Pequeno retrato de um dos maiores alpinistas da história: Quem foi Ueli Steck e qual seu legado?

Todos que acordaram no último domingo tiveram uma desagradavel surpresa com a notícia da morte de Ueli Steck. Alguns ficaram chocados, outros atônitos mas, com certeza, todos tristes por ser um dos maiores alpinistas da história mundial ser a primeira morte fatal da temporada de montanhismo do Everest. O alpinista suíço estava se preparando para a primeira travessia Everest-Lhotse sem o uso de oxigênio suplementar.

Ueli Steck nos últimos anos também protagonizou declarações duras a respeito do turismo de montanha no Everest e criticou veementemente a situação que se encontra o montanhismo no Nepal. As críticas fazem parte de algum dos filmes mais importantes sobre atividades de montanha de todo o mundo “High Tension“. Mesmo após suas denúncias e críticas pouco mudou na maneira como o Everest é explorado por apresentadores de TV e publicitários que quase nada de currículo possuem no montanhismo.

Início

O alpinista suíço é marceneiro de profissão e começou a se dedicar à carreira de montanhista de alto nível no ano de 1995, quanto então tinha apenas 18 anos. À época realizou suas primeiras escaladas na face norte do Eiger, um dos maiores ícones da escalada mundial com de 3.970 m de altitude e declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 2001. Esta montanha fazia parte da paisagem típica da cidade onde morava.

Pela face norte do Eiger aperfeiçoou seu estilo de escalada alpina pelo qual ficou mundialmente conhecido: a velocidade. Com uma resistência e forças impressionantes realizou ascensões com tempo recorde seguidamente baixando drasticamente os valores estabelecidos anteriormente. Em novembro de 2015 (junto de Nicolas Hojac) baixou em 39 minutos, com o espantoso tempo de 3h46min, a ascensão da face norte do Eiger. O antigo recorde datava de 2011. Um ano depois estabelecia um novo recorde, agora em estilo solitário, de 2h22min, superando assim em seis minutos.

Entretanto o Eiger não foi o único terreno que Ueli Steck pôde espantar o mundo com seu alpinismo de velocidade. O Matterhorn, também conhecido como Cervino, é talvez a montanha mais conhecida dos Alpes.

Lá o suíço venceu o desafio 82 summits no qual, impressionantemente, ascendeu 82 montanhas de 4.000 nos Alpes no período de 62 dias. O feito garantiu a ele o apelido de Máquina Suíça (Swiss Machine) em alusão aos lendarios relógios de seu país.

Himalaia

Da mesma maneira que jogadores de futebol sonham em jogar a Liga dos Campeões da Europa (Champions League), os montanhistas profissionais ambicionam ir ao Himalaia. Com Ueli Steck não poderia ser diferente. Por isso o suíço sonhava em escalar nas maiores montanhas do mundo. Perfectionista procurou construir um currículo mínimo de ascensões que o deixasse apto a ir ao Himalaia.

Diferentemente das sub-celebridades e pseudo montanhistas que visitam todos os anos o Everest por puro marketing pessoal, Steck queria estar preparado de verdade para as altas montanhas do Himalaia.

Por isso desde o início dos anos 2000 Ueli Steck começou suas ascensões em locais longe dos Alpes. Desta maneira realizou ascensões notáveis:

  • 2001 – Escalou a face oeste do Pumori (montanha do Himalaia de 7.161 m) junto de Ueli Buhler
  • 2002 – Fez a primeira ascensão da face leste do Mount Dickey (2.909 m) no Alasca
  • 2003 – Escalou Punta Herron (2.750 m) na patagônia Argentina
  • 2005 – Primeira ascensão em solitário da face norte do Cholatse (6.440 m) no Himalaia
  • 2005 – Primeira ascensão em solitário da face leste Tawoche (6.505 m) no Himalaia
  • 2006 – Primeira ascensão da face noroeste Gasherbrum II (7.772 m) no Himalaia
  • 2008 – Acensão em estilo alpino a face norte Tengkampoche (6.500 m) no Himalaia (Esta ascensão lhe valeu o Piolet d’Or)
  • 2009 – Ascensão em solitário do Gasherbrum II (8.035 m)
  • 2009 – Ascensão em solitário Makalu (8.485 m)
  • 2010 – Ascensão em solitário da face sul Shishapangma (8.027 m) em 10h30min
  • 2010 – Ascensão em solitário do Cho Oyu (8.188 m)
  • 2012 – Ascensão pela face sul sem oxigênio suplementar do Everest (8.848 m)
  • 2013 – Ascensão em solitário do Annapurna (8.091 m)

Polêmicas

Ueli Steck também se envolveu em algumas polêmicas durante a sua carreira. A ascensão ao Annapurna foi a que mais lhe custou tentativas infrutíferas. Alguns escaladores exigiram provas mais concretas de duas conquistas. A exigência de provas concretas por parte de alpinistas de alto nível, como era o caso de Ueli Steck, até hoje é tema de debate entre comissões de premiações de montanhismo.

Porém inegavelmente com tantas conquistas no currículo Ueli Steck tornou-se uma verdadeira estrela do alpinismo mundial. Fosse possível traçar um paralelo entre esportes, o suíço seria uma espécie de LeBron James do montanhismo mundial (tendo como Michael Jordan o lendario Reinhold Messner). O estrelato de Ueli Steck chegou a um ponto que qualquer declaração era reproduzida por meios de comunicação. Mesmo quanto tomada fora de contexto, sendo boa ou ruim.

Este tipo de exposição criou um estado de tensão muito grande no suíço, e a pressão midiática foi intensificando à medida que o montanhista continuava a estabelecer recordes.

Durante sua escalada no Annapurna, que foi uma conquista perseguida por anos, houve sua maior polêmica: o incidente do Everest 2013. Junto com o italiano Simone MoroJonathan Griffith durante uma escalada acabaram por ofender trabalhadores sherpas durante um dia de escalada. As ofensas gerou revolta generalizada no acampamento base do Everest. Assim que desceram da escalada os trabalhadores sherpas foram tirar satisfação com os montanhistas, sobretudo com Simone Moro o qual foi quem proferiu as palavras de baixo calão.

Posteriormente, no ano de 2014, viajou até Shishapangma (décima quarta montanha mais elevada do mundo com 8.013 m) alegando estar de férias quando se uniu a um grupo de montanhistas. O tempo na montanha apresentava as piores condições para a escalada, mas mesmo assim Steck optou por arriscar a escalada. No ataque ao cume os montanhistas Andrea ZambaldiSebastian Haag morreram. A comunidade de escalada criticou pesadamente Ueli Steck pelo ocorrido. Especialmente as empresas que exploram o montanhismo turístico do Everest acusando-o de não ter se esforçado nos resgates dos membros da expedição.

Anos mais tarde, quando voltou ao Shishapangma para escalar, encontrou os restos mortais dos escaladores David Bridges e Alex Lowe, que haviam morrido 17 anos antes.

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