Praticando o desapego na Alemanha

Foto: http://warriorsway.com/

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Eu passei as ultimas três semanas com meu pai e filho na Alemanha. Três gerações viajando juntas. Meu pai queria nos mostrar Bavaria, aonde ele cresceu.

Ele era um adolescente quando ele viveu lá durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra ele se mudou para os EUA, aonde eu nasci. Ele havia visitado a Alemanha várias vezes ao longo dos anos. Agora ele tem 86 anos de idade e sentiu que esta seria sua última visita.

Ele queria compartilhar seu passado conosco antes de falecer.

Nós chegamos no dia 8 de Junho em Munique e logo dirigimos até Prien am Chiemsee nos Alpes Bávaros. Ele nos mostrou Guggenbichl, sua casa de infância, que é uma propriedade multimilionária agora. Eles a perderam após a guerra.

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Ela mudou, claro, mas ele nos mostrou aonde ele fazia coisas como criança para ajudar sua família a sobreviver. Ele nos mostrou aonde ele serrava troncos para aquecer sua casa, como ele pescava peixe em Chiemsee para ajudar a alimentar a família e onde ele salvou um amigo que havia caído na água quebrando o gelo enquanto patinava.

Depois nós decidimos fazer umas trilhas e caminhar pelos Alpes durante vários dias, sobre a Kampenwand, a enorme parede que inicia os Alpes alemães. Ele nos mostrou aonde ele e seu amigo tinham que escalar para o cume.

Eles escalaram aquela via centenas de vezes, sem corda. Isso foi antes da tecnologia moderna. Uma vez eles escalaram a via e ficaram na cabana Steinling Alm, que fica logo abaixo da parede.

Choveu aquela noite. Na manhã seguinte, quando ele acordou, seu amigo havia sumido.

O amigo havia acordado cedo para escalar o Kampenwand uma vez mais antes deles descerem. Seria sua última vez. A chuva havia afrouxado o que seria uma agarra regular, que quebrou.

Ele caiu para a morte.

Na primeira noite ficamos na cabana Sonnen Alm atrás do Kampenwand. Meu pai refletiu em memórias passadas sobre quão bonitos os Alpes ficavam no inverno. A neve cobrindo as montanhas e deixando as cabanas submersas tão fundo que elas quase se perdem na neve.

As cabanas foram construídas com uma atenção Alemã para os detalhes: robustas e precisas em sua construção.

Os Bávaros gostam da palavra Gemütlichkeit . Ela significa aconchegante. Aquela pesada manta branca cobrindo a cabana, em conjunto com a construção robusta, criava uma sensação ótima de escapar o inverno frio. A cabana era Gemütlich para o viajante da montanha, um refúgio do rigor e aspereza da vida.

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Meu pai ama plantar comida saudavel lá em Tennessee. É algo que ele valoriza. Ele via uma ênfase semelhante aqui na Bavária. Ele falava sobre o Heu Milch (leite de feno), pão assado em forno de pedra, e dunkel bier.

O leite era de vacas que pastavam em gramas verdes e suculentas nos campos altos dos Alpes; o pão era feito com ingredientes integrais; a cerveja escura era espessa com atenção especial de cervejarias de famílias.

Sentados em nossa mesa de jantar no canto da cabana, em bancos típicos da Bavária, nós olhávamos para a linda paisagem verde lá fora. Era Gemütlich.

Em nosso último dia, nossa cabana estava nas nuvens. Nós voltaríamos logo menos para os EUA. Meu pai parecia triste, com os olhos com um pouco de lágrimas. Ele disse que esta seria provavelmente a última vez que ele vivenciaria esta área onde ele cresceu.

Com 86 anos de idade, ele sentiu o impacto inteiro desta realidade. Tudo parece imediato quando estamos perto da morte e parece deixar claro o que é importante. Ele se perguntou quão diferente sua vida teria sido se sua família não tivesse perdido Guggenbichl. Tanto havia se perdido.

Ele refletiu sobre quão injusta a vida pode ser.

Nossas vidas parecem ser feitas de memórias. Aqui no alto dos Alpes, sentado em uma cabana perdida nas nuvens, parecia que meu pai estava perdido em memórias, memórias do que foi e memórias do que poderia ter sido. Nossa viagem logo acabaria. Nós deixamos a cabana, descemos abaixo da camada de nuvens, adentrando o vale.

O sol estava brilhando. Ele parecia se sentir melhor com a idéia de voltar para sua pequena fazendo no Tennessee e cuidar de seu jardim. Eu acho que ele começou a desapegar dessas memórias.

A vida é difícil. A perda de um lar; a morte de um amigo; a perda de um estilo de vida. Mas a vida também é maravilhosa. O lar que temos agora; nossos amigos e família; como escolhemos viver hoje. A vida parece ser um processo de constantemente desapegar, para que novas memórias possam ser feitas hoje.

Se permanecermos no gemütlichkeit da cabana, nós apenas vemos a vida passar por uma janela. Nós devemos abrir a porta e caminhar lá fora.

Se prestarmos atenção, as nuvens do passado se dissiparão permitindo que os raios de sol de hoje brilhem em nossas vidas. Esta é uma lição valiosa para eu perceber também.

Eu quero compartilhar meu passado com meu filho.

Eu quero que ele saiba de onde eu vim, em todo o esplendor de nossas vidas hoje.

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Tradução do original em inglês: Gabriel Veloso

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