8 de Março: Um viva às mulheres e às montanhas nesse dia

Nota do editor: Na semana da mulher, a Revista Blog de Escalada pediu que praticantes destacadas de seus esportes escrevessem seus sentimentos sobre o universo outdoor, tendo toda a liberdade para expor seus sentimentos. Desta maneira a Revista Blog de Escalada, mais uma vez, demonstra ser o veículo brasileiro que mais respeita a diversidade.

O texto é de inteira responsabilidade e autoria das convidadas. Sem qualquer tipo de censura prévia.

A primeira convidada na semana da mulher é a escaladora Renata Calmon


Por Renata Calmon

Num filme há sempre momentos de virada: fatos extraordinários que balançam a vida do personagem. Nossa vida também está repleta desses turning points (acidentes, escolhas, surpresas), que são determinantes na nossa narrativa. O dia em que eu comecei a escalar com certeza foi um desses divisores de água na minha trajetória.

Eu vinha de uma separação, já estava meio de saco cheio de ficar batalhando papéis de atriz, e estava sem um lugar para morar. Tudo parecia meio fora de lugar, e aí eu vi um documentário de escalada maravilhoso (Valley Uprising) que fez com que eu imediatamente fosse para o ginásio de escalada para sacar o que era aquele esporte. Amigos que eu fiz no ginásio logo me levaram para rocha e a partir disso um universo inteiro se abriu para mim.

 

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Lembro das primeiras vezes que subi uma parede, como parecia mágico todo o ritual da escalada: estudar o croqui no dia anterior, separar os equipos, acordar cedinho, fazer a aproximação, vestir a sapata, a cadeirinha, passar a corda, sentir o contato da rocha na corpo, ver a paisagem se revelando no horizonte enquanto você sobe, o frio na barriga com a altura, e a merecida chegada ao cume. Tudo isso me enche de alegria.

Foi uma paixão tão arrebatadora que eu resolvi fazer o documentário “Mulheres são Montanhas”, sobre duas escaladoras de São Bento do Sapucaí, a Mônica Filipini e a Dani Pinto. Elas se tornaram minhas heroínas por escalar tão bem e manjar tudo das montanhas. Além de elas serem generosas o bastante para dividir suas histórias de vida comigo, elas também me ensinaram um bocado de escalada. Serei eternamente grata por isso.

Nem tudo foram flores no processo de filmagem. Eu tinha 800 reais para pagar passagem, alimentação e hospedagem para toda a equipe – que veio trabalhar sem ganhar nada. Fora que era meu primeiro filme e foi super desafiador produzir tudo sozinha e conseguir conquistar a confiança das pessoas de que daria certo (porque eu não tinha a menor ideia se iria mesmo dar certo). Felizmente o filme – com ajuda de muitos anjos – ficou bem bacana e pôde rodar por festivais no mundo inteiro. Então a escalada, além de trazer sentido para minha vida, me fez descobrir uma nova paixão: documentar histórias.

 

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A escalada também me trouxe um amor. A gente se conheceu na montanha, mais precisamente no col do Baú. Eu fazia os três cumes (Bauzinho, Baú e Ana Chata) aquele dia e ele descia de uma via na Pedra do Baú chamada “Domingos Giobbi”. Tudo o que eu sabia sobre o que era estar junto se transformou depois que eu encontrei meu atual companheiro. Além de parceria, respeito, afinidade, e muito amor, temos uma grande paixão em comum: a montanha.

E é muito bom dividir isso com alguém.

 

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A escalada também me trouxe musas escaladoras incríveis que estão sempre se desafiando: Brete Harrington, Steph Davis, Lynn Hill, Roberta Nunes, Mariana Candeia (Mita) e Branca Franco. Ver que essas mulheres moldaram suas vidas para escalar nas montanhas me inspira diariamente.

Eu estou muito feliz hoje por tudo o que a montanha me trouxe. Eu não sou uma pessoa muito espiritualizada, mas gosto de imaginar que ela é uma deusa, a quem eu peço proteção, desafio e transformação. Espero que na minha história eu sempre a tenha por perto. Viva às mulheres e às montanhas nesse dia.

 

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