O tempo, uma comodidade ilusória

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foto: http://warriorsway.com

O tempo, uma comodidade tão ilusória. Porém, é tudo o que temos em nossas vidas.

Uma das minhas citações favoritas sobre o “tempo” vem do filme O Senhor dos Anéis: “(…) Tudo que temos que fazer é decidir o que fazer com o tempo que nos é dado.” O que eu decidirei fazer com meu tempo?

Eu fui atraído para Laurel Knob porque eu gosto de desafios que requerem tempo. Nós não conseguimos completá-los em uma hora. Eles podem levar dias, semanas, meses ou anos.

Os desafios extensos de Lauren Knob requerem que a pessoa se torne íntima com os processos envolvidos em cumpri-los.

Eu decidi que Laurel Knob fazia meu tempo valer a pena. Tudo começou quando entrei em contato com Shannon Stegg que adorava Lauren Knob e havia escalado lá por muitos anos. Eu dirigi do Tennessee; Shannon dirigiu da Georgia. Ambos chegamos tarde à noite.

Mas, sem desculpas. Estamos de pé às 5 da manhã fazendo café e preparando para nosso dia.

Tudo é grande em Laurel Knob, o que significa, é claro, que leva tempo. É uma parede de pouco mais de 300 metros de granito amaciado pela água. A água escorre pela face durante as chuvas e abrem caminho dentro das caneletas naturais.

Por milhões de anos no tempo, as caneletas são cortadas cada vez mais profundamente. Podemos sentir os efeitos do tempo ao escalarmos estas caneletas.

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Foto: http://warriorsway.com/

Para chegar na montanha também há que percorrer uma longa trilha. Nós fizemos uma trilha atravessando outra montanha, a Big Green, através das moitas da Laurel, de estradas abandonadas, de riachos abrindo caminho para a face principal. Depois ela aparece à vista. É cedo na manhã.

O sol está escondido atrás de camadas de nuvens, que fazem um redemoinho no topo da face, criando uma névoa que cobre a face de cima. Há umidade no ar. Água! Ela vem na forma de névoa soprando ao longo da face; depositada na face do granito em gotas; reunida em gotas pesadas que são puxadas pela gravidade para as caneletas. As gotas se combinam para formar pequenos córregos, cortando e abrindo caminho cada vez mais fundo na montanha.

Tempo! Uma eternidade de tempo. Esta não é uma hora para se apressar; é uma hora para ficar parado, observar e escutar. Estar no momento, no agora, sentir a imensidade da eternidade.

Leva tempo para escalar uma via em Laurel Knob. Começa cedo, escala o dia inteiro, e faça a trilha de volta no escuro. Laurel Knob tinha várias vias estabelecidas quando eu fui escalar lá pela primeira vez. Depois de escalar algumas vias eu comecei a procurar uma para eu mesmo criar.

E lá estava ela: uma fenda angulada pela direita alto na face. Eu adoro encontrar linhas naturais de fraquezas para escalar. Fraquezas? Sim, montanhas são muito difíceis de escalar. Podemos escolher um trecho difícil, mas estamos sempre procurando a forma mais fácil para passar aquele trecho difícil.

Esta linha fluiu naturalmente. Os 60 metros iniciais tinham trechos de aderência com batentes e agarrões salientes que podíamos segurar. Esta aderência é seguida pela fenda angulada pela direita de 45 metros. Além da fenda é onde a água entra nas caneletas, algumas rasas e algumas profundas.

Eu perguntei a Shannon se ela havia sido escalada antes. “Bom, Burton Moomaw e RalphFickel haviam escalado até o topo da fenda nos anos 90, mas pararam por lá”, ele disse. Então, eles haviam começado, mas não terminado. Estariam eles dispostos a me deixar juntar a eles para terminá-la?

Eu liguei para Burton, mas ele não estava interessado. Por que? Ele tinha problemas de saúde que impediam ele de escalar. Mas Ralph estava interessado, então acompanhados de Shannon aceitamos o desafio de terminar a via.

Burton e Ralphhaviam chamado a via de Defective Sonar (Sonar Defeituoso) porque um morcego havia batido no caminhão deles quando eles dirigiam para a pedra. Talvez eles deveriam tê-la chamado de Defective Radar (Radar Defeituoso), já que morcegos têm radar e não sonar?

De qualquer forma, Nós iríamos encontrar algo defeituoso em nossa aproximação para escalá-la.

Não vou te entediar com uma seqüência detalhada de eventos. Não temos tempo suficiente para isso. Em nossa primeira visita em Abril de 2008, chegamos ao ponto alto da fenda de Burton e Ralph. Conseguimos chegar um pouquinho além, até a base de uma caneleta rasa de água. Já era tarde no dia.

Estávamos mais da metade acima da parede, a parte mais inclinada abaixo de nós, e olhando acima para o resto da face. Ela se inclinava para dentro, ficando arredondada, virando trechos de aderências com menos ângulo conforme ia ficando mais alto. Nós estávamos empolgados enquanto rapelávamos para baixo. Nós tínhamos certeza que chegaríamos ao cume na próxima visita.

Temor e respeito, as ilusões que as montanhas criam. Uma surpresa nos esperava. Havia um defeito em nossa percepção do tempo.

Nós voltamos em Maio e escalamos ao nosso ponto alto, o que levou a maior parte do dia, escalamos a caneleta rasa, mas a face ainda se elevava acima de nós. Escalamos outra cordada, uma face complexa de granito, e a parede ainda continuava, Aonde está o topo? Ela seguia para cima sem fim. O sol estava baixo no céu da tarde, mas decidimos continuar.

Eu escalei em uma caneleta profunda enquanto o sol e a escuridão desciam. Após quase 60 metros de escalada, eu cheguei em uma pequena borda saliente. Eu olhei acima para a escuridão e a parede continuava acima de mim. Nós havíamos escalado mais de 300 metros e a parede ainda continuava.

Nós rapelamos, empolgados com o que havíamos conseguido,mas confusos sobre o que ainda havia que ser feito.

Foto: http://warriorsway.com/

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Nós voltamos em Junho e decidimos começar mais cedo ainda. Escalamos as aderências do começo, a fenda angulada para a direita, a caneleta rasa, a face complexa e a caneleta funda até o nosso ponto alto. Sete cordadas de escalada. Agora, na luz remanescente podíamos ver.

A parede acima se tornava uma aderência de baixa angulação. Tínhamos uma cordada mais para escalar.

Depois nós nos revolvemos para escalar os últimos 60 metros de aderência com baixa angulação conforme a montanha se arredondava até o cume. Havíamos terminado a Defective Sonar, a via de Ralph e Burton.

Há algo defeituoso na maneira que nós percebemos o tempo. Na vida, nós pensamos que temos mais tempo do que realmente temos. É importante escolher nosso desafio cuidadosamente porque investiremos nosso tempo para cumpri-las. O tempo voa; ele não espera por ninguém.

É melhor prestar atenção. Laurel Knob me fez apreciar como eu gasto meu tempo.

Fique quieto, observe e escute.

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Tradução do original em inglês: Gabriel Veloso

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