Yangshuo: Como escalar na China durante as férias

Que a China tem incríveis escaladas não é nenhuma novidade para o conhecimento da maioria dos escaladores.yangshuo-escalada-3

Se você, não sabia disso, agora já sabe. A China é um dos maiores países do mundo e possui território que se estende de leste a oeste do Oceano Pacífico ao Himalaia. São infinitas as possibilidades de escalada, e das centenas de regiões já exploradas para o esporte a mais popular é, sem dúvida, a região norte da província de Guangxi onde ficam as cidades de Yangshuo e Getû.

A primeira ficou famosa com o filme Dosage V e a segunda com o Petzl Rock Trip 2011. E é focado em Yangshuo que este texto se desenrola, mas passar as férias em qualquer outro destino chinês não seria muito diferente.

Por que China?

A grande dúvida que surge é “por que China?” então respondo com “Por que não?”.

Yangshuo, por exemplo, é um local lindíssimo, as margens do famoso Rio Li, com paisagem marcada por infinitos domos pontiagudos. Maioria destes coberto de vegetação, mas quase sempre com um grande faixa de calcário exposta convidando para ser escalada. Nestas paredes há escalada esportiva de primeira qualidade, com muitas delas chegando a três ou quatro enfiadas para agradar também aos escaladores de parede.

Foto: http://www.yangshuomountainretreat.com/

Foto: http://www.yangshuomountainretreat.com/

O tipo de rocha é o mais clássico calcário com bolsos, chorreiras, estalactites, e inúmeros mono, bi e tridedos. A superfície da rocha varia por tonalidades de amarelo, do mais branco ao quase vermelho. A beleza das paredes de Yangshuo é incontestável e, para deixar o local ainda mais convidativo, os acessos são fáceis, a quantidade de vias supera a casa do milhar e o custo de vida é baixo.

Outros famosos locais de escalada como Liming (arenito fendado) também não deixam a desejar nos quesitos citados: beleza cênica, qualidade de rocha, facilidade de acesso e quantidade de vias. Para completar a lista de razões para escalar na China vou incluir a possibilidade de juntar uma viagem de escalada com uma espécie de turismo de abrir a mente. Lá é possível ter contato com uma cultura milenar com origens, hábito e religião que divergem bastante da visão euro-americana que temos de mundo.

Então, motivos para ir a China não faltam, mas se ainda assim você tiver receios espero que esse texto elimine-os um a um.

Roteiro

Frieda encarando um 6 com a cidade ao fundo | Foto: Daniela Borges

Frieda encarando um 6 com a cidade ao fundo | Foto: Daniela Borges

A primeira coisa que eu insistirei em afirmar sobre este roteiro é que é muito mais fácil do que se imagina, mas alguns cuidados precisam ser tomados. O principal deles é o tempo pois você irá perder alguns dias em trânsito, e não apenas nos voos Brasil-China, internamente no país também. Se quiser incluir vários locais considere um dia inteiro para translado, pode ser que se gaste menos que isso, mas de modo geral será um dia quase perdido.

Então, cuidado número um: Reserve um pouco mais de tempo para a sua viagem à China que para outras viagens, mas sem exagero. Na minha opinião de 3 a 4 semanas são suficientes, sendo possível escalar na China sem a necessidade de tirar um ano sabático ou comprometer sua relação com a CLT.

Para chegar em Yanghsuo pode-se ir de avião para Guillin e dali pegar um translado terrestre para Yangshuo. Voos para Guillin partem diariamente de Xangai, Hong Kong e Pequim (Beijing) que provavelmente serão seus pontos de entrada no voo Brasil-China (ok, Hong Kong não é China, mas é uma boa opção de voo).

Foto: Acervo Pessoal Flávia dos Anjos

Foto: Acervo Pessoal Flávia dos Anjos

De trem também é possível, mas fique atento ao tempo. Hong Kong-Yangshuo leva aproximadamente um dia com troca de trem em Guanzhou. Pequim-Guillin de trem pode levar até dois dias!

Se vier por Pequim aproveite para parar em Xi’an e conhecer os Guerreiros de Terracota. Apenas como referência deixo aqui meu roteiro:

  • Brasil→ Hong Kong (avião) – Três dias em Hong Kong para turismo
  • Hong Kong→ Yanghuo (trem) – Quinze dias de escalada
  • Yangshuo → Xi’an (trem) -Dois dias em Xi’an para turismo
  • Xi’an →Pequim (trem) – Quatro dias em Pequim para turismo
  • Pequim → Brasil (avião)

Observação importante: As Passagens de trem podem (e devem) ser compradas com antecedência pelos sites etripchina.com ou ctrip.com

Hospedagem

A hospedagem também é algo para se ver com carinho. Uma boa hospedagem consegue resolver vários problemas numa tacada só: comunicação, comida e parceria e dicas para escalar.

Yangshuo é extremamente turística e não apenas para turismo estrangeiro, mas também é procurado para turismo interno mesmo. O chinês viaja muito, por isso, é muito comum hotéis e pousadas não terem atendentes habilitados a falar inglês. Alias, esse detalhe vale para outras cidades também.

Escalador Americanos em um 8c (br) na Moon Hill | Foto: Flávia dos Anjos

Escalador Americanos em um 8c (br) na Moon Hill | Foto: Flávia dos Anjos

Pesquise bem antes de reservar, além das “estrelas” e classificação dos sistemas de busca procure em blogs e relatos de viagem sobre experiências vividas. No caso de Yangshuo, procure dicas de escaladores e tente se hospedar onde possa conhecê-los e formar parceria.

Uma excelente opção é o Stone Bridge Home-Sweet-Home, comandado por um casal de um brasileiro e uma chinesa (comunicação) que são escaladores (parceria e dicas). Lá é permitido o uso da cozinha no caso de reservas para mais de uma semana (comida). Para completar é o local é extremamente sociável e possui uma área de convivência onde os hóspedes costumam jantar, tomar uma cerveja pela noite e, consequentemente, aumenta as chances de formar novas parcerias e trocar experiências de viagem.

Transporte

Quando falamos de acesso em escalada, normalmente nos referimos ao tempo de trilha, em Yanghuo isso nunca será um problema, pois quase todas as escaladas ficam a dois minutos de caminhada, em terreno plano, desde o estacionamento.

OK, mas e para chegar no estacionamento? Yangushuo é uma cidade bem plana com as torres de calcário espalhadas à sua volta em todas as direções. Por isso é possível chegar facilmente de bicicleta (fornecida gratuitamente no Stone Bridge) ou de scooter (alugada). Um ponto que é importante frisar é que transporte público não é o forte no local, por isso se for para outros destinos de escalada, pesquise sobre as particularidades de cada um.

A cidade de Yangshuo rodeada por suas torres de calcário | Foto: Flávia dos Anjos

A cidade de Yangshuo rodeada por suas torres de calcário | Foto: Flávia dos Anjos

Estilo de escalada

A graduação usada para aferir a dificuldade das vias localmente é a francesa. Na minha opinião é difícil dizer se o grau é “puxado para cima” ou “puxado para baixo”, pois isso vai depender do seu estilo de escalada.

Quanto ao estilo, em Yangshuo as vias são de resistência e isso parece não contar muito no grau, pois os conquistadores costumam graduar pelo crux e, por isso, se vai ter braço para chegar lá é outra história. Mas o que importa é que tem muitas vias e de TODOS os graus de dificuldade, por isso é possível fazer um enorme volume de quintos, sextos e, caso queira, até nonos.

As incríveis estalactites da Treasure Cave | Foto: Daniela Borges

As incríveis estalactites da Treasure Cave | Foto: Daniela Borges

O Guia Climb China é bem completo e pode ser comprado online (peça com 3 meses de antecedência por conta do frete para o Brasil). Existem também guias específicos de cada região. O guia de Yangshuo está esgotado, mas existe uma versão PDF circulando pela internet.

Para Gêtu existe o guia de 2011 da Petzl (clique aqui para baixar).

Preços

Completando, o custo local é super baixo portanto itens como comida, eventuais compras, passeios turísticos, nada disso ira pesar na decisão. Apenas o translado sai caro. Ah, sim, e a cerveja também é cara, se não quiser beber cerveja chinesa com 3% de álcool, prepare-se para gastar um pouco mais. No Rusty Bolt, bar de escaladores no centro de Yangshuo as cervejas importadas chegam a R$ 35,00.

Enfim, como eu disse e vou insistir mais uma vez: É muito mais fácil do que parece, e vale a pena.

Daniela Borges no 7c (br) mais bonito do setor Swiss Cheese | Foto: Daniel Hirata

Daniela Borges no 7c (br) mais bonito do setor Swiss Cheese | Foto: Daniel Hirata

Que motivos agora te impediriam de ir? Ahh, tá, tem que falar chinês?

Não não precisa, da para se virar! Vamos fazer assim, deixo aqui uma série de fotos para dar vontade e no fim, um apêndice com pequenas dicas de comunicação na China! Aproveitem!

Observações Importantes

yangshuo-escalada-1Use e abuse da tecnologia. Deixe o celular sempre carregado e use o tradutor. Tenha todos os endereços que precisar escritos em caracteres chineses para mostrar aos taxistas. Atenção: Antes de embarcar instale um VPN em seu aparelho. Google e inúmeros outros sites estrangeiros são bloqueados na China.

Como para QUALQUER lugar do mundo, aprenda o básico em chinês (leia com a nossa pronúncia):

  • Obrigado: Chê Chê
  • Oi: Ni Rau
  • Não:
  • Não quero: Bu Iao

Aprenda como mostrar números com as mãos. Eles usam uma única mão para contar até 10. Então do 6 ao 10 existem gestos específicos.

Imagens que vale mais que mil palavras

Yangshuo com vias de todos os graus. Flavia terminando o dia em um 6 (br) | Foto: Daniela Borges

Yangshuo com vias de todos os graus. Flavia terminando o dia em um 6 (br) | Foto: Daniela Borges

Moon Hill. O único setor com trilha para a base | Foto: Daniela Borges

Moon Hill. O único setor com trilha para a base | Foto: Daniela Borges

Frieda analisando o crux de um 7b (br) | Foto: Daniela Borges

Frieda analisando o crux de um 7b (br) | Foto: Daniela Borges

Flavia dos Anjos no mesmo 7c | Foto: Daniela Borges

Flavia dos Anjos no mesmo 7c | Foto: Daniela Borges

Daniel Hirata, o da pousada Stone Bridge escalando no setor Wine Bottle | Foto: Flávia dos Anjos

Daniel Hirata, o da pousada Stone Bridge escalando no setor Wine Bottle | Foto: Flávia dos Anjos

Daniel Hirata escalando | Foto: Daniela Borges

Daniel Hirata escalando | Foto: Daniela Borges

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