Manual do montanhista ecologicamente correto

No final do ano passado foi divulgado um relatório pelo órgão das Nações Unidas chamado Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que é possível minimizar a catástrofe climática. O documento de 400 páginas foi elaborado por vários especialistas no assunto, sugerindo mudanças sensíveis e enérgicas no modo de vida atual. Caso a mudança seja implementada, será possível para limitar o aquecimento do planeta em 1,5°C em relação ao período pré-industrial.

Segundo o Acordo de Paris, tratado que rege medidas de redução de emissão de gases estufa a partir de 2020, a mudança no modo de vida é um esforço necessário dos países no sentido de reduzir o aquecimento global. Portanto, cabe a cada cidadão cobrar os governos de seu país, estado e cidade, para implementar medidas que incentivem e obriguem as pessoas a se adaptarem a um novo estilo de vida. Não será confortável para ninguém, mas se ninguém estiver fazendo um sacrifício neste sentido, teremos um futuro que sequer poderemos praticar atividades outdoor.

Portanto, além de cobrar os governantes e políticos, devemos também implementar mudanças de comportamento em nós mesmos.

Da mesma maneira que uma pessoa que quer emagrecer passa por uma reeducação alimentar, a população terá de também passar pelo mesmo processo, só que em relação ao seu estilo de vida. Evidentemente esta mudança de comportamento passa pelos praticantes de esportes outdoor, que é quem frequentemente usufrui da natureza e depende muito dela para continuar a praticar a atividade a qual se dedica.

Esportes outdoor e economia

Foto: http://www.stealingshare.com/

Embora pareça pequeno, o universo de esportes outdoor é grande e muito maior do que muitos acreditam. Outrora considerado uma atividade de nicho, os esportes outdoor hoje já é das maiores indústrias dos EUA. Ao todo a indústria de esportes outdoor já contribui com US$ 412 bilhões o equivalente a 2,2% do PIB norte-americano. Atualmente a indústria outdoor é maior que a agricultura (que representava 1% da economia em 2016) e mineração (que representava 1,4% em 2016) dos EUA.

No Brasil e na América do Sul este número é significativamente menor, mas mesmo assim não é desprezível. A Adventure Sports Fair, agora sob uma direção mais profissional e com uma visão moderna do mercado, retomou o crescimento e vem chamando atenção de vários investidores. A exibição de filmes outdoor, que tinha sofrido um revés em apostas popularescas e equivocadas de exibição em parques públicos e dependência irresponsável de dinheiro público, voltou a crescer em 2018 com salas lotadas e chamando a atenção reunindo no total um público por volta de 5.000 pessoas em quatro cidades do Brasil. Para o ano de 2019 a perspectiva de de mais crescimento e maior participação com o público.

Além disso, como pode ser lido abaixo, há várias oportunidades de negócios escondidas em vários dos problemas que vivemos. Há programas e aplicativos de trocas de materiais outdoor para serem desenvolvidos (sim, no Brasil não existe), programas de reciclagem de botijões de fogareiros (sim, no Brasil há grande potencial a ser explorado nesta área), criação de botijões de fogareiro recarregáveis, implementação de planos de recuperação de equipamentos outdoor, etc. Há no universo outdoor uma infinidade de oportunidades de negócios a serem exploradas, mas para isso é necessário esquecer um pouco o complexo de vira-latas e não se intimidar com qualquer obstáculo.

Praticante ecologicamente correto

Mas então, o que o praticante de esportes outdoor pode fazer para o planeta? Seguramente muito mais do que apenas começar a usar um shit tube para um trekking. Pois muito além de se comportar de maneira exemplar na natureza, é imprescindível também observar como é seu modo de vida na cidade. Pois de nada adianta a pessoa se comportar em trilhas, escaladas e outras atividades outdoor, mas chegar na cidade e manter hábitos predatórios ao planeta.

Como dito no início do texto, para evitar que fiquemos sem os lugares que frequentamos com prazer, como glaciares, montanhas nevadas, trilhas à beira-mar, etc, devemos repensar nosso modo de vida. Para isso é importante tomar algumas medidas para não deixar vestígios.

  • Comprar equipamentos que durem
    • Quem pratica esportes outdoor sabe da importância. Os amantes de esportes outdoor são frequentemente considerados viciados em equipamentos. Quanto mais tempo passar praticando a sua atividade, mais rápido seu equipamento se desgasta e você precisa substituí-lo. Se você é novo em um esporte, é tentador economizar dinheiro e investir em produtos de baixa qualidade. Mesmo quem e experiente tem este hábito. Mas a compra de equipamentos de qualidade, que duram mais, é uma econômica a longo prazo. Além disso, também é mais ecológico, pois reduzindo o número de barracas, isolantes e sacos de dormir que acabam em aterros sanitários. Estes materiais não se deterioram facilmente e, comprando equipamentos porcarias, para serem jogados fora logo depois é poluir o planeta.
    • Além disso, exija do fabricante qualidade e longevidade de seu equipamento. Se o equipamento for ruim, mas o público nem se interessa em criticar, protestar e pressionar a marca a implementar qualidade, ela pouco se importará com uma eventual poluição. Afinal, se ela já vendeu que importa a ela se o material foi abandonado em algum lugar?

  • Reaproveitar equipamento aposentado
    • Equipamentos aposentados, após longo uso, devem ser reaproveitados. Cordas de escalada podem virar desde tapetes a guias de cachorros ou ser doada a caminhoneiros. Casacos podem ser doados para a caridade, ou mesmo para situações humanitárias como a que acontece na nossa vizinha Venezuela. O mesmo pode acontecer com botas, meias, calças, mochilas, etc. Se o equipamento estiver precisando de reparos, verifique se a sua marca faz este tipo de serviço para dar uma sobrevida ao seu equipamento.
    • Se você precisa atualizar o seu equipamento que tem, mas o qual ainda é útil, considere vendê-lo através de feira da pechincha ou doar para organizações necessitadas. Nos EUA existem programas como o Gear Forward, o qual aceita equipamentos outdoor usados e o presenteiam para a próxima geração de praticantes. Nos EUA também existe o Bikes Not Bombs que recondiciona bicicletas antigas, para ajudar a transformar comunidades em países em desenvolvimento. Ambos os programas, para você que está pensando em criar algo semelhante no Brasil, é uma excelente ideia e que não existe ainda algo consolidado no país.

  • Diminua o consumo de plástico
    • Parece implicância (na verdade é), mas é importante relembrar que o vilão de 2019 são os plásticos. Importante lembrar que somente pessoas com miopia social é que enxergam somente o canudo plástico como o “inimigo da vez”. Há de reduzir também o copo de plástico destes usados em festas, escritórios e clínicas, aquela pazinha de plástico que é usada somente para mexer o cafezinho, a quantidade de plásticos nas embalagens, etc. Mas muito além disso, as embalagens plásticas de comida (vegana, vegetariana e comum) disponibilizada no supermercado e que é amplamente consumida por quem pratica esportes outdoor. Mesmo quando chegar de sua atividade e pedir comida por um aplicativo, as embalagens que são entregues em sua maioria são de plástico.
    • Como alternativa aos sacos de plástico descartáveis, opte por usar cera de abelha compostável, envoltórios de cera vegana ou embalagens feitas de bambu. Os envoltórios de cera são leves, protegem sua comida e são flexíveis o suficiente para moldar em qualquer tipo de lancheira, pacote de lanche ou comida.
    • Se está acostumado a consumir garrafas PET, mesmo reutilizando depois, procure abandonar esta prática. As garrafas PET reutilizadas, em média, são usadas por volta de 5 vezes e posteriormente descartadas. Portanto, não adianta reutilizar por poucas vezes, o melhor é abandonar por completo o uso deste tipo de recipiente. Procure utilizar garrafas resistentes e que não prendem o gosto, como os modelos Nalgene ou similares. Uma garrafa destas, em média, é usada por volta de 3 a 5 anos e raramente quebra, sendo descartada posteriormente.

  • Botijões de gás
    • Os botijões de gás geralmente é um problema que quem pratica não se preocupa. Logo após encerrar a atividade, seu destino é um lixo comum. Não é possível afirmar que todos, mas uma boa porcentagem dos praticantes de atividades outdoor, não se preocupam com depositar estes botijões em local adequado. O motivo desta despreocupação é até relativamente “aceitável”: pouquíssimas lojas de produtos outdoor recolhem este botijão. Pior: as lojas não se preocupam, porque maioria das marcas que fabricam estes produtos também não possui um programa de reciclagem destas embalagens. Desta maneira, evidencia um problema crônico de desinteresse de toda a cadeia em eliminar este tipo de problema.
    • Infelizmente no Brasil, assim como grande parte da América Latina, não há uma cultura de utilizar botijões de fogareiros recarregáveis. Isso porque não há um modelo vendido e sequer há um lugar para levar e carregá-lo. Cabe aos praticantes pressionarem as marcas

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