Crítica do filme “Uma aventura como ela é”

Os praticantes de esportes de aventura possuem um desejo quase intrínseco de sempre fugir dos clichês. Ironicamente estes mesmos esportes, por serem praticados por um número relativamente pequeno (se comparado com outros esportes de massa), também possuem seus próprios clichês. Uma grande ironia para quem ambiciona fortemente fugir da repetição excessiva e não perder a originalidade.

No caso de documentários de esportes de montanha, apostar em fórmulas batidas, ou mesmo repeti-las, pode ser também um lugar dentro da zona de conforto para quem deseja começar a criar uma identidade própria. Vez ou outra aparece alguém que consegue romper esta bolha e criar algo inovador. O documentarista Michael Moore foi um destes diretores que criaram algo novo e de qualidade para ser ouvido com seu “Fahrenheit 11 de setembro” em 2004. Moore fez escola com seu estilo, que foi muito imitado posteriormente. Outros apostam em um formato mais tradicional e que, mesmo recorrendo a clichês, acaba produzindo produções de qualidade. O filme “Icarus” é um bom exemplo deste último caso, chegando a até mesmo ganhar um Oscar.

O filme “Uma aventura como ela é”, consegue ficar no meio-termo destes dois extremos. Há alguma busca por inovação, mas também bebe muito na fonte do que é produzido atualmente no gênero. A produção de Bia Carvalho e direção de Edinho Ramon exibe uma história de viagens de um casal, que parece ter toda a energia do mundo, pelo interior da França. Praticando todo tipo de esporte de ação, exploram todas as opções existentes no interior francês, como provas de corrida de montanha e triatlo, além de conseguirem também escalar e saltar de paraquedas.

A produção mostra que inspirou bastante em outros filmes exibidos em canais de filmes de esportes de ação, sobretudo pela maneira como foi feita a edição e o ritmo adotado. Muito da fórmula que usa no filme lembra muito as produções de surf que abundam nestes veículos. Felizmente a qualidade de “Uma aventura como ela é” foi superior. Há sem dúvida uma nova roupagem e uma tentativa louvável de tornar a abordagem mais verdadeira (sem parecer roteirizada) e menos interpretada. Mas a quantidade de assuntos a serem abordados, os produtores acabaram por negligenciar algumas informações mais específicas a respeito de sua viagem.

Dados relevantes, como quantidade de bagagem, tipo de transporte e hospedagem utilizados, cidades e locais visitados, além de um breve feedback a respeito de experiência nos esportes, foram deixados de lado. Esta debilidade, entretanto, não compromete a empatia e identificação do expectador com os personagens.

Itens corriqueiros de praticantes “de verdade”, além dos imprevistos, são abordados com naturalidade e colaboram para que quem assista consiga se sentir parte da viagem e, invariavelmente, também ter a curiosidade de visitar os lugares. Esta empatia é o ponto mais forte da produção e total mérito das edições mais dinâmicas e menos paradas.

Por serem dois viajantes “profissionais”, faltaram algumas passagens que enriqueceriam todo o filme como, por exemplo, despacho de bagagens, locomoção desde a aterrissagem até os locais onde iriam praticar os esportes. Como o diretor Edinho Ramon procurou mostrar tudo o que fizeram na viagem, acabaram ficando sem uma história definida ou uma espinha dorsal que definisse o propósito da produção mais claramente. Próximo do fim começa a aparecer uma perceptível barriga na produção, parecendo em dado momento uma coletânea de lembranças.

O filme “Uma aventura como ela é”, não e um filme perfeito, mas sem dúvida é um entretenimento interessante e, durante certo ponto, emocionante e cativante. Isso porque possui boa qualidade, especialmente quem gosta de ver como se comportam os casais de pessoas dedicadas à vida ao ar livre.

Nota Revista Blog de Escalada:

O filme “Uma aventura como ela é” será exibido no Freeman Film Festival em São Paulo e foi cedido gentilmente pelos produtores.

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