Livro da semana: “Invasão de campo: Adidas, Puma e os bastidores do esporte moderno” – Barbara Smit

Existem algumas marcas que a sua própria história se confunde com a prática esportiva que explora. No universo outdoor, temos vários exemplos: Patagonia, Black Diamond, Dimond, Vibram, La Sportiva, Petzl, etc. Todas estas marcas transformaram, de uma certa maneira, a prática esportiva e tornaram-se referências de qualidade e quase sinônimos de equipamentos.

Não resta nenhuma dúvida de que o futebol é o esporte mais popular no planeta. Muitas das estratégias de marketing, logística de vendas e até mesmo calendário de competições de qualquer esporte, levam em consideração o que é estabelecido no futebol. A popularidade do futebol, assim como sua natural evolução, deve-se a uma marca: Adidas. Fundada pelos irmãos Adi (diminutivo de Adolf) e Rudi Dassler (diminutivo de Rudolf) na década de 1920, inovaram ao criar uma fábrica de calçados destinados exclusivamente à prática de esportes.

Pois a história extra campo das marcas Adidas e Puma, é o foco central da obra de Barbara Smit, uma jornalista holandesa, mas que atualmente vive em Paris, que constantemente escreve sobre o mundo dos grandes negócios para os jornais Financial Times (jornal com ênfase especial em negócios e notícias econômicas) e o International New York Times. Barbara é autora de livros como “A história da Heineken – A cerveja que conquistou o mundo” e “Invasão de campo – Adidas, Puma e os bastidores do esporte moderno”.

A história desta rivalidade entre as marcas Adidas e Puma começou na pequena cidade alemã de Herzogenaurach (cidade de 23.200 habitantes). Como muitos devem saber, e é abordado no livro desde o início, as dificuldades e traições mútuas vividas pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial acirraram a briga pelo controle da sociedade da Adidas, uma então marca estreante que buscava explorar o esporte como mercado. A briga levou a uma separação drástica: Adidas e a Puma.

Os irmãos Adolf (Adi) e Rudolph (Rudi) Dassler eram na época, parceiros na Dassler Brothers Sports Shoe Company. Adi ocupava-se da componente criativa da empresa, desenhando calçados e supervisionado o trabalho na manufatura. Já Rudi assumia o papel de administração comercial, gerindo todas as relações com os clientes e fazendo planejamento de expansão. A empresa prosperou, impulsionada pelo crescimento da popularidade do futebol e esportes em geral, mesmo com a chegada ao poder de Adolf Hitler.

Lembrando que, até próximo do final do século XIX, não existia o costume de práticas esportivas competitivas como vemos hoje. A primeira olimpíada foi em 1896, portanto quando o Hitler chegou ao poder, vislumbrou na prática esportiva potencial para propaganda da (suposta) superioridade nazista. O grande palco disso foi a olimpíada, estava em sua 11ª edição. Do lado dos irmãos Dassleer, a estratégia de fazer calçados para a prática de esportes na Alemanha teve um bom resultado. As vendas multiplicaram e os irmãos tiveram que mudar várias vezes de local, para dar conta dos pedidos.

Durante a guerra, a ideologia de ambos era distinta, o que acabou por piorar o clima entre os dois, que não era dos melhores. Rudi se juntou à Gestapo, enquanto Adi estava feliz em fazer negócios com empresas judaicas e depois chegou a abrigar um refugiado judeu. Adi posteriormente, emprestou um de seus protótipos para que o norte-americano Jesse Owens competisse. A história todos conhecem: Owens arrebentou e ganhou tudo o que competiu. Porém um norte-americano negro ganhar várias medalhas de ouro, em solo alemão incomodou fortemente não somente Hitler, mas também o irmão. Não que o irmão fosse um fanático nazista, mas porque a Dassler Brothers Sports Shoe Company tinha negócios com o estado alemão, que era autoritário e poderia fechar a fábrica.

Mas o que separou os irmãos? Esta pergunta é abordada de maneira relativamente superficial, pois o foco do livro é a parte de negócio. Mas para quem gosta de fofoca, uma das versões existentes conta de que as esposas dos irmãos não se conseguiam suportar uma à outra. Outro versão, acredita que Rudi teve um caso com a cunhada, a esposa do irmão. Quando a guerra terminou, os irmãos decidem então seguir caminhos diferentes para montar os seus negócios em separado. Curiosamente, decidem levar a sério a “separação das águas” construindo em margens opostas do rio Aurach as suas novas empresas. O rio virou uma espécie de Muro de Berlim.

Uma das partes, pertencente ao criador Adi dava forma à Adidas (nome pelo qual era conhecido e pelas duas primeiras letras do seu apelido Adi + Das), Rudi cria a Puma na outra margem, mas inicialmente com o nome de Rudas (mesta estratégia do irmão: Rud + Das). Mais tarde o nome foi reformulado para Puma. Quando os irmãos Dassler morreram na década de 1970, ambos foram enterrados no mesmo cemitério. Mas a pedido de ambos, cada um ficou em uma mas nas extremidades opostas do terreno.

Quando fundada ambas as empresas, o ASV Herzogenaurach, um dos times de futebol de Herzogenaurach, passou a ser patrocinado pela Adidas. Já o 1 FC Herzogenaurach, pela Puma. Ao longo do tempo, havia uma guerra fria, que era refletida nos patrocínios. Histórias icônicas como o “pacto Pelé” são contadas com detalhes. Amizades suspeitas da Adidas com pessoas como João Havelange, Franz Beckenbauer, Muhammad Ali, Madonna e David Beckham entram nessa história. Paralelamente, a obra aborda a transformação das marcas esportivas em ícones da moda urbana, conceitos por trás de grandes campanhas publicitárias como “Just do it” e “Impossible is nothing”.

A competição entre Adi e Rudi era tão grande que, nos anos 1970, eles não perceberam a aproximação de sua grande inimiga: a americana Nike, a qual desbancou as duas marcas alemãs na liderança de vendas. A Adidas, entretanto, também desfrutou de uma amizade que lhe rendeu frutos: Fifa. Durante muito tempo, a única marca fornecedora de seleções no mundo inteiro era a Adidas. Os bastidores desta amizade, que muitos creditam ao crescimento da corrupção no esporte, Barbara Smit aborda com bastante elegância, mesmo sem querer denunciar mas simplesmente relatando acontecimentos históricos.

Ficha técnica

  • Título: Invasão de campo: Adidas, Puma e os bastidores do esporte moderno
  • Autores : Barbara Smit
  • Edição:
  • Ano: 2007
  • Número de páginas: 389
  • Editora : Zahar

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