Um dos equipamentos mais icônicos da escalada tradicional que existe são os Friends e Camalots. Apesar de serem bem parecidos, possuem diferenças entre si mas tem em comum a sua filosofia de funcionamento.
O termo técnico em inglês para este tipo de equipamento é Spring-loaded camming device (“dispositivos de castanhas acionado com molas” em tradução livre). A sigla usada para este dispositivo é SLCD.
Ele consiste de duas, três ou quatro “castanhas” (também chamada popularmente de dentes) montadas em um eixo comum, ou dois eixos adjacentes e independentes , que são puxados para girarem em torno de seu eixo.
O sistema é acionado puxando um gatilho que fazem com que as “castanhas” se movam juntas e então são inseridas em fendas ou buracos na rocha.
Ao ser liberado o gatilho, as castanhas expendem-se provocando o entalamento das mesmas.
História
A história dos SLCD modernos vem início dos anos 1970 quando as proteções passivas (proteções ativadas somente quando necessárias) foram requisitadas para escalada à época.
Alguns escaladores após pesquisar e testar vários dispositivos, acabaram por visualizar uma solução: dispositivos que fizessem pressão na rocha seria a evolução natural das proteções de entalamento.
Mas desenvolver e criar tal produto era uma tarefa não tão simples quanto a ideia, afinal “papel aceita tudo”.
No verão de 1972, dois escaladores americanos, Ray Jardine e Mark Vallance, começaram uma amizade que mais tarde se tornaria em um negócio que revolucionaria o mundo da escalada.
Ray Jardine tinha estudado Engenharia Astronômica e estava entrando nos oitavos graus (5.12 na graduação americana) ,em Yosemite, quando vislumbrou a necessidade de uma nova forma de proteção de escalada.
Seu primeiro protótipo foi desenvolvido em 1971, e utilizada duas cunhas de construção civil lisas e deslizantes.
Estes dispositivos, entretanto, tendiam a falhar.
A falha era especificamente na fricção interna entre as cunhas, que reduzia o poder de travamento e com pouco uso tornavam-se ineficientes.
Depois de meses de protótipos, testes, e remodelagem, a ideia de um conjunto de castanhas duplas , porém opostas, acionados por molas foi desenvolvido.
Os primeiros modelos não tinham gatilhos, e era preciso que ambas as mãos para tirá-las da rocha.
Tecnicamente falando, o design das castanhas foi modelado depois utilizando uma espiral logarítmica, que é uma forma natural de curva que aparece na natureza (conchas, padrões de tempestade, formações de galáxias, etc.) em abundância.
A espiral logarítmica apesar de uma forma encontrada em toda a natureza, foi descoberta este padrão pelo matemático por Jacob Bernouli no século 17.
O primeiro a utilizar curvas logarítmicas foi o russo Vitaly Abalakov, também escalador, que já tinha implementado em alguns de seus equipamentos de escalada.
A espiral logarítmica ajuda a encontrar o ângulo ideal que as castanhas do Camalot ao entrar em contato com a rocha.
Inicialmente usando ângulo de 15º, o ângulo foi posteriormente modificado para 13,15º e permanece neste padrão até os dias de hoje.
O design dos Cams, como são popularmente conhecidos, evolucionou em diferentes tipos e funcionalidades desde quando Mark Vallance criou a inovação em 1975.
Este atraso, desde seu desenvolvimento até a fabricação, foi devido ao fato de que Jardine manteve segredo de sua inovação por muito tempo.
Quando Vallence viu a inovação pela primeira vez, afirmou:
“Alguns deles era magnificamente feitos de alumínio polido, cantos cuidadosamente talhados, sistema de gatilhos sofisticados, e até mesmo o formato de segurar o gatilho próximo da posição de usa-lo rapidamente. Os outros eram mal-feitos e dobravam no uso e testes.”
Logo após ter mostrado a Vallence os “Cams”, a dupla começou a produção do equipamento para os escaladores dos EUA e posteriormente para o resto do mundo.
Assim que encontraram um fabricante que conheceram, começaram a produzir os Friends (como eles mesmo batizaram) a partir de 1977 na Inglaterra, no município de Derbyshire.
A empresa Wild Country foi fundada por Vallence no ano seguinte.
Os Friends comercializados pela Wild Country permitiram que escaladores de todo o mundo chegassem aos 9º e 10º brasileiros (5.13 e superiores na graduação americana) .
Outras marcas comercializam produtos similares, mas que seguem a mesma filosofia de SLCD como Black Diamond (Camalot), Metolius (Power Cams), DMM (4CUs), Trango (FlexCams) e CCH (Aliens).
Por que ‘Friend’?
O termo Friends foi cunhado por Rau Jardine quando foi escalar com seu conhecido Chris Walker e outras pessoas.
Walker não sabia como chamar aqueles dispositivos estranhos (até então desconhecidos do público em geral) e também não queria expor a invenção na frente de escaladores desconhecidos. Ele acreditava que alguém poderia roubar a ideia.
Então Walker perguntou: “Você tem uma saco daqueles seus ‘amigos’ aí Ray?”. (Friends = Amigos)
O nome acabou pegando, e Wild Country continua a se referir aos seus SLCD’s com este nome.

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.
[…] história dos Camalots, Friends e outros tipos de Spring Loaded Caming Device (SLCD) já foram explicados e artigos […]