Guia Essencial para o Pacific Crest Trail (PCT) – Uma das mais famosas do mundo

Para quem quer listar os trekkings mais icônicos do mundo, seguramente haverá uma citação à Pacific Crest Trail, conhecida popularmente por PCT. A trilha se popularizou mundialmente com o sucesso do livro Wild (traduzido no Brasil como “Livre”) da escritora americana Cheryl Strayed.

O livro posteriormente foi adaptado ao cinema o que, inevitavelmente, aumentou mais ainda o interesse a respeito do trajeto. Muitas pessoas se enganam creditando à PCT o título de mais popular do país, o que não é verdade, mas tanta exposição na mídia todo um glamour foi criado em nome do trajeto.

PCT

Reese Whiterspoon em Cena do Filme Wild

Onde começar

A principal característica da PCT é, sem dúvida a oportunidade de imersão profunda na natureza da América do Norte, mesclando pernoite em abrigos e camping selvagem ao longo de seus 4.265 km, oficialmente medidos pela ONG responsável pela manutenção de todo trajeto. O trekking inicia na fronteira americana com o México (ao sul da cidade de Campo) e terminando no estado de Washington no Manning Park (que faz fronteira com o Canada).

Usualmente as pessoas chegam de trem até Campo, a qual abriga uma estação ferroviária. A maior cidade próxima de Campo é San Diego. Convencionalmente escolhe-se começar na Califórnia e ir até o estado de Washington, mas há pessoas que escolher fazer o caminho regresso. Não há, entretanto, uma regra estabelecida que obrigue os praticantes de trekking a fazer um sentido obrigatório.

PCT

Siskiyou National Forest | Foto: https://www.hikingproject.com

Todo o percurso passa pelos estados americanos da Califórnia, Oregon e Washington, além atravessar nestes estados sete parques nacionais americanos. Não é, portanto, um itinerário indicado para iniciantes, nem para quem possui conhecimentos básicos de técnicas de montanhismo.

Há, claro, pessoas que arriscam ir ao PCT sem possuir experiência nenhuma, nem mesmo expertise em ambiente outdoor (como a própria escritora Cheryl Strayed à época). Há ainda um outro percurso somente para para bicicletas, a Pacific Crest Bicycle Trail (PCBT), com 2.500 km desenhada quase paralelamente à PCT.

A ONG responsável por administrar todo o percurso estima que somente em 2016, aproximadamente 2.500 tentaram realizar o percurso com início na Califórnia.

História

PCT

Clinton Churchill Clarke | https://www.pcta.org

A PCT foi concebida pelo empresário do petróleo Clinton Churchill Clarke, mas que também era um apaixonado por trekkings, em 1932, porém somente foi oficializada pelo governo, através do National Trails System Act, em 1968.

Clinton Churchill Clarke, que morreu em 1957, e por isso nunca viu seu sonho se concretizar, é reconhecido oficialmente de “Pai da Pacific Crest Trail” (Father of the Pacific Crest Trail).

Portanto a PCT oficialmente existe a menos de 50 anos.

Quando ir / Quanto tempo leva

Para entender a melhor época para ir ao PCT, é importante antes compreender que as estações do ano nos EUA são muito distintas e definidas. Ao contrário do Brasil, onde há uma oscilação não muito acentuada de temperatura e clima firme grande parte do ano, na América do Norte não é assim. Portanto, o clima pode tornar limitante ao praticante de trekking caso esteja próximo ao final no inverno.

A conta, portanto, é relativamente simples e deve ser levada em conta uma média de caminhada constante todos os dias. Baseado no Caminho de Santiago, que também é uma longa distância (aproximadamente 777 km pelo caminho francês), uma pessoa caminha em média 25 a 30 km por dia. Não é uma regra mas uma estimativa, visto que cada um possui um ritmo e velocidade próprios.

Importante observar que o relevo e clima da PCT é completamente diferente do existente no Caminho de Santiago, portanto esta média pode ser bastante diferente. Mas aplicando a divisão a esta média (25 km/dia) aos 4.265 km o resultado é 170,6 dias (5,68 meses).

Portanto quem quiser fazer a PCT inteira de uma vez só deve se preparar para ficar aproximadamente 6 meses. Não é um trekking fácil nem muito simples de ser realizado. Por isso vários praticantes optam por fazer trechos da trilha a cada ano.

Pacific Crest Trail

Foto: http://timeforahike.com/

Alguma pessoas escrevem que o percurso pode ser completado em três meses, o que daria uma média de caminhada de pouco mais de 47 km/dia. O que, evidentemente, é uma meta bem agressiva e difícil de alcançar. Pelos relatos disponibilizados em internet e na literatura disponível, grande parte das pessoas que enfrentam a PCT inteira, descrevem em torno de 6 meses, quando realizado tudo de uma vez.

Portanto, algumas regras práticas para estabelecer a data de onde começar:

  1. Evitar chegar no norte dos EUA (estado de Washington) durante o inverno (Dezembro a Março). Lá as temperaturas médias são de 8,4°C para máxima e 2,7°C para mínima. Quanto mais casacos, maior o peso a carregar.
  2. Começar durante o verão na Califórnia pode não ser o ideal, pois é intenso e bastante seco próximo da divisa com o México.

Portanto o período de primavera, ou mesmo inverno, na Califórnia, é o mais indicado para quem esteja a fim de caminhar seis meses e ter esta conquista pessoal singular. Dependendo da escolha ousada de começar no verão (no estado da Califórnia) e terminar no inverno no estado de Washington pode caracterizar uma versão hardcore do PCT.

Quando perguntado a “gurus” do PCT, todos respondem a mesma coisa: não é uma corrida. Assim como qualquer trekking, o praticante deve respeitar seu corpo e seguir em um ritmo próprio. Se alguém sair disparado na sua frente, deixe que ele siga no ritmo dele. Portanto se irá fazer somente uma parte do percurso, mentalize apenas em termina-lo, não necessariamente em fazê-lo rápido.

Equipamentos

Escolher quais equipamentos outdoor levar para uma trilha extensa e exigente como a PCT pode ser uma tarefa complexa. Para fazer o cheklist do que levar para a PCT é necessário estudar quais os climas que irá encontrar por todo o trajeto. A amplitude de climas e relevos exige um trabalho de logística exigente.

Algumas pessoas realizam uma abordagem interessante, que é enviar os equipamentos adequados para os refúgios em alguns trechos do caminho. Quando sabe-se que serão enfrentados climas frios e bastante úmidos, a indumentária apropriada a este clima (e que não era necessária para os trechos anteriores) é enviada a algum refúgio.

Pacific Crest Trail

Foto: Trevor McKnee – https://www.outwardbound.org/

Alguns refúgios mantêm pequenas lojinhas de equipamentos usados e/ou abandonados por quem passou pelo local. Grande parte das lojas dos EUA, muitas delas on-line, enviam seu equipamentos a estes refúgios, podendo ser retirados posteriormente. Este tipo de recurso é importante pois, por exemplo, uma bota dificilmente irá durar quase seis meses de caminhada diária e constante.

Uma outra lei “herdada” do Caminho de Santiago é com relação ao peso da mochila. Para o PCT use a mesma lógica de nunca carregar mais de 10% de seu peso (em kg) na sua mochila (incluindo o peso dela). Portanto, caso o praticante de trekking pese 70 kg, o recomendado a se carregar, no total, é 7 kg. Ou seja, sua mochila mais tudo o que tiver dentro dela, deve ter 7 kg. Esta, entretanto, é uma recomendação para uma caminhada extensa como a PCT não lesionar tendões, costas e joelhos. Caso não seja possível, deve-se tentar não ultrapassar muito este “número ideal”.

Abaixo estão listados alguns itens imprescindíveis, mas importante lembrar que no caso da PCT, o ditado “menos é mais” é mais do que apropriado e, dependendo da ocasião, uma lei:

  • 2 Calças apropriadas para trekking (preferencialmente convertível em bermuda)
  • 3 camisetas para com tecnologia dry-fit (preferencialmente de manga longa)
  • 1 camiseta da algodão (para dormir)
  • 1 Mochila de 5o litros (NO MÁXIMO) e leve
  • 3 pares de meia para trekking
  • 3 pares de liners
  • 1 par de botas de trekking, com tecnologia GoreTex ou similar
  • 1 canivete suíço
  • 1 jaqueta de chuva respirável
  • 1 casaco de plumas
  • 1 saco de dormir para 0º Conforto
  • 1 barraca com capacidade para duas pessoas
  • 1 fogareiro + dois botijoes
  • 1 isolante térmico
  • jogo de panelas de camping

Parques nacionais

Como dito acima a PCT atravessa nada mais que sete parques nacionais americanos. Grande parte destes parques por si só já possuem várias rotas, também icônicas, e escrever sobre cada um destes parques seria estender o texto a um tamanho que ficaria tedioso ao leitor.

Pacific Crest Trail

Arrowhead Lake | Foto: Aaron Doss – https://www.pcta.org

Por isso abaixo estão listados os nome de cada um destes parques nacionais americanos:

  • Kings Canyon National Park – O parque possui 1.869.25 km² e abriga o ponto mais alto de todo o trajeto: Forester Pass (4,009 m)
  • Yosemite National Park – O parque possui 3.027,19 km² e é considerado a meca da escalada tradicional mundial.
  • Lassen Volcanic National Park – O parque possui 430,80 km²
  • Crater Lake National Park – O parque possui 741.48 km²
  • Mount Rainier National Park – O parque possui 956,60 km² e está dentro dele o estratovulcão (vulcão em forma de cone) Mount Rainier (4,392 m)
  • North Cascades National Park – O parque possui 318 glaciares e uma área total de 117 km². Na sua fauna há urso-pardo, lince, alce e outras espécies raras

Mortandade

Pacific Crest Trail

Mount Rainier National Park | Foto: Samantha Levang – https://www.traveldk.com

Como dito no início do artigo, a PCT não é um passeio, muito menos um trekking indicado para iniciantes. Um dos motivos que é o motivo desta afirmação é a alta mortandade de praticantes de trekking que tentam completar o percurso. Obviamente que não é tão perigoso quanto, por exemplo, atravessar uma zona de guerra, mas também não é isento de qualquer perigo.

Durante todos os anos notícias de morte de hikers, pelos mais variados motivos, aparecem em meios de comunicação americanos. O que, obviamente, colabora para a fama de exigente da PCT. Grande parte dos óbitos, segundo fontes oficiais, é por desidratação, hipotermia, ataque de animais (como o urso pardo ou lince) e queda em barrancos.

Enfermidades

Pacific Crest Trail

Foto: http://www.tramplite.com

Por se tratar de um percurso longo, mais de 4.200 km, é natural que apareça vários tipos de lesões nos praticantes de trekking.

Por isso é muito importante que a pessoa que se disponha a fazer o PCT esteja com roupas adequadas e, também, remédios. As principais ocorrências apontadas pela ONG que mantém o PCT são:

Torção de tornozelo e/ou joelho

  • Carrapatos
  • Desidratação
  • Insolação
  • Bolhas nos pés
  • Câimbras
  • Frieiras
  • Hérnia
  • Distensão muscular
  • Berne

Mais informações

Somente pelo tamanho colossal da PCT, 4.265 km, é totalmente desaconselhável que a pessoa apenas se guie por uma série de artigos na internet.

Por mais completos que sejam, não irão conseguir cobrir todo o conteúdo da trilha. Por isso é imprescindível a aquisição de um guia de bolso.

Usualmente cada estado americano exige um guia diferente da PCT. Portanto se prepare para comprar (e abandonar) vários volumes ao longo do percurso. Abaixo estão listado os principais guias sobre a PCT:

Para informações oficiais, como permissões, licenças e outros: https://www.pcta.org

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