Montanhismo, tatuagem e liberdade: Como dar a volta ao mundo contando com o próprio talento

Sempre tive o hábito de viajar muito graças ao meu pai que sempre gostou, porém ele nunca me levava para as montanhas, eram sempre viagens de agências de turismo, com guias, passeios de van e confesso que mesmo sendo uma criança, esse formato me incomodava por tirar minha liberdade de escolha. Veio a adolescência e junto à vontade de desbravar montanhas e principalmente de viajar à minha maneira.

Fiz duas graduações; Engenharia de Produção Civil e Tecnologia da Informação, ambas não foram para me satisfazer e quando percebi isso, tempo e investimento haviam sido depositados em quase 8 anos.

Foto: Acervo Pessoal Olivia Ganaro

Me vi perdida, sem saber o que me fazia feliz de verdade, foi quando em 2009 subi o primeiro pico da minha vida. Desde então, senti que era tudo o que mais queria fazer mas eu precisava suprir expectativas que minha família depositava sobre mim, me via encurralada.

Ligeiramente fui me desprendendo da cidade, largando a T.I., subindo mais picos e fazendo mais travessias e trilhas. Em 2015 fiz a primeira travessia solo, Vale do Pati na Chapada Diamantina, aqueles dias naquele lugar inenarrável mexeram muito com o meu emocional, a cada passo eu aprendia naquela caminhada. Meu amor pelas montanhas só crescia, virou um vício, sempre tentava estar em cima de uma.

Nesse mesmo ano comecei a escalar, fui morar na Gruta da Lapinha, por 3 anos escalei esporadicamente e a cada dia que passava eu me sentia mais presa, como se eu me enterrasse a cada dia, via várias pessoas passando por lá em meio às suas viagens e eu sempre só as via passar.

Foto: Acervo Pessoal Olivia Ganaro

A falta de viajar foi me levando à uma profunda tristeza onde eu não tinha mais controle.
Eu queria andar, escalar, conhecer pessoas interessantes e principalmente novas culturas. Eu não queria me estacionar nem estagnar. Foi então que resolvi agir, viver, ter histórias para contar ao invés de ver a vida passar, a essa altura eu já havia me tornado uma tatuadora com quase dois anos de experiência (conheça meu trabalho aqui) e criando meu próprio estilo com o pontilhismo. Já me via segura o suficiente para cair na estrada, só precisava traçar um plano para me sustentar durante a viagem.

Para isso precisava estar em lugares movimentados então logo pensei em tatuar em hostels. Comecei a criar desenhos de viagem, escalada, montanhas e fui para a Chapada Diamantina novamente. De lá fui para Itacaré-BA e logo recebi convite para tatuar em um evento em São Paulo. Uma bela tarde tomando chuva no Parque da Aclimação, fui convidada para retornar ao Hostel de Itacaré para tatuar. Retornei e em meio a vários acontecimentos por lá migrei para a Ecovila de Piracanga-BA onde fui muito bem recebida na Casa Mandala, bastou pisar em Pira que eu mudei e voltei ao meu estado normal, natureza me cura definitivamente.

Viajando para tatuar, tatuando para viajar

Foto: Acervo Pessoal Olivia Ganaro

Esse tempo viajando pelo Brasil serviu como um protótipo de projeto para tatuar pelo mundo. Vi que hospedar em lugares com pouco turista não dá retorno com as tatuagens e querer “chegar ao pico no primeiro dia de montanha também não”. É preciso respeitar o momento das coisas acontecerem e aceitar todos os sinais que a vida dá.

Agora de volta a Minas Gerais refaço minha mochila, vou tatuar alguns dias em Belo Horizonte e São Paulo e seguir para a Patagônia Argentina onde estou convicta que vou tatuar bem e já estou entrando em contato com escaladores da região para tentar o máximo de parcerias e trabalho. De lá pretendo seguir para o Acantilado San Juan no Equador com a finalidade de aprender com escaladoras mais experientes e também tatuar no Encontro de Escalada Feminina que acontece no final do mês de Junho.

O plano é escalar bastante, ouvir a história das pessoas que cruzarem minha trilha e subir muitas montanhas. Mas quando você se entrega ao universo e à estrada, tudo pode acontecer e mudar todos os planos. Tudo muda o tempo todo.

Foto: Acervo Pessoal Olivia Ganaro

Parece um sonho, estou aprendendo muito sobre mim e a vida, meus limites e, principalmente, que sou muito mais forte do que eu pensava ser. Não lamento não ter tido essa coragem antes pois todo o tempo que tive foi necessário e importante para me tornar quem sou hoje criando toda essa força, determinação e certeza de que escolhi o rumo certo para a minha vida, o caminho que infla meu coração.

Viajar sozinha é simplesmente a melhor coisa que já experimentei em 32 anos de existência, dessa forma consigo me conhecer, reconhecer, enxergar minhas fraquezas, qualidades, defeitos, defeitos e mais defeitos.

Não penso mais em viajar o mundo todo de uma só vez, quero parar nos lugares que eu apaixonar muito e morar por uns tempos. Enquanto não chegar no campo base do Everest também, eu não vou sossegar.

Quero contar isso para os meus filhos quando os levar para o primeiro pico da vida deles… Eu ainda não tenho filhos mas de fato é isso que vou ensinar para os pequenos. Amar e respeitar a natureza, aprender com as montanhas e ir atrás de seus sonhos, superar seus limites.

Nunca desistir. Sempre existir.

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