Conheça a nova rota no Nevado Huayllaco na Cordilheira Blanca no Peru

Nesse ano, na temporada de inverno na Cordilheira Blanca, no Peru, decidimos explorar a parte sul desta cordilheira, muito menos frequentada do que as quebradas que se localizam ao norte da cidade de Huaraz. Enquanto a maioria dos visitantes da Cordilheira Blanca preferem as atrações mais famosas dessa magnífica cadeia de montanhas, as porções mais desconhecidas ao sul nos pareceram mais promissoras.

Escolhemos como primeiro objetivo o Nevado Raria (5.576 m), escalado pela primeira vez em 1963 pelo italiano radicado no Brasil Domingos Giobbi, junto com os peruanos M. Ángeles e D. Solano. Giobbi foi o fundador do CAP – Clube Alpino Paulista, tendo realizado diversas expedições para a Cordilheira Blanca na década de 1960. Durante a escalada do Raria, uma linda parede nos chamou a atenção: tratava-se da face sul do vizinho Nevado Huayllaco (5.460 m), uma parede de gelo bastante inclinada, que terminava em uma aresta estreita protegida por grandes cornijas de neve.

Já de volta a Huaraz, fizemos uma pesquisa sobre o Nevado Huayllaco e descobrimos que também ele teve sua primeira ascensão realizada por Domingos Giobbi, junto com Eugenio Angeles e M. Angeles. Aliás, muitos cumes no sul da Cordilheira Blanca foram escalados pela primeira vez nas expedições organizadas por Giobbi. A rota da conquista do Huayllaco foi pela aresta sudeste, onde termina a parede que havíamos avistado.

E o mais interessante era que essa rota, aparentemente, era a única existente até então nessa montanha. Havíamos encontrado nossa próxima meta: a face sul do Nevado Huayllaco! Não tínhamos certeza se poderíamos cruzar as cornijas que se encontram no final da parede, para chegar à aresta e, daí, seguir até o cume, mas decidimos que valia a pena explorar essa face que, supostamente, ainda não havia sido escalada.

Após uma breve viagem à Bolívia, guiando uma expedição ao Pequeño Alpamayo e Huayna Potosí, regressamos a Huaraz. Em pouco tempo estávamos, novamente, com nosso acampamento base montado na laguna Verdecocha (4.650 m). A primeira parte da ascensão já era conhecida por nós, pois seguiríamos a mesma rota que usamos na escalada do Raria até o colo que separa o Raria Sul do Nevado Huayllaco.

A partir desse ponto, teríamos que encontrar nosso caminho entre as gretas até a parede. Passamos por um labirinto de gretas sem maiores problemas até chegar à grande rimaya na base da parede. Por sorte, encontramos uma ponte de gelo suficientemente sólida que nos permitiu superar essa perigosa greta.

Por se tratar de uma face sul, que fica boa parte do dia na sombra, pensávamos que encontraríamos gelo de boa qualidade. Escolhemos uma linha direta pela parede, com uma inclinação média entre 60o e 700, que levava a uma porção rochosa no extremo esquerdo das cornijas, já bem próximo do cume principal, onde talvez fosse possível cruzar esse obstáculo de gelo para chegarmos à aresta. Porém, em toda a parede predominava a famigerada “nieve polvo”, bem típica da Cordilheira Blanca e que dificulta muito a progressão, principalmente em paredes dessa inclinação.

Escalamos toda a parede em uma linha perfeita e com um visual fantástico, até a entrada da aresta. Resolvemos concluir a ascensão sem passar para a aresta sudeste, pois a instabilidade da neve no ponto mais inclinado da parede, junto com as ameaçadoras cornijas acima de nós que poderiam se romper, não trazia as mínimas condições de segurança e não fazia sentido continuar. Mas a linha na face sul está aberta e foi realmente fantástico poder escalar em uma parede tão bonita e intocada! Graduamos a rota em D na escala alpina francesa.

Mesmo na Cordilheira Blanca, tão extensivamente visitada, ainda é possível encontrar muitas possibilidades para abertura de novas rotas. Em um breve levantamento, já identificamos vários projetos interessantes para os próximos anos (inclusive cumes virgens!). Basta pesquisar, ser criativo e aderir ao espírito do montanhismo de exploração!

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