Toda atividade que passa por um processo de popularização acaba por sofrer um efeito colateral e com os esportes de montanha, infelizmente, não poderia ser diferente. Muito conteúdo de credibilidade duvidosa é construído, em sua maioria, por publicitários coxinhas que prestam um desserviço enaltecendo feitos vazios e sem importância para capitalizar atenção (para vender aquilo que não existe ou não é necessário) entrando de carona do hype que o esporte. Nesta onda do “oba-oba” até mesmo são criados veículos vazios e sem o real espírito de uma pessoa que verdadeiramente pratica o esporte. Este processo de vulgarização é semelhante às empresas chinesas que correm desesperadamente copiar produtos eletrônicos utilizando mão de obra escrava e vender por preços irrisórios
Este desvio de visibilidade que geralmente é sempre apoiada por um espírito mesquinho que, inevitavelmente, incentiva os vícios sociais os quais atrapalham a todos: nepotismo, corporativismo, fisiologismo e clientelismo. Vícios estes que procuram a todo custo buscar apenas o que pareça extraordinário e omitir o que, aos seus olhos preconceituosos, seja ordinário.
Por esse motivo é tão importante a divulgação de produtos e conteúdo de qualidade, especialmente de quem leva a sério a sua atividade e não pelo que a “modinha” esteja ditando. No ano de 2013 a primeira expedição de afro-descendentes dos EUA, patrocinados pela NOLS (National Outdoor Leadership School), se organizaram para chegar ao pico mais alto de seu país (Monte Denali – 6.168 m) localizado no estado americano do Alasca. O autor James Mills descreve a aventura com riqueza de detalhes além de focar também em como as minorias não possuem acesso à atividades de recreação como atividades de natureza.
Apesar de ser um livro que descreve a expedição em montanha, também é uma obra que toda em um ponto que raramente é abordado neste tipo de obra literária: as diferenças sociais. James Edward Mills é jornalista e produtor de conteúdo e, na sua carreira, procura abordar temas sobre atividades outdoor, conservadorismo e práticas de sustentabilidade. Trabalhando no mercado outdoor desde 1989 tem o perfeito expertise para escrever sobre o assunto o que, obviamente, lhe concede uma qualidade de conteúdo e escrita diferenciada de seus colegas de profissão que muitas vezes são deslumbrados apenas com o que o que pareça extraordinário.
Escrevendo com paixão, mas sem parecer panfletário ou ativista (o que tiraria o foco do leitor na história) “The Adventure Gap” é uma obra interessante sobre a sociedade americana e, porque não, da civilização ocidental, pois aborta o delicado tema de assuntos deixados embaixo do tapete e que muitos fingem não enxergar.
James Mills também mostra bom conhecimento nos procedimentos de montanha e de como são essenciais para que qualquer expedição seja bem sucedida. “The Adventure Gap” é uma leitura quase obrigatória para todos e uma verdadeira lição de como abordar temas espinhosos de maneira elegante e madura.
Ficha Técnica
- Título: The Adventure Gap: Changing the Face of the Outdoors
- Autor: James Edward Mills
- Edição: 1ª
- Ano: 2014
- Número de páginas: 224
- Editora: Mountaineers Books
Equipe da redação