Atualmente no Brasil há diversas tentativas de criação de rota de trekking que atravesse vários lugares, tendo como principal característica a extensão. Uma tentativa (válida, diga-se) de criar rotas de trekking longas como a Pacific Crest Trail (PCT) nos EUA e a Greater Patagonian Trail no Chile.
Trekking extensos já existem no Brasil. Por isso há várias outras trilhas, que esperam os praticantes mais interessados em conhecer ambientes naturais do Brasil, o qual possui dimensões continentais. Uma destas opções que, sem dúvida nenhuma contará muitos pontos no currículo de qualquer praticante de trekking, é a recém criada Trilha Chico Mendes. A trilha é um verdadeiro desafio para quem se considera roots e se considera expert em trekking e camping.
A Trilha Chico Mendes
O percurso, que está localizado na Reserva Extrativista Chico Mendes, é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e localizado na porção sul do Acre, próximo à fronteira do Brasil com Peru e Bolívia.
A Reserva Extrativista Chico Mendes foi criada em 1990 com 970.570 hectares (9.705,7 km²), e é uma área utilizada por populações tradicionais, cuja sobrevivência baseia-se no extrativismo e agricultura de subsistência.
A Reserva Extrativista Chico Mendes abrange os municípios de Rio Branco-AC, Capixaba-AC, Assis Brasil-AC, Brasileia-AC, Epitaciolândia-AC, Xapuri-AC e Sena Madureira-AC.
Neste ano de 2017 o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) lançou o projeto “10 picos, 10 travessias” em comemoração aos 10 anos do instituto. Durante em evento comemorativo do projeto, houve a inauguração oficial do novo atrativo da Reserva: a Trilha Chico Mendes, que possui de 90 km e atravessa a Floresta Amazônica e mostra a realidade de quem vive dentro da reserva extrativista que é considerada modelo de sustentabilidade.
Quem foi Chico Mendes?
O nome da reserva é uma homenagem a ao ambientalista, ativista e seringueiro sindicalista Chico Mendes, que lutou politicamente a favor dos trabalhadores seringueiros da Bacia Amazônica. Defensor da floresta e dos direitos dos seringueiros, ele organizou os trabalhadores para protegerem o ambiente, suas casas e famílias contra a violência e a destruição dos fazendeiros.
Por sua atuação despertou a ira dos fazendeiros locais, que o assassinaram em 1988. Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta por Darci Alves a mando do pai, o fazendeiro Darli Alves e o irmão Alvarino Alves da Silva (a participação deste último nunca foi comprovada). Darli e Darci foram condenados em 1990 a 19 anos de detenção. No ano de 1999, Darli saiu do presídio para cumprir o restante da pena em prisão domiciliar, alegando problemas de saúde. Darci, autor dos disparos, no mesmo ano ganhou o direito de cumprir o restante da pena em regime semi-aberto. Darly e Darcy cumpriram, ao todo, menos de dez anos da pena de dezenove a qual foram condenados.
A morte de Chico Mendes trouxe apoio mundial à causa dos seringueiros.
Chico Mendes não foi o único a ser morto porque defendia a Amazônia, mas se tornou o símbolo da luta social e da defesa ecológica. Sua morte trouxe apoio mundial à causa dos seringueiros. Devido, em parte, à cobertura do assassinato pela mídia internacional, a Reserva Extrativista Chico Mendes foi criada na área onde ele morava.
Atrativos
A Trilha Chico Mendes pode proporcionar uma imersão única para quem deseja conhecer mais sobre a fauna e flora da Amazônia.
Por estar próxima da fronteira com o Peru e com a Bolívia, é possível ver espécies que usualmente somente são conhecidas em livros escolares como o porquinho do mato, o veado campeiro, o macaco prego, a queixada e a anta.
Todos estes são caçados pela população local e utilizados para elaboração de pratos típicos. Grande parte destes animais são pelas populações tradicionais da floresta.
Dentro da reserva há uma diversidade singular de aves, anfíbios e um refúgio de borboletas e aves.
Reserva Extrativista Chico Mendes situa-se na região zoogeográfica para primatas e peixes, sendo considerada como centro de endemismo para aves e anfíbios, além de refúgio para borboletas e aves.
Entre a diversidade da fauna destacam-se como fontes de proteína animal o porquinho do mato, o veado campeiro, o macaco prego, a queixada e a anta, considerados os principais produtos de caça consumidos pelas populações tradicionais da floresta.
Percurso
A trilha Chico Mendes incia na cidade acreana de Xapuri. A escolha não foi ao acaso, pois esta cidade histórica, além de ser considerada o berço da Revolução Acreana e cidade natal de Chico Mendes e corta nove seringais e várias colocações de seringueiros.
O município fica a 183 quilômetros da capital.
A trilha não possui muitas subidas e descidas, como as populares Serra Fina ou Marins Itaguaré.
Porém, por causa do clima quente e úmido, além de caminhadas constantes em mata fechada, não é um passeio indicado a iniciantes. Apensar de relativamente estruturado em alguns trechos
- Etapa 1 – Xapuri – Fonte de Água – Local para reabastecer recipientes de água potável.
- Etapa 2 – Fonte de água – Colocação “os quatro” – Abrigo para camping estruturado na casa de Sebastião e Luziane
- Etapa 3 – Colocação “os quatro” – Seringal Filipinas – Local para descanso, abrigo e pernoite
- Etapa 4 – Seringal Filipinas – Igarapé – Local de natureza preservada com água cristalina e camping selvagem
- Etapa 5 – Igarapé – Escola Chico mendes e barracão – Abrigo para camping estruturado
- Etapa 6 – Escola Chico mendes e barracão – Comunidade 5 de agosto – Abrigo para camping estruturado, único com energia elétrica
- Etapa 7 – Comunidade 5 de agosto – Seu jerônimo – Abrigo para camping estruturado na casa de seu Jerônimo e Dona Rosa
- Etapa 8 – Seu jerônimo – Polo Wilson Pinheiro / Janiral – Final da trilha. Há duas opções: a primeira em Polo Wilson Pinheiro em Brasiléia e a outra, mais exigente, pelo ramal de Janiral
Sinalização
Por ser muito fácil se perder em uma trilha a qual possui mata fechada, o ICMBio não mediu esforços para disponibilizar uma sinalização eficiente para, desta maneira, minimizar casos de praticantes de trekking perdidos.
Por isso, durante o mês de agosto, uma força tarefa formada por técnicos, praticantes de trekking e guias locais, implementaram sinalização padronizada.
A sinalização, que lembra bastante a simbologia utilizada na Trilha Transcarioca, é representada por uma pegada de um solado de bota de trekking na cor amarela com o corte típico feito na seringueira para coleta da borracha.
Mesmo sinalizada a travessia, ao menos inicialmente, será realizada obrigatoriamente com a companhia de guias locais devidamente credenciados pelo ICMBio.
Para maiores informações: [email protected]
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.
Muito legal, não sabia dessa iniciativa. O convívio gera consciência e através da consciência a necessidade de compartilhar e preservar. Precisamos de muitas trilhas mais!