Quais são as lesões mais frequentes na escalada esportiva

A escalada esportiva é hoje em dia um esporte de rápido crescimento e regulado por instituições internacionais altamente organizadas (IFSC).

Para entender como pode levar ao máximo rendimento nesta atividade, necessitamos conhecer as aptidões físicas e desportivas dos indivíduos que a realizam.

Também é de igual importância prevenir a aparição de lesões, algumas delas muito específicas da escalada como as rupturas de polias digitais e os tendões flexores.

Introdução

Nas últimas décadas a escalada esportiva surgiu como uma modalidade dentro dos esportes de montanha e é agora uma atividade muito organizada e de rápido crescimento.

No início dos anos 80 e especialmente na Europa a mentalidade dos escaladores em rocha mudou com o desenvolvimento de uma atividade focada na dificuldade dos movimentos e nem tanto na conquista de picos ou paredes inexploradas.

Isto começou com a colocação de chapeletas e proteções físicas na rocha que permitiram ao escalador concentrar-se em superar as dificuldades físicas e técnicas apoiando-se unicamente nas proteções existentes das rochas e não ter de se preocupar com sua segurança.

Este desenvolvimento se chama escalada esportiva e levou rapidamente à organizações de competições como a realizada em 1985 em Bardoneccia na Itália.

A partir deste momento começou uma especialização de um grupo de escaladores a se dedicar em competições em muros artificiais como as que existem hoje em dia.

Lesões Frequentes

As lesões na escalada podem ser agudas ou por sobreuso.

Alguns estudos sobre a incidência de lesões concluiu que dois terços destas são agudas, principalmente envolvendo o tornozelo durante as atividades de boulder e que as lesões por sobreuso que representam um terço do total ocorre em sua maioria nas extremidades superiores, particularmente nos dedos e ombros.

Apesar de grande repertório gestual que utilizam os escaladores alguns movimentos se repetem com frequência.

Em geral o desnível negativo dos muros de competições implica que o centro de gravidade do corpo do escalador esteja em uma posição frequentemente desfavorável ficando por fora dos apoios dos pés e longe do muro.

Isto leva a que o atleta suporte  grande parte do peso corporal nas agarras de mão utilizando articulações inter falângicas distais e flexão das articulações inter falângicas proximais.

Ainda há uma pronação da mão, leve extensão do punho e flexão do cotovelo de maneira simultânea.

Dedo do Escalador

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Foto: http://www.splitterchoss.com

As lesões nos dedos começam por sobrecarga, caracterizada por rigidez matutina, déficit motor fino, inflamação capsular, dor do tato e movimento o que de forma crônica pode levar à deformidade em flexão de 15 graus das articulações inter falângicas proximais, hipertrofia de ligamentos colaterais, derrame articular crônico com sinovite e, a longo prazo, formação de pequenos osteófitos laterais.

Também pode encontrar-se por sobreuso a tenossinovite dos músculos flexores e a tendinite insercional do músculo flexor digital superficial.

Depois de movimentos bruscos podem lesionar-se os ligamentos colaterais dos dedos e, no que constitui a lesão mais característica deste esporte, as polias A2 dos dedos anelar e médio, o qual se denominou “dedo do escalador”.

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Foto: http://www.ombroecotovelo.net

Esta lesão tem uma incidência de 16% a 29% anual e se relaciona com o agarre arqueado (o “regletar”) e a resistência a ruptura das polias que em ordem ascendente involucra a polia A4, A2 (com aproximadamente 400 N) e A3, sendo muito raro as avulsões das inserções dos músculos flexores digitais superficial e profundo.

Desde o ponto de vista clínico o escalador relata haver ouvido um estalo seco junto com a sensação de que a articulação inter falângica proximal tenha cedido e apresenta dor na base da falange proximal.

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Foto: http://eva-lopez.blogspot.com/

O exame físico se encontra dor à flexão do dedo afetado e sinal característico de formação de um arco de corda com a flexão ativa (separação dos tendões flexores digitais da falange proximal), no qual somente se vê quando há ruptura das polias A2 e A4 simultaneamente.

A lesão se pode ingerir com a visualização do espaço aumentado entre tendões e falange na ressonância nuclear magnética ainda que nos últimos cinco anos foi proposto a ecografia como um método mais econômico, dinâmico e altamente sensível e específico.

Então ante à suspeita clinica de uma lesão em uma polia se aconselha tirar uma radiografia para descartar fratura, avaliar a distância tendão e osso mediante ecografia e se for maior que 2 mm avaliar se se trata de uma ruptura única múltipla.

As rupturas múltiplas , especialmente de A2, A4 e A3 necessitarão de reparação cirúrgica.

O tratamento das lesões de polias  invoca o princípio PRICE (proteção, repouso, gelo, compressão e elevação) em fase aguda e o manejo da dor com mantenimento do arco de movimento completo do dedo lesionado.

A pratica esportiva não deve começar antes de 6 semanas, para logo ir aumentando as cargas progressivamente em cujo estado prognostico é bom.

Os testes biomecânicos colocando anéis de esparadrapo sobre a pele no lugar da lesão não se mostrou uma vantagem mecânica estatisticamente significativa e esta pratica não deve nunca substituir um bom e completo programa de reabilitação.

Outras Lesões

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Foto: http://www.northpacificpediatricsociety.org

  • Pulso – Algumas lesões no pulso são a síndrome do túnel do carpo por tenossinovite dos músculos flexores digitais profundo e superficial, a tendinite dos músculos extensores da munheca e entorse do pulso.
  • Cotovelo –  pode se encontrar a epicondilite medial ou lateral, a dor anterior do cotovelo por tendinite do músculo braquial anterior, a tendinite do tríceps ou a compressão do nervo interrósseo posterior (rama do nervo radial).
  • Ombro – No ombro se reporta o pinçamento primário, ao escalador fazer movimentos repetitivos em abdução e rotação externa por cima da cabeça. Também se apresenta a lesão SLAP e a lesão da cabeça larga do bíceps braquial. A luxação glenoumeral é rara.
  • Joelhos – As lesões do menisco podem produzir-se no joelho após efetuar posições similares à posição de rã. com flexão simultânea de ambos os joelhos enquanto esta apoiando-se nas pontas dos pés uma junto à outra.
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Foto: http://meiduzmato.blogspot.com

  • Pés – O calçado especial é um dos principais fatores causadores de problemas nos pés, este permite manter-se em pé levemente supinado e oferece uma boa estabilidade graças ao ajuste preciso. Entretanto podemos encontrar sinais de pontos de pressão na pele, danos nas unhas e compressão do ante pé. Outras lesões frequentes são  joanetes e entorse da planta do pé.
  • Membros Inferiores – Outras lesões nos membros inferiores são as distensões dos músculos adutores, isquiotibiais e quadricepts. Nas costas e no abdome podem apresentar artrite facetaria nas vértebras cervicais e danos nos discos intervertebrais lombares.
  • Fraturas – As fraturas correspondem a 2% do total das lesões e localizam-se no crânio, radio distal, escafoides e tornozelo. Há casos reportados igualmente de fratura por stress na mão

Prevenções

A prevenção das lesões , inclui s a realização de um aquecimento adequando,  o alongamento rotineiro dos músculos mais utilizados e uma adequada metodologia de treinamento para evitar a sobrecarga, algo muito comum em indivíduos altamente motivados.

Igualmente o acompanhamento médico das competições e das mudanças de regulamento podem ajudar a proteger os atletas como aconteceu com a diminuição das entorses de pés depois de ser obrigatório o cobrimento do espaço com colchonetes nas competições internacionais de boulder.

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