A evolução das agarras de escalada

O escalador tcheco Adam Ondra divulgou um pequeno documentário, de pouco mais de 12 minuto, abordando a história e a evolução das agarras de escalada (assista no topo do artigo). Na verdade, agarras são o que está dando a oportunidade a quem quer que seja de escalar as paredes do estabelecimento.

A história dos ginásios de escalada já foi contada em um artigo exclusivo sobre o tema. Os artigos A história das competições de escalada e A história dos ginásios de escalada são os únicos sobre o tema escritos em língua portuguesa. Aqui mesmo nesse mesmo espaço também foi abordado a história das agarras de escalada, abordando mais as histórias e menos o que foi a sua evolução.

Pois inspirado pelo vídeo de Adam Ondra, que resumiu muito certos aspectos técnicos. este artigo pretende abordar mais sobre o design das agarras de escalada. Importante também deixar claro que a indústria de escalada indoor no Brasil tem menos de três décadas, sendo que o primeiro ginásio de escalada no Brasil foi inaugurado apenas em 1994, quando na Europa e EUA já existiam há mais de 10 anos.

Nos EUA, por exemplo, existe uma mídia especializada nos negócios gerados pelas academias de escalada, a Climbing Business Journal, e uma entidade representativa dos ginásio de escalada, a Climbing Wall Association. Uma realidade muito diferente do Brasil, que muitos estabelecimentos enxergam seus concorrentes como inimigos, boicotando-os e implementando práticas antiéticas de concorrência entre si.

Era uma vez em 1983…

Foto: Rafael Alchieri

As primeiros estruturas artificiais de escalada foram feitas pela empresa francesa Entre Prises em 1983. No mesmo, nos EUA, a Metolius foi fundada por Doug Philips em sua garagem e é referenciado como o primeiro a trazer agarras artificiais de escalada nos EUA.

As agarras eram moldadas em argila e que depois de endurecer serviam de moldes para a resina plástica. Algumas outras empresas tentaram fazer agarras de escalada esculpindo rocha natural ou moldando e queimando argila.

A maioria desses projetos resultava em agarras de escalada abrasiva, mas os escaladores da época tinham poucas outras opções. Eventualmente, a maioria das empresas começou a moldar com espuma e fazer moldes que seriam fundidos com resina de poliéster.

A resina poliéster é um tipo de material obtido através de uma reação química entre álcool e ácidos. É um tipo de resina muito utilizada para variados fins, pois garante uma dureza e resistência capazes de substituir materiais metálico, de plástico ou concreto.

A resina de poliéster é relativamente barata, fácil de moldar e fornece uma textura agradável que os escaladores gostavam. Mas ela tem desvantagens significativas, pois eram um pouco quebradiças e sujeitas a lascas e quebras. Os fabricantes, ao longo do tempo, melhoraram a formula, mas não chegou a eliminar por completo sua desvantagens.

A resina de poliéster também é bastante pesada e os vapores de são altamente tóxicos, apresentando um risco para os fabricantes de agarras de escalada.

Surge o poliuretano

Comparando com com outros polímeros comuns, como polietileno e poliestireno, o poliuretano é produzido a partir de uma ampla gama de materiais de partida e, portanto, é uma classe de polímeros, em vez de um composto distinto. Otto Bayer e seus colaboradores na IG Farben em Leverkusen (Alemanha), fizeram poliuretanos pela primeira vez em 1937 e o produto foi inicialmente desenvolvido como um substituto da borracha, no início da Segunda Guerra Mundial.

Foi durante a década de 1950 que registrou-se o desenvolvimento comercial dos poliuretanos em espumas flexíveis. Mas, para a indústria de agarras de escalada, somente no início da década de 1990 é que o material foi introduzido.

Nos EUA, Groperz usou poliuretano pela primeira vez em 1991 e um pouco mais tarde, em 1998, de acordo com Ian Powell, que trabalhava para a eGrips na época, ele e a VooDoo começaram independentemente a experimentar diferentes misturas de poliuretano para produzir uma agarra quase inquebrável.

Desde os anos 1990, quase todos os fabricantes de agarras de escalada mudaram para o poliuretano, que era extremamente durável, tem uma relação resistência/peso superior ao poliéster e tem flexibilidade suficiente para permitir que seja parafusado em todos os tipos de paredes, especialmente curvas e altamente inclinadas, sem quebrar.

Mas e o parafuso?

A foto mais icônica de um route setter, é uma pessoa segurando uma parafusadeira, preferencialmente se for de 18 Volts ou acima. Portanto, uma academia de escalada que deseja fazer um pedido de novas agarras tem milhares de opções, mas uma coisa em comum com todas os modelos que podem comprar é como eles serão presos à parede.

Os melhores parafusos de fixação de agarras escalada dependem do tipo de parede. Se a parede de escalada é ao ar livre, devem ser parafusos de aço inoxidável, pois eles resistirão melhor à ferrugem.

Atualmente o tamanho padrão do furo é de 7/16” (11,11 mm) para as porcas em T de 3/8” (9,52 mm). Os parafusos são os de cabeça sextavada.

Quando as paredes de escalada começaram, no entanto, não havia essa padronização. As primeiras paredes apresentavam painéis moldados com suportes integrados e, posteriormente, muitas paredes tinham painéis redondos embutidos com um recurso de suporte que poderia ser trocado para criar novas rotas.

Hoje, grande parte das agarras vendidas no mundo vêm com um orifício de parafuso pré-formado e uma arruela que se encaixa em um parafuso de 3/8” de diâmetro. Este padrão de agarra de escalada aparafusável permite uma personalização infinita.

A forma das agarras de escalada

Conforme explicado acima, as primeiras agarras de escalada foram feitos de argila, e diferentes shapers experimentaram todos os tipos de espuma, incluindo isopor, espuma floral e até espuma de prancha de surf, para fazer os moldes.

A espuma de alta densidade, usada para aplicações como estofamento e absorção de choque, também é chamada de espuma flexível de poliuretano (FPF). Ironicamente já era usada desde o final da Segunda Guerra Mundial. A espuma de alta densidade resultou da combinação de poliuretano com um agente de expansão para criar bolhas.

O novo material foi muito elogiado como um substituto para rebatidas de algodão, isolamento térmico e dispositivos de flutuação. Assim vários escultores e alunos de design começaram a usar o material para protótipos.

Assim, com o tempo, uma grande variedade de espumas começaram a ser usadas para esculturas, incluindo espuma de uretano, espuma de poliestireno expandido (EPS) e espuma de poliisocianurato (ISO). Todas essas espumas compartilham a característica de serem firmes, secas e macias, além de serem bastante resistentes. Lojas de artesanato costumam vender este produto.

Portanto, no desenvolvimento de agarras de escalada tudo mudou quando a empresa Straight Up Holds contratou um estudante de arte da Rhode Island School of Design que introduziu a indústria de agarras à espuma de alta densidade para modelar.

Essas espumas, que vêm em uma variedade de densidades, permitiram que os shapers criassem texturas muito específicas que imitam diferentes tipos de rocha como arenito, granito e calcário e novas texturas não vistas na natureza.

Existem algumas precauções que devem ser observadas ao trabalhar com espuma de escultura. A poeira pode ser perigosa para inalar, e é altamente recomendável usar uma máscara facial. Assim começou a fazer parte do processo o uso de espuma de escultura para fabricar protótipos, elaborando a forma de um produto que será renderizado em outro material.

Também passou a ser aconselhável trabalhar em uma área bem ventilada e a também limpar cuidadosamente o local de trabalho depois de trabalhar com espuma de escultura para que pequenos pedaços não sejam liberados ao meio ambiente, porque podem contribuir para a poluição.

O cuidado com a ergonomia

Ergonomia é a disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. É o conjunto de regras e procedimentos que visam os cuidados com a saúde do indivíduo, dentro e fora do seu ambiente.

A primeira forma de aplicação do conceito de ergonomia ao esporte é na adaptação dos materiais utilizados durante os treinamentos e jogos. Se na escalada em ginásios de escalada o número de pessoas e lesionando for grande, significa menos pessoas frequentando o lugar e se dedicando ao esporte.

Além da adaptação dos materiais, as lesões também são prevenidas com o aprimoramento do movimento e da postura. Mas a maioria das primeiras agarras de escalada eram dolorosas, desajeitadas e propensas a causar lesões.

Repare que as os primeiros ginásios de escalada também eram os produtores das próprias agarras. Verifique com os escaladores mais antigos como era grande o número de históricos de lesões nesses ambientes.

Com o tempo, as garras tornaram-se menos abrasivas e a ergonomia e o design tornaram-se mais proeminente. Hoje, o princípio orientador dos shapers mais bem-sucedidos é que as agarras devem ser confortáveis de escalar.

Isso tornou o esporte mais seguro, abrindo as portas para sessões de escalada mais longas, maior movimento dinâmico e textura que é mais suave para a pele. A configuração ergonômica torna os escaladores mais simétricos, fortes e em forma. A configuração não ergonômica contribui para o desequilíbrio muscular, fraquezas compartilhadas e lesões.

Qual grupo de escaladores será mais feliz? Quais equipes competitivas de academia terão melhor desempenho?

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