A história das chapeletas: o equipamento que permitiu a escalada esportiva nascer

Quando a escalada esportiva começou a ganhar popularidade, ela foi recebida com resistência pela “velha escola”. Como na sociedade há constantemente conflitos de gerações, na escalada e no montanhismo não poderia ser diferente.

No mundo, especialmente nas décadas de 1970 e 1980, escalar era apenas escalar. Foi nessa época que alguns escaladores procuraram adaptar sua segurança com parafusos, mais precisamente com os parafusos de ancoragem, os quais eram usados ​​para conectar elementos estruturais e não estruturais ao concreto.

A adoção deste tipo de recurso causou o que é conhecido historicamente de “bolt wars”, que colocavam em dois extremos os entusiasmados escaladores esportivos e os escaladores tradicionais. Até os dias de hoje, há quem procure resgatar a discussão, especialmente por quem possui síndrome de Dunning-Kruger e quer aparecer em algum grupo de WhatsApp.

O nascimento da escalada esportiva

A maioria das pessoas não se sente confortável ao perceber que suas atividades mudaram, que uma rotina que ela desempenhava há muito tempo foi alterada, exigindo dedicação e empenhos além do que ela estava acostumada. Como dito acima, quando a escalada esportiva começou a ganhar popularidade, ela foi recebida com resistência pela comunidade mais tradicional de escalada.

Paralelo à resistência cultural, o novo estilo permitiu que graus de dificuldades cada vez maiores fossem estabelecidos. Não há um local ou data específica para o nascimento da escalada esportiva. Historicamente é aceito que foi um movimento cultural dentro do esporte que teve colaboração de várias localidades.

Porém, é tido como epicentro e berço da escalada esportiva o local francês de escalada Verdon Gorge, um cânion localizado na região de Provence-Alpes-Côte d’Azur, no sudeste da França. As paredes deste cânion possuem 300 metros de altura.

A escalada na região começou na década de 1960, mas se limitou somente ao estilo alpino e tradicional, usando proteções móveis. As áreas que não possuíam nenhuma fenda ou fissura, pareciam impossíveis de escalar pelos escaladores da época.

Foi aí que Stephane Troussier e Christian Guymar decidiram investigar as paredes que “pareciam impossíveis”, a partir de um rapel realizado a partir do topo. Até esse momento, a ética institucionalizada na escalada era de que as vias deveriam ser abertas de baixo para cima. Em algumas regiões do mundo, como várias áreas do Brasil, este tipo de convenção ainda existe.

Rapelar em uma escalada era visto como trapaça, uma negação do espírito de aventura que, na opinião dos praticantes da época, definia o esporte e sua filosofia de existência. O feito foi um escândalo na época. Foi então que Jacques Perrier dedicou a abrir vias de escalada utilizando furadeira e parafusos.

A partir de então os parafusos spacy tornaram-se o padrão e norma de Verdon. Estabeleceu também a convenção de que os parafusos deveriam ser colocados entre 3 a 9 metros de distância. Embora isso possa parecer assustador para os padrões atuais de escalada esportiva, fazia sentido na época, quando a proteção era mínima em todos os aspectos.

Logo mais tarde, o local de escalada francesa de Boux também começou a ser perfurado.

A “escalada esportiva” desafiou as noções tradicionais de “meios justos”. Os escaladores esportivos não apenas ‘pré posicionaram’ o equipamento e desenvolveram escaladas de cima para baixo, mas também pareciam não ter vergonha de ensaiar movimentos (malhar uma via).

Para “piorar” as coisas, eles usavam calças justas, escalavam em academias e realizavam competições formais com juízes e regras. Muitos escaladores da velha guarda proclamaram que nunca cairiam em tanta tolice e que esses escaladores franceses não passavam de covardes.

A chapeleta

Não há um nome ligado à criação das chapeletas. Além disso, conquistar vias esportivas é uma prática completamente não regulamentada, realizada principalmente por praticantes que muitas vezes não são apenas destreinados, mas que frequentemente trabalham com orçamentos perigosamente apertados.

Acredita-se que a chapeleta utilizada para a escalada em rocha foi uma evolução natural dos equipamentos de engenharia utilizados para ancoragem no concreto. Os modelos eram variados e, muitas vezes, fabricados de maneira artesanal e sob encomenda. Não havia preocupação técnica de valores de resistência e oxidação.

Porém o modelo mais popular como conhecemos hoje, foi desenvolvido pela Petzl. Foi Patrick Cordier, que trabalhava para a Petzl como free lancer, que mostrou os primeiros esboços do que hoje conhecemos como chapeleta.

Na época, a Petzl planejava explorar a escalada esportiva, e foi justamente o livro que Cordier lançou, The hundred finest routes of the Southern Prealps, e sua mudança repentina para Verdon que possibilitou o desenvolvimento industrial da chapeleta, junto de Michel Suhubiette.

Batizado de Coeur bolt hanger, rapidamente se popularizou, mas podia facilmente ser retirado. Foi aí que em 1987, o modelo Long Life, com parafuso expansivo, como conhecemos hoje, foi concebido e criado. Mais tarde, a empresa espanhola Fixe, também lançou seus modelos de chapeletas, com algumas modificações.

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