Rolando Garibotti publica carta aberta ao público sobre responsabilidade na Patagônia

O grande volume de acidentes ocorridos na Patagônia, em especial no Fitz Roy, este ano de 2019 foi sem precedentes. A coordenadora de operações de resgate da Comisión de Auxilio de El Chaltén, Carolina Codó, reafirmou seu assombro e preocupação em declarações exclusivas à Revista Blog de Escalada. Para fazer coro junto de Codó, os irmãos Pou publicaram uma carta aberta, na qual falavam sobre o alto índice de acidentes e o que pode estar acontecendo com os escaladores que visitam a região. Na carta dos Irmãos Pou, há ainda o esclarecimento de quem são os resgatistas e da sua importância.

Desta vez, no dia de ontem, foi a vez de uma outra pessoa publicar uma carta, desta vez mais contundente, a respeito de todos os acidentes: Rolando Garibotti. Garibotti é um dos escaladores mais respeitados de toda a Argentina e da América do Sul. Rolando é o autor de todos os guias de escalada do Fitz Roy. Vivendo em Bariloche desde os 7 anos de idade, logo começou a escalar. Já nos anos 1980, quando com apenas 15 anos, escalou Aguja Guillaumet, a menor torre de granito do Maciço Chalten, Não há na região de El Chaltén nenhum escalador mais gabaritado a falar do Fitz Roy que Garibotti.

Foto: https://www.scarpa.net

Em sua rede social publicou uma carta aberta, redigida em inglês e em espanhol, alertando para a responsabilidade de todos os escaladores com relação às suas capacidades atléticas e de montanhismo.

As últimas três semanas foram brutais no maciço de El Chaltén. Três escaladores morreram enquanto tentavam escalar o Cerro Citz Roy. Houve acidentes de muita gravidade e uma infinidade de situações limite.

Seguem algumas considerações.

A seriedade destas montanhas e seu clima requer escolher objetivos que correspondam comodamente com o nível de habilidade e condições. Não basta estar preparado para enfrentar as dificuldades apenas, é necessário ter uma margem de sobra para enfrentar as possibilidades eventuais.

É muito importante que a dupla tenha um meio de comunicação, seja um telefone satélite ou rádio VHF. Duas das duplas implicadas não tinha, e isso dificultaram as respectivas tentativas de resgates. É provável que uma das mortes poderia ter sido evitada.

É indispensável aprender a ler com precisão a meteorologia. A “sexta negra” (18 de janeiro), na qual três pessoas morreram de hipotermia no Cerro Fitz Roy, não era um dia para estar nesta montanha.

Ainda que tivesse a sorte de dois helicópteros disponíveis para os resgates, usualmente este não é o caso. Usualmente os resgates se fazem a pé e demoram dias. Sem os helicópteros, dois dos acidentados, ambos graves, tivessem demorado dois a quatro dias mais para chegar ao hospital.

Os resgates expõem muitas pessoas a perigos, e em alguns casos há consequências trágicas. Este foi o caso do acidente de Jesús Gutiérrez durante a recente tentativa de resgate no Fitz Roy, ou até mesmo a morte de Pablo Argiz, um piloto de helicóptero que faleceu em 2014, enquanto tentava resgatar um escalador.

A Comisión de Auxilio de El Chaltén possui vinte anos de experiência fazendo um trabalho louvável. Fazendo resgates até em lugares mais inóspitos. Suas responsabilidades até criaram um espírito samaritano, que não deixa de surpreender. São Voluntários que deixam suas afazeres, arriscando-se e fazem de tudo pelo próximo. Mas faz parte de nós não abusar desta boa vontade. Como bem escreveram Eneko e Iker Pou em uma outra carta recente, na hora de escolher os objetivos, temos de pensar em “toda estas pessoas que sem nos conhecer arriscam suas vidas para tratar de salvar as nossas”. Antes de amarrar os cadarços das botas, temos de apelar à nossa solidariedade, “escolhendo um objetivo conforme as condições da montanha, de acordo com meteorologia e nossas possibilidades reais”

Até o dia de hoje, temos tido a liberdade completa de praticar nossa atividade na região, mas a liberdade está associada à nossa responsabilidade. Depende de nós preservá-la.

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