente animais silvestres. Nossos alimentos, em sua maioria, não fazem bem a eles, podendo ocasionar doenças ou até epidemias entre eles. Além disso, eles podem se habituar a depender do homem para se alimentar.
  • Utilize produtos biodegradáveis para evitar a contaminação da água potável existente no local.
  • Leve todo o seu lixo embora para a cidade, inclusive suas fezes, para isso, conheça o Shit Tube.
  • Urine a, no mínimo, 300 metros das fontes de água potável.

Foto: Leonardo Fernandes

E, por fim, confira o Manual Completo de Comportamento na Montanha para que você possa colocar essas ações em prática ou ensinar para outras pessoas que irão te acompanhar nas aventuras.

A Campanha MantiqueiraBem está constantemente produzindo materiais educativos para conscientizar e educar os visitantes. Acompanhe, compartilhe essas informações e ajude a mudar essa história!

Foto no topo: Thayná de Castro @thaynadcastro

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