O problema das atletas femininas – A verdade oculta da cultura machista das mídias tradicionais e impressas

Enquanto dissecava as coisas que fiz online percebi algumas coisas: sempre que procuro por vídeos e blogs sobre escaladoras femininas (procuro para me inspirar a treinar mais forte) acho algo chato que é a pequena quantidade disso para assistir ou ler.

A um tempo atrás eu comecei uma fanpage do Facebook dedicada a compartilhar um pouco de informação, mais visual, sobre mulheres escaladoras. Hoje percebi que existiam iniciativas deste tipo de divulgação na web, conectando mulheres, facilitando informação e inspirando o compartilhamento, e até convidando para que conheçam a vida real e para treinar juntas.

E fiquei curiosa: Por que há mulheres recorrendo à internet pegando suas câmeras para compartilhar sua paixão com outras mulheres escaladoras? Deste ponderamento, uma pesquisa investigadora nasceu.

Depois de quatro milhões de pesquisas acadêmicas depois, comecei o que antropologicamente chama-se “trabalho de campo”, que inclui um processo de entrevistas. Queria conhecer o que as pessoas realmente pensam. Oito mulheres escaladoras concordaram em passar longas horas comigo, conversando sobre coisas que variaram desde assuntos sérios até banais.

Foto: http://www.outdoorwomensalliance.com/ | CC mariachily

Foto: http://www.outdoorwomensalliance.com/ | CC mariachily

Em um deles V., uma instrutora de escalada no meu ginásio de escalada local. Sentamos em um piso acolchoado embaixo de um campus board quando eu liguei meu gravador para começar a entrevista. Obviamente o fato deixou V. apreensiva, sem entender porque diabos eu comecei a falar sobre feminilidade.

Uma ex-patinadora, ela não via a escalada como masculinamente dominada (“Bem, ao menos não se comparada com patins”, disse), e não entendia meu interesse nos problemas de mulheres (“Oh, estas garotas e garotos pensando novamente…”), e não tinha muita opinião a respeito sobre mídia de escalada (“Eu gosto só de escalar, sabe… Não preciso ler muito sobre isso”).

Andamos por uma hora antes de desligar meu gravador, mas eu sabia que entrevistados tendem a dizer as melhores coisas quando teoricamente a entrevista “acaba”. V. não desapontou: “Se você vai até as lojas e olhas as revistas,” de repente disse, “sempre tem – não sei porque – 75% das capas mostrando mulheres. Mas há menos garotas (que a média) escalando. Dê uma olhada. Se há uma capa legal, sempre é uma garota”.

Então nos levantamos e fomos para fora até a loja de equipamento localizada no outro lado do jardim da academia. Havia uma grande pilha de revistas “Climbing” e “Climber” na entrada e olhamos algumas capas. Duas a cada quatro mostravam mulheres, então outro de quatorze, etc… Rapidamente se tornou mais que a metade das capas em apenas uma amostra aleatória de fato mostravam mulheres.

O proprietário da loja olhou para nós por trás do caixa, intrigado em saber o que estávamos fazendo. Depois de uma breve explicação, ele se apoiou no balcão e disse: “Olha, pode soar horrivelmente sexista, mas depende de que tipo de capa é: a via ou a uma decorativa. Se é decorativa, usualmente é uma mulher. A via não necessariamente precisa ser difícil”.

E é assim que você vende uma revista de escalada.

Nós temos um problema

Foto: http://www.outdoorwomensalliance.com/ | CC Rsriprac

Foto: http://www.outdoorwomensalliance.com/ | CC Rsriprac

Entrando um pouco no assunto da objetificação da mulher em mídia esportiva, isto deveria realmente ser uma surpresa? Afinal o discurso dominante é algo assim: Garotas são bonitas, mas elas não podem fazer esportes, então vamos colocar uma aqui e ali. tenha certeza que ela seja realmente gostosa.

Afinal, não é sobre suas habilidades, é sobre sua cara bonita. Ela fará homens comprar a revista e fazer outras mulheres ser como ela, porque eles a acham atraente. Quer dizer, que outras coisas uma mulher possivelmente quer fazendo esportes que não seja encontrar um cara?

Pode soar desagradavel, mas é a verdade na mídia mainstream. Você pode encontrar confirmação  tanto em estudos científicos quanto em campanhas como a #notbuyingit.

Aparentemente é uma tática de marketing para alavancar a mídia esportiva também:
homens e mulheres de mente aberta lutando contra o preconceito , e da um soco de volta com um fluxo de grandes patrocinadores que querem ganhar muito dinheiro .

Graças ao progresso tecnológico, mulheres podem ficar livres do patriarcado da mídia por si mesmas. Entretanto discutir é necessário. Eles perguntam porque mulheres atletas, amadores ou profissionais, desejariam se separar dos homens em mídia ou, mais amplamente, por que o mundo necessita de uma mídia esportiva orientada a mulheres afinal? Visto como excessivo, é oferecido às vezes com um pouco de auto-confiança e necessita ser vista como algo igualitário com os homens.

A resposta está na separação não do medo de comparações, mas na criação de um equilíbrio. Visto que um grande acúmulo de conteúdo que representam adequadamente as mulheres é necessário.

É também sobre “vender” os esportes, incluindo a escalada, para mulheres. Porque há ainda menos mulheres escaladoras que homens? Não é porque gostamos menos de escalada, mas porque nossa cultura não encoraja mulheres para ser fisicamente da mesma maneira que homens, então perdemos as consequências positivas de usar nossos corpos para razões que não seja para satisfazer a massa masculina. (Confio que não preciso listar elas aqui).

Em um tempo  de que a mídia influencia crianças tanto quanto família e escolas, é mais importante lutar por uma representação justa para ajudar as meninas a ficar empolgadas com atividades físicas

Antes de julgar um esteriótipo de mulheres em uma mídia de massa pense nisso: Para escalar, treinar, escrever e fazer algo aventureiro que seja importante tanto para homens quanto para mulheres. Nem mais e nem menos.

É hora de ajudar mulheres nesta busca de uma mídia mais justa e equilibrada que as inspire às metas atléticas não estéticas.

Artigo escrito por: Zofia Reych, pesquisadora/escritora com interesse em esportes, estudos de gêneros, aventura e todos as coisas físicas. Uma ciclista frequente em Londres, ex praticante de artes marciais, atualmente escaladora fanática e amante de café. Zofia também esquia, pratica parkour e ocasionalmente faz espeleologia. Pode ser seguida em seu blog UpThatRock e Twitter, além de ter uma página no Facebook celebrando mulheres escaladoras.

Tradução autorizada, texto original em: http://www.outdoorwomensalliance.com

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