Jornal denuncia abusos de resgates grátis e levanta discussão sobre o assunto

O jornal espanhol El Mundo publicou reportagem denunciando que turistas montanhistas estariam abusando dos resgates grátis nas montanhas de Maillorca. De acordo com o periódico, o qual é o segundo maior jornal da Espanha (levando-se em conta a tiragem), turistas que vão praticar montanhismo na região estariam abusando da gratuidade do serviço de resgate. A discussão sobre a gratuidade de resgate montanhistas na Espanha é antiga e o mesmo tipo de discussão está sendo feita no Brasil e Argentina. O tratamento da questão na Espanha varia de província para província.

Em reportagem publicada pela Revista Blog de Escalada em janeiro deste ano, o corpo de bombeiros do estado de Minas Gerais apontou um crescimento de 43% nos resgates. Por conta dos abusos, o governo da Argentina suspendeu os resgates gratuitos no Monte Aconcágua (6.962 m) desde 2016. No país vizinho, os resgates devem ser pagos pelas corretoras de seguros para quem deseja subir a montanha mais alta das Américas. A suspensão, entretanto, vale somente para montanhistas que vão ao Aconcágua.

De acordo com a reportagem publicada pelo jornal El Mundo, os resgates realizados na Serra de Tramuntana, principal cordilheira das Ilhas Baleares e situada ao noroeste da Ilha de Mallorca, possui um índice de resgates igual ao dos Pirineus. O governo da província espanhola estuda repassar os valores dos resgates para os montanhistas negligentes e imprudentes. Segundo relatos das autoridades, assim como acontece no Brasil, muitos turistas visitam as montanhas com roupas inadequadas e equipamentos não indicados para a prática de montanhismo.

Pedro Ladaria, chefe dos bombeiros de Mallorca, afirmou que a quantidade de casos em que há negligência, já extrapolou os limites do tolerável. De acordo com sua declaração na reportagem, o sistema de SOS foi acionado, porque turistas queriam que o helicóptero baixasse as mochilas para facilitar a decida.

A principal inspiração para a província é utilizar a mesma metodologia que na Catalunha, onde são aplicadas sanções diretas nos casos que houver imprudência comprovada do montanhista. A principal preocupação de Mallorca, assim como no Brasil, é de que há um orçamento predeterminado para o corpo de bombeiros. A partir do momento que se faz um resgate, este é pago com esta cota anual cedida pelo governo do estado. Realizando muitos resgates desnecessários, muitos dos quais por imprudência do turista, futuros resgates a quem realmente necessitar pode ficar comprometido.

Foto: www.soydeliebana.es

No Brasil, a região da Serra da Mantiqueira, que possui trilhas muito procuradas por turistas, dos quais muitas vezes não possui experiência ou capacidade de realizar um trekking, vivencia um aumento exponencial de casos de resgate. Para a realização do trekking não é necessário realizar pagamento, ou sequer um seguro é exigido, por parte dos administradores destas rotas. A gratuidade, assim como a ausência de exigência de experiência ou seguro, cria uma situação que em um futuro próximo terá de ser discutida entre as autoridades locais, governos estaduais, proprietários das Unidades de Conservação e as entidades de classes que representam os montanhistas.

A contratação de um seguro para a prática de montanhismo, seja no Brasil ou fora do país, não faz parte da cultura dos praticantes. A baixa procura por parte deste tipo de serviço, faz também que as seguradoras tenham poucas opções a oferecer aos montanhistas. Diferentemente do que acontece na Espanha, onde os clubes e federações oferecem opções de seguro aos seus associados, no Brasil a prática não acontece. Acredita-se que esta prática não é realizada pelo desinteresse dos praticantes brasileiros na contratação deste tipo de serviço.

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