O desafio de atravessar a Floresta Amazônica de bicicleta

Três ciclistas de São Paulo decidiram deixar temporariamente o caos da cidade cinza para explorar de bicicleta os desafios da região Amazônica, no norte do país, onde se encontra a maior e mais importante floresta tropical do planeta.

“A opção pela bicicleta é clara, queremos fazer o percurso devagar mesmo, ouvindo as pessoas, observando detalhes, aprendendo, convivendo e respeitando a natureza.

Uma relação completamente diferente do que fazer o mesmo percurso num 4×4”, explicou Daniel Santini, um dos idealizadores da expedição.

O projeto Cicloamazônia nasceu da vontade do jornalista em propor um trabalho investigativo, com apuração in loco de tudo que acontece naquela região.

O objetivo principal é dar voz aos moradores locais e trazer para nós um pouco dessa realidade.

“O fato de trabalhar escrevendo para dois lugares que têm milhares de cuidados com essa região influenciou muito o projeto.

Tanto o site  ‘O Eco’ – voltado para questões ambientais – quanto o  ‘Repórter Brasil’ – com foco em questões sociais e direitos humanos – tem um olhar cuidadoso em relação à devastação da Amazônia”, contou Santini ao Vá de Bike.

A viagem começa dia 28 de julho, com duração de cerca de dois meses, nos quais os ciclistas vão percorrer justamente o trecho mais problemático, de difícil acesso e tráfego da BR-230 (veja no mapa). São mais de mil quilômetros cruzando o estado do Amazonas.

O clima tropical da região Norte também será um desafio: muita poeira durante o verão, chuva e lama no inverno, além do calor de rachar todos os dias.

“Estamos fazendo essa cicloviagem sem ingenuidade, sabemos que não é fácil pedalar em terra, numa estrada em condições tão precárias e passando por regiões isoladas com dificuldade para qualquer resgate. Vamos ter muita dificuldade com calor, poeira, cansaço e insetos.

Estamos fazendo preparação cuidadosa, acompanhamento médico e já tomamos remédio para malária, problema comum na região.

Mesmo assim, não é uma loucura, nos preparamos bem e vamos fazer uma viagem responsável”

A Transamazônica

Com 40 anos desde a inauguração, a BR-230 nunca foi concluída e é, até hoje, um dos mais polêmicos projetos de ocupação do país.

Possui trechos precários e está longe de ser a rota de integração nacional pensada durante a ditadura militar.

Veja o mapa oficial da BR-230, disponível na página do Ministério dos Transportes.

“A Rodovia Transamazônica é emblemática pois mostra claramente a opção que o Brasil fez com o rodoviarismo.

O projeto foi apresentado na época da ditadura como uma possível solução para o problema da fome e da seca, integrando o nordeste com a baixa densidade demográfica na Amazônia.

Os militares apresentaram todo o projeto de colonização da Amazônia a partir disso, que é um bom instrumento de propaganda, mas na prática limita, simplifica e ignora um cenário complexo da riqueza de detalhes que já existia na região”, explicou Santini.

Além do desafio de atravessar a Floresta Amazônica de bicicleta, a viagem tem como objetivo reunir informações sobre os impactos dessa estrada na vida e na dinâmica das pessoas e tentar entender a relação dela com quem vive em seu entorno.

“Existe hoje um fenômeno conhecido como ‘arco de fogo do desmatamento’ que vai avançando como um arco a partir do norte do Mato Grosso em direção a Amazônia, lá encontramos situações muito complicadas de desmatamento e complexos conflitos fundiários.

Vamos ver como isso está acontecendo e aliar tudo ao nosso interesse na questão de transporte”.

Cabelo tem um trabalho muito conhecido e respeitado, principalmente, entre os ciclistas

Os Participantes

Além de Santini, mais dois guerreiros vão se debruçar sobre esse projeto, o fotógrafo Marcelo Schadt Assumpção e o ilustrador Valdinei Calvento, conhecido como Cabelo.

Eles formam um trio muito poderoso que integra palavras, imagens e arte, numa fórmula que não tem como não dar certo.

Conheça mais da trupe

“Eu e o Marcelo fizemos algumas provas de Audax e lá descobrimos que é possível pedalar longas distâncias usando apenas a energia do próprio corpo.

Já o Cabelo foi convidado pela posição clara e forte com que se relaciona com a bicicleta e a natureza”, explicou Santini.

Apoios

O projeto tem contado com parcerias muito importantes para a sua realização. Além de O Eco e Repórter Brasil, a bicicletaria Anderson Bicicletas ajuda com peças, revisões e equipamentos; a Kampa  forneceu todo o kit sobrevivência da viagem, com redes para acampar, mosquiteiro, toldo e até treinamento sobre acampamento; e a marca de repelentes Exposis forneceu produtos que devem garantir que os meninos voltem sem malária.

“Próxima semana vamos lançar o projeto na plataforma de financiamento coletivo, Catarse , para que as pessoas possam nos ajudar principalmente com o ‘pós-viagem’, pois precisamos garantir uma boa produção, edição e divulgação de tudo que será apurado nesses dois meses.

A ideia é produzir reportagens e fazer um conjunto de materiais pra apresentar reportagens multimídias georeferenciadas sobre a transamazônica”, esclarece Santini.

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Fonte : http://vadebike.org/2012/07/pedalando-na-floresta-amazonica-cicloamazonia/

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