Uma matemática incômoda: Por que as mulheres campeãs ganham menos?

Por: Dunia Oriana Rodríguez

A mulher? É muito simples, afirmam os aficionados a fórmulas simplórias: é uma matriz, um ovário; uma fêmea: suficiente para defini-la

O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir

Faz quatro anos que sou escaladora. Anos que tenho assumido metas cada vez maiores para amentar meu nível e meu rendimento físico. Hoje em dia ainda não posso me denominar atleta. Ainda me falta mais disciplina e ter meus projetos e objetivos mais claros.

Porém na comunidade escaladora que estou inserida existem garotas que tem mais claros seus objetivos, são atletas de alto nível, mulheres que me inspiram cada vez mais a esquecer que os homens são mais fortes. Não estou dizendo que todas são mais fortes, pois todas, e todos, possuem diferentes processos. Mas não tem como negar que a escalada é um esporte com uma população masculina maior que a feminina: de cada 10 homens há 5 mulheres. O número é reduzido, ainda que cada vez haja mais mulheres dispostas a desafiar suas limitações.

Agora faz um ano e meio que comecei a competir. Quando tomei a decisão pensei em comparar-me com outras meninas. O resultado foi que aprendi que minhas capacidades, meu método de treinamento e, sobretudo refleti sobre meu processo: Por que escalo? Que quero atingir? Foram as interrogações que me impulsionaram a levar mais a sério este esporte.

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Foto: Diana K Hunt | http://cruxcrush.com/

Graças a estas incógnitas que me relacionei com escaladoras e escaladores que treinam disciplinadamente para competir. Às vezes nos encontramos na academia ou na rocha.; lá estão sempre dando o seu melhor tanto fisicamente como mentalmente, sem diferenciarem , porque tanto elas como eles se dedicam totalmente às suas vias. Então me pergunto: por que as campeãs recebem menos quantidade de dinheiro quando sobem ao pódio?

Não estou especulando, não se trata de uma proposição radical feminista. Ao contrário, pensei que nos esportes a discriminação não tem lugar. E olha como errei! Curiosamente outro dia estava tomando umas cervejas com umas amigas e amigos que escalam, e no círculo das meninas uma comentou que parecia muito injusto que a garota que havia vencido nos Masters feminino recebeu R$ 120,00 (100 mil pesos colombianos) a menos que o valor do masculino. Ingenuamente sua melhor amiga lhe dizia que “talvez tenha se enganado na conta”. Na verdade não foi bem assim. Os prêmios foram em quantidades diferentes. Os homens ganharam mais que as mulheres pelo seu esforço.

E me pergunto: por um acaso ela não se esforçou, não treinou e pagou a mesma quantidade de dinheiro na inscrição, não foi campeã? Que passou? O orçamento não alcançava?

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Foto: Stijn Van Hulle | https://camooj.wordpress.com

A história não termina aqui. No dia 3 de maio fui a uma competição de MTB, uma muito importante de Cundinamarca ( um dos 32 estados da Colômbia), e quando almoçávamos com amigos ciclistas que competiram, eles mesmos estranharam que a ciclista que percorreu os mesmos 50 e poucos quilômetros em um excelente tempo, na categoria que premiava com dinheiro, recebeu R$ 60,00 (50 mil pesos colombianos) menos que um ciclista.

Eu comentei que o mesmo tinha passado em uma competência em outro estado e não sei quantas vezes mais. Da discussão surgiram dois argumentos:

  1. A diferença se deva pelo orçamento
  2. Sempre foi desta maneira

A respeito do primeiro item, me parece que não é sustentável por si próprio, porque se falta dinheiro, como no caso dos R$ 120,00 de diferença, podiam pagar à menina igual aos campeões e motivar a uma quarta pessoa pessoa (que é outra polêmica a premiação aos três primeiros). Enquanto ao segundo, se sempre se fez assim e segue realizando da mesma maneira: quais são os argumentos para reconhecer o esforço das mulheres? Por um acaso é menor o esforço e, portanto, menor o pagamento? A ciclista não percorreu os mesmos quilômetros que o ciclista?

Ainda que pareça míope a minha perspectiva, e talvez seja, porque não pude falar com as pessoas que realizaram o evento, entretanto, seria eufemístico da minha parte pensar que isso é uma trivialidade ou uma leviandade que se pode deixar passar em branco. O que é claro neste assunto é que este também é um espaço no qual se deve refletir sobre a igualdade de gênero. As mulheres não somente devem carregar o peso de saírem dos esteriótipos delimitados pela sociedade, que são outras as atividades que elas deveriam fazer, e outro corpo que deveria moldar. Agora também nos falta começar a nos comportar neste tipo de discriminação, porque sem fazer isso os exemplos irão continuar a crescer.

Para mim estas situações me motivam a abrir espaços de diálogo e de encontros com a comunidade escaladora, para que comecemos a olhar as coisas que para saber se tem de seguir fazendo da mesma maneira, sem nós mulheres estarmos dispostas a assumir um rol passivo e indiferente diante destas situações. Ou então como escaladoras guerreiras da rocha assumirmos desafios com relação à igualdade de gênero e reivindicar que nossos esforços  sejam valorizados e julgados objetivamente sem ser segregados pela visão machista e determinista. Onde que nos olhem como um ser humano em igualdade de condições.

Por que ser mulher significa ter menores esforços? Como nos consideram os escaladores e quem realiza estes campeonatos? Quais são os argumentos para pagar diferentes quantidades de dinheiro a campeãs e campeões? Se olharmos para os prêmios como motivações, que mensagem estão nos dando: Para nos conformarmo-nos? Ou para agradecer que fomos premiadas?

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Foto: IFSC Eddie Fowke | http://www.planetmountain.com/

Cordada de chicas é um grupo no qual estamos não somente reflexionando sobre os  processo de formação da escalada, mas também os culturais e sociológicos que repercutem às novas gerações que posam tornar-se obstáculos no esporte e na mesma comunidade. Somente através das reflexões e os diálogos que podemos olhar que NÃO SE PODE SEGUIR FAZENDO DA MESMA MANEIRA.

As mudanças são necessárias e um princípio da pessoa que escalada é que a zona de conforto ou aquilo que sempre se faz ou o método que usamos para viver, a maioria das vezes muda: sempre se modifica para ser melhores a cada vez! Espero que tanto mulheres quanto homens comecemos a construir novos discursos, novas visões dos esforços individuais e coletivos. E que atuemos diferentes, equitativamente de acordo com os esforços e méritos de cada esportista.

Tradução autorizada de: http://www.freeman.com.mx/

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