A escalada olímpica: Como o universo outdoor foi impactado pela estreia da modalidade?

Com ampla cobertura da Revista Blog de Escalada, que disponibilizou um streaming com narração e comentários de quem entende da modalidade para toda a comunidade de escalada brasileira, fica a seguinte pergunta para todos: como a comunidade de escalada, assim como o universo outdoor em geral, foi impactado pelo esporte ter estreado como modalidade olímpica?

Um pouco das impressões sobre estrutura, resultados e perspectivas para o futuro, foi discutido em um episódio extra do Papo de Redação (que pode ser assistido no topo desse artigo). Passada praticamente uma semana, é necessário analisar em termos de mercado, divulgação e impacto social do esporte ter se consolidado como modalidade olímpica.

Redes sociais e escalada olímpica

escalada olímpica

Foto: Dimitris Tosidis/IFSC

Grade parte da população, no mundo inteiro, passa boa parte do dia conectadas nas redes sociais, seja para fazer publicações ou apenas olhar o que as empresas/pessoas andam postando em seus perfis. As interações nas mídias sociais servem para medir o hype que uma modalidade teve em relação à população que não tinha acesso a determinado assunto ou pessoa.

Em termos de mercado, os perfis digitais são a melhor representação do comportamento dos consumidores. Antigamente as empresas contavam apenas com pesquisas feitas junto a consumidores para entenderem como eram percebidas, mas atualmente essas mesmas empresas têm alcance a um enorme volume de dados detalhados e em tempo real e aproveitar essas mesmas informações para direcionar suas estratégias.

Uma boa amostra do poder da mídia e como ela se reflete nas redes sociais, pode ser vista no perfil do escalador norte-americano Alex Honnold. Protagonista do documentário “Free Solo”, que é peça de propaganda em vários cartazes e plataforma de streaming, possui mais de dois milhões de seguidores no Instagram.

escalada olímpica

Foto: Dimitris Tosidis/IFSC

Lembrando que as competições atraíram milhões de espectadores em todo o mundo. A rede britânica BBC relatou um recorde de 104 milhões de solicitações de visualização on-line em todos os esportes. Fato que contrastou com os EUA, onde os números da NBC, rede de televisão que tinha os direitos de transmissão, foram os mais baixos desde a primeira transmissão dos Jogos de Verão em 1988, com queda de 43%.

O site britânico UKC.com fez uma reportagem que revela os números das citações de escalada no país (que tinha uma atleta na competição olímpica) e como foi o crescimento de seguidores em cada um dos destaques da escalada nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Segundo o site, a partir de três dias anteriores ao início da escalada nos Jogos Olímpicos, foi observado a quantidade de seguidores do Instagram de todos os 40 atletas (20 masculinos e 20 femininos).

Três dias após o evento de escalada, o site UKC.com apurou novamente os números e contabilizou os novos valores. Além disso, há o número de procuras a respeito do esporte no Google Trends (ferramenta que mostra os mais populares termos buscados em um passado recente), que relatou que a escalada esportiva foi o esporte olímpico mais popular nas pesquisas do Google no dia 11º e 12º dia dos Jogos Olímpicos.

De acordo com o site britânico UKC.com, os seguintes resultados foram obtidos:

Algumas mudanças notáveis ​​e interessantes:

  • Atletas da escalada esportiva ganharam próximo de 692.957 seguidores no Instagram.
  • O vencedor masculino Alberto Ginés López teve um aumento notável de mais de 342%.
  • Miho Nonaka atraiu o maior número de novas seguidores com mais 47,5% de aumento.
  • Janja Garnbret, que já tinha um número significativo de seguidores teve 29,6% de aumento (277.000 para 359.000).
  • Houve um aumento geral de mais de 18,69% para todos os atletas juntos.

Premiação

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Foto: Dimitris Tosidis/IFSC

Nos EUA e Japão, e as suas respetivas federações e entidades organizadoras de campeonatos de escalada, já possuem contratos com redes de TV a cabo para a transmissão de seus campeonatos. Somente isso já garante bastante visibilidade para os patrocínios que essas entidades possuem.

Agora, logo depois dos jogos, a Prudential Financial, Inc., conhecida por seu icônico logotipo de montanha, anunciou patrocínio à USA Climbing, que ganhou a prata na estreia do esporte nos Jogos Olímpicos de Tóquio. A parceria ajudará a moldar a próxima geração de atletas e fãs ao atrair mais pessoas de todas as idades e habilidades para a escalada, além de apresentar o esporte a diversas comunidades.

A prata de Nathaniel Coleman é considerada no mercado esportivo norte-americano um começo forte para a escalada dos EUA na primeira corrida olímpica. Recentemente mudou sua sede para Salt Lake City e investiu em um centro nacional de escalada interna de 1.000 metros quadrados localizado no centro da cidade.

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Foto: Maja Hitij/Getty Images

A equipe norte-americana seguirá com um pacote de patrocínios novos e aprimorados, incluindo a The North Face, que projetou os uniformes olímpicos para a equipe dos EUA, bem como para o Japão, Coreia e Austrália.

Na Eslovênia, por meio do Ministério da Educação, Ciência e Esporte, premiou os atletas olímpicos com € 31.120 (R$ 191.139) cada. Nos Jogos Olímpicos realizados no Brasil receberam “apenas” € 17.160 pelo ouro. Se o valor parece pouco, observemos a Itália (que não teve escalador no pódio) que premiará com € 180.000 (R$ 1.105.686) cada um.

Os treinadores de cada um dos atletas receberão as mesmas quantias que seus pupilos. Os vencedores de medalhas olímpicas e seus treinadores receberão os valores integralmente, uma vez que os prêmios para os vencedores de medalhas nos Jogos Olímpicos, Mundiais, Europeus e outros campeonatos internacionais, não são tributados pela Lei do Imposto de Renda na Eslovênia.

Estrutura

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Foto: Dimitris Tosidis/IFSC

A reclamação mais comum em grande parte dos escaladores é a falta de estrutura para treinamentos. Engana-se quem acredita que na Espanha, país onde a escalada é muito popular, não tem esse problema.

O presidente do COE, Alejandro Blanco, enviou uma mensagem de agradecimento a Ginés, que aos 18 anos fez história nos Jogos. O presidente da Federação Espanhola de Desportos de Montanha e Escalada, Alberto Ayora, falou da necessidade de instalações para que atletas como Ginés possam treinar bem e afirmou que a medalha de Alberto Ginés “não é uma medalha normal”, já que é o primeiro na história do esporte após sua inclusão no programa dos Jogos, e previu que “o quadro social vai mudar”.

De acordo com Alberto Ayora, as estatísticas espanholas afirmam que cerca de 7 milhões praticam esportes de montanha no país e 4 são praticantes de trekking e cravou: “Esta medalha é a medalha da nova era da federação”.

Alberto Ginés, o primeiro campeão olímpico da história da escalada, ao receber homenagem no último domingo no Comitê Olímpico Espanhol (COE) externou sua preocupação de instalações “para poder trabalhar com tranquilidade”. O atleta espanhol afirmou que “precisamos de uma instalação privada, porque estamos treinando em público e é difícil poder trabalhar com tranquilidade e fazer o treinamento na nossa medida e não depender de equipamentos comerciais”.

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