A história do fingerboard

Se fosse possível apontar qual seria o maior ícone de treinamento doméstico de escalada, este seria o fingerboard. O aparelho, também conhecido como hangboard, é quase que onipresente na casa, ou motorhomes, de todo escalador preocupado em manter-se em forma.

Trata-se de uma espécie de tábua com diversos buracos das mais variadas profundidades. O objetivo dele é permitir que escaladores treinem a força dos dedos, ficando pendurado (ou fazendo barras/push-ups) usando somente os orifícios da tábua.

Hangboard ou Fingerboard?

Foto; http://rockandice.com

Ainda existe muita confusão a respeito do verdadeiro nome desta “tábua esburacada”. Mas o que é certeza mesmo é que, ao menos no Brasil, o nome mais difundido é fingerboard (tábua de dedos). Nos EUA, o aparelho é mais conhecido como hangboard (tábua de pendurar).

Linguisticamente falando, é comum que uma determinada coisa seja conhecida em diversas localidades por nomes diferentes. No próprio idioma inglês acontece isso: pants (calças nos EUA) e trousers (calça na Inglaterra). Também é notório a “disputa” entre regiões do Brasil sobre biscoito e bolacha.

Com relação à escalada pode ser observado que também existe este tipo de localismo com relação à cadeirinha de escalada (termo adotado em quase todo o território brasileiro). O equipamento também é conhecido por “baudrier” no estado do Rio de Janeiro e “arnês” em Portugal.

Tratando-se de idioma português em solo brasileiro, há várias palavras que sofrem variações:

  • Tangerina: “Bergamota” (sul do Brasil), “Mimosa” e “Laranja-Cravo” (nordeste do Brasil), “Poncan” ou “Mixirica” (centro-oeste do Brasil), “Mandarina” e “Manjerica”.
  • Mandioca: “Aipin” (Rio de Janeiro”), “Macaxeira” (norte do Brasil), “uaipi”, “maniva” e “maniveira”.
  • Chup-chup: “sacolé” (Rio de Janeiro), “laranjinha” (centro-oeste do Brasil), “din-din” (nordeste do Brasil) e “ju-ju”.

Portanto, o nome hangboard ou fingerboard designam o mesmo instrumento. O nome mais apropriado, talvez, seria o adotado em espanhol: “tabla multipresa”.

Uma breve história da escalada livre

 

A escalada livre é uma forma de escalada em que o escalador pode usar equipamentos de escalada, como cordas e outros meios de proteção , mas apenas para se proteger contra lesões durante quedas e não para ajudar no progresso.

O termo ‘escalada livre’ é usado para se contrastar com a escalada artificial, na qual o equipamento específico de escalada é usado para ajudar o escalador a subir. Escalada livre originalmente significava “livre de ajuda direta”.

Tecnicamente falando, não existem regras em si para escalar livremente, além de mostrar respeito pela rocha e por outros escaladores. Ao longo dos anos, à medida que a escalada se tornou mais popular e os escaladores mais qualificados, uma geração inteira de aficionados apareceu, assim como a ética de academias de escalada e escalada esportiva.

Era uma vez um tal de John Bachar

O escalador norte-americano John Bachar é considerado o pai de grande parte dos instrumentos artesanais para treinamento de escalada. Um dos precursores da escalada livre, se tornou uma lenda mundial no esporte.

Notável por sua aptidão física, seu carro sempre estava cheio de equipamentos de ginástica, incluindo as escadas suspensas que hoje são conhecidas como “escada de Bachar“. No auge, Bachar conseguia fazer barra com dois dedos com 5,7 kg de peso na outra mão e com os dois braços com mais de 45 kg amarrados na cintura.

Enquanto tentava o boulder Midnight Lightning com Ron Kauk e John Yablonski em 1978, Bachar desenhou o icônico raio em giz. O desenho é até hoje mantido.

John Bachar era tão conhecido, que um programa de TV dos anos 1980 foi procurá-lo para um episódio. O programa foi dos primeiros reality shows dos EUA e foi ao ar pela rede de televisão ABC de 1980 a 1984. No Brasil o formato foi utilizado por Sílvio Santos com o inconfundível bordão “isso é incrível!”.

No programa, o escalador norte-americano exibiu todos os seus instrumentos. Um deles em especial chamou a atenção. Era uma tábua de madeira cheia de frisos e blocos de madeira pregados que John Bachar usava para treinamento de força estática.

No livro “Training for Stone”, que John escreveu para acompanhar o catálogo de produtos da Chouinard Equipment dos anos 1980. No programa de treinamento no livro, Bachar se refere a uma “travada de ponta dos dedos” nas “bordas dos dedos”, aludindo a uma possível primeira indicação da ideia do Fingerboard.

Embora o próprio Bachar não possa ser creditado com a invenção desse método específico de treinamento para escalada, esses blocos de madeira são o precursor do Fingerboard.

Estes blocos do John Bachar são um dos primeiros equipamentos de treinamento específicos para escalada a serem inventados, mas o inventor da engenhoca não é amplamente conhecido.

A evolução para o fingerboard (hangboard)

Atualmente falando, o fingerboard ou hangboard é uma ferramenta composta de madeira, resina de poliuretano ou poliéster, com suportes cada vez menores e diferentes orientações de aderência para treinar a força dos dedos. O exercício básico é separar as garras variadas para determinados incrementos cronometrados, mas muitos exercícios e regimentos inteiros foram desenvolvidos.

John Bachar usava as tábuas de madeira no início dos anos 1980. Mas em meados da mesma década, o escalador britânico Jerry Moffatt projetou uma tábua bruta que atualmente está em Nuremberg, no Cafe Kraft. Um vídeo caseiro, feito na adega de Jerry Moffatt em 1998 apresenta uma tábua recheada de agarras de madeira em um treinamento um pouco mais sofisticado do que o visto no vídeo de Bachar de 1980.

Os invernos frios na Alemanha impossibilitavam a escalada em rocha, fazendo com que Moffat e seus colegas fossem para a academia treinar. Moffat treinou no Campus Center, que abrigava uma escada de dedos e foi assim que o “campus board” ganhou esse nome.

Wolfgang Gullich é responsável por idealizar esse método de treinamento. Com o campus board fornecendo treinamento pliométrico, é seguro imaginar que o fingerboard seguiu a mesma filosofia, pois treinava a força de contato em agarras cada vez menores ou angulares.

No mesmo período, Rob Candaleria fez furos de tamanhos variados em uma placa de madeira, criando seu próprio fingerboard. Candaleria se descreve como um “rato de academia” e até foi acusado de trapacear em meados da década de 1970 porque treinou para escalar na academia. Assim começava a nascer o conceito de um fingerboad para ser comercializado.

Os modelos comerciais

A madeira foi o primeiro material de treinamento para os dedos usado. Quando o treinamento para escalada se tornou mais comum e os fingerboards começaram a ser produzidas em massa, houve uma natural mudança no uso de resinas de poliuretano ou policarbonato.

Os pioneiros da escalada em Smith Rock (EUA), Chris Grover e Alan Watts, viajaram para a Europa em meados da década de 1980, onde encontraram o primeiro fingerboard de resina (fabricado pela empresa Entre-Prises). Grover e Watts voltaram para os EUA pensando também fabricar o produto. Assim, a marca norte-americana Metolius também começou a produzir seu modelo de fingerboard.

Assim nasceu o Metolius’s Simulator, o primeiro fingerboard dos EUA, que era produzido em resina no processo, agora obsoleto, de esculpir um molde em cera. Atualmente todos os moldes de agarras de escalada e fingerboard’s são feitos com modelos em espuma. Hoje o O Metolius’s Simulator está na sua 7ª geração.

As transformações nos modelos de fingerboard incluíam ajustes na textura e nos ângulos para tornar os buracos mais confortáveis ​​e ergonômicos. A maior transformação que a placa sofreu foi no início dos anos 1990, quando a Metolius se tornou a primeira empresa de escalada a adquirir uma máquina CNC para criar moldes que produziriam placas perfeitamente replicadas.

Máquinas CNC (Computer Numeric Control) é um sistema que permite o controle de máquinas, sendo utilizado principalmente em tornos e centros de usinagem. Com ela, perfis de alta complexidade são facilmente usinados. Estruturas em 3 dimensões, como o fingerboard, tornam-se relativamente fáceis de produzir e o número de passos no processo com intervenção de operadores é drasticamente reduzido.

O Metolius Simulator 3D de hoje, uma placa mais grossa na parte superior do que no meio e na parte inferior, garante um travamento ergonômico em várias posições. Atualmente, o shaper da Metolius Jim Karn projeta as placas no computador, embora ainda molda algumas peças à mão.

Já no século XXI, a evolução dos materiais, shapers e, principalmente, na elaboração de projetos, existem diversas marcas. O ideal é que o escalador procure uma marca que seja conhecida por sua preocupação com a ergonomia e minimizar lesões. Com as impressoras 3D, é possível elaborar estruturas mais sofisticadas e melhor preparadas para o treinamento de escaladores.

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