Já foi dito em uma série de televisão que “todas as premiações são idiotas, mas quando elas premiam quem merece é menos idiota”. Este parece ser o pensamento de toda a comunidade de montanhistas do mundo. Muitos sequer acompanham atentamente as premiações da indústria do cinema, ou nem mesmo tem o hábito de ir ao cinema ver todos os filmes premiados. Mas um fato não tem como negar: caso “Free Solo” ganhe o Oscar de melhor documentário de 2019, muitas portas irão se abrir para os filmes outdoor. Marcas não ligadas à atividade começarão a olhar com mais carinho para o esporte e também para o gênero.
Além disso, com “Free Solo” sendo premiado por um dos mais paparicados prêmios de cinema do mundo, muitos produtores de filmes independentes, incluindo na América Latina, irão abrir os olhos para os documentários de aventura e montanha. O esporte começará a ser visto com mais profundidade, menos caricato e com menos superficialidade. Por outro lado, caso não ganhe, mesmo assim mostrou ser possível a todos que produzem filmes outdoor, que basta ter qualidade para que seja selecionado para premiações mainstream.
Pensando de maneira objetiva, como saber se “Free Solo” tem chances reais de abocanhar a estatueta do Oscar? Um bom parâmetro, que muitos gostam e apostar, é o site termometrooscar.com, que faz uma probabilidade de cada concorrente ganhar ou não a estatueta. A probabilidade é atualizada semana a semana. Por semana, as vitórias e nomeações em outras premiações, somadas às especulações dos especialistas e críticos dão a porcentagem da vitória para cada nomeado. “Free Solo” possui hoje 60% de chances de ganhar, empatado com “RGB”.
O site especializado em cinema independente IndieWire apostou em “Free Solo” como o grande vencedor de melhor documentário. O site, que não costuma errar suas previsões, também colocou como principal concorrente do filme de Alex Honnold o documentário “RGB”.
Premiações que antecedem o Oscar
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Uma das premiações mais paparicadas e consideradas erroneamente como parâmetro para o Oscar é o Globo de Ouro. Criado em 1944 e premia os melhores do cinema e da televisão. A escolha é feita pela Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association). Portanto, há diferenças gritantes nos critérios de votação entre os dois, pois no Globo de Ouro o júri é formado por jornalistas e fotógrafos de mais de 50 países. Já no Oscar a escolha é feita com base em milhares de profissionais da própria indústria norte-americana de cinema em algo muito parecido com um prêmio de sindicato.
Porém para o filme “Free Solo“, de nada adianta esta premiação, pois a categoria de documentário foi retirada em 1976 do Globo de Ouro. Da mesma maneira, outras premiações consideradas “termômetros do Oscar”, não contém documentário como categoria. Estas premiações são: SAG Awards, Critics Choice Awards, Producers Guild of America Award.
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Destes “termômetros” um dos mais relevantes é o BAFTA. O prêmio foi realizado na Inglaterra no último final de semana e, como foi noticiado em primeira mão para o Brasil pela Revista Blog de Escalada, ganhou na categoria de melhor documentário. Desta maneira, ao menos para quem acompanha o universo de cinema, “Free Solo” passou de azarão para forte candidato.
Entretanto, “Free Solo” não concorreu com exatamente todos os filmes que irão concorrer ao Oscar. Dos selecionados ao Oscar, apenas “RBG” constava nos indicados do BAFTA. Portanto, analisando somente por esta concorrência direta, o filme “RBG” é que poderia ser o principal adversário. Esta, ao menos, parece ter sido a análise do termometrooscar.com. Entretanto, é necessário saber também o que grande parte dos críticos de cinema dos EUA achou de cada produção que está no Oscar. Analisando uma média das avaliações dos críticos, é possível também traçar como parâmetro a chance de “Free Solo” ser o primeiro filme de escalada da história a ganhar um Oscar.
Críticos de cinema
Basicamente nos EUA existem três grandes plataformas de coleta de notas de críticos de cinema: Rotten Tomatoes, Metacritic e IMDB. Existem outras, mas estas três são as mais populares. Cada uma possui um sistema de cálculo da nota que o filme obteve a partir de um grande conjunto de críticos.
O Rotten Tomatoes funciona como um compilador de críticas que reúne, através de um critério específico: o crítico deve estar no mínimo dois anos trabalhando para um veículo associado a sindicatos e associações cinematográficas. O conjunto de notas de cada um destes críticos gera o “tomatômetro”, um valor expresso em porcentagem, que representa a quantidade de críticos que aprovaram um determinado filme.
Pelo Rotten Tomatoes, as notas dos indicados ao Oscar de melhor documentário foi:
- “Free Solo“:98% (Avaliado por um total de 114 críticos)
- “RBG”: 94% (Avaliado por um total de 157 críticos)
- “Of Fathers and Sons”: 94% (Avaliado por um total de 16 críticos)
- “Minding the Gap”: 100% (Avaliado por um total de 71 críticos)
- “Hale County This Morning, This Evening“: 97% (Avaliado por um total de 59 críticos)
O Metacritic atribui um valor numérico de cada crítica, o qual é computado e daí elaborado uma média aritmética ponderada. Cada nota é convertida para uma nota percentual, com alguns veículos recebendo um peso maior dependendo da categoria. O nome da pontuação chama-se “Metascore”.
- “Free Solo”: 83% (Avaliado por um total de 25 críticos)
- “RBG”: 71 % (Avaliado por um total de 32 críticos)
- “Of Fathers and Sons”: 70% (Avaliado por um total de 7 críticos)
- “Minding the Gap”: 93% (Avaliado por um total de 23 críticos)
- “Hale County This Morning, This Evening”: 85% (Avaliado por um total de 19 críticos)
Já o IMDB, cada membro pode votar na nota, ou rating, de 1 a 10. Para cada membro poder votar, é necessário ter “algum tempo de casa”. Dentre os membros estão críticos, cinéfilos e pessoas da indústria.
- “Free Solo” – 8,5 (Avaliado por um total de 5.807 membros)
- “RBG” – 7,6 (Avaliado por um total de 5.770 membros)
- “Of Fathers and Sons” – 7,4 (Avaliado por um total de 588 membros)
- “Minding the Gap” – 8,2 (Avaliado por um total de 2.586 membros)
- “Hale County This Morning, This Evening” – 6,6 (Avaliado por um total de 437 membros)
“Free Solo” tem chance de ganhar o Oscar?
Baseado na comparação da nota dos principais sites de avaliação de filmes, com a premiação mais relevante de “Free Solo” e somado com o termômetro do site brasileiro termometrooscar.com parece pender para o filme de Alex Honnold. O principal concorrente, que é considerado como o queridinho das feministas ativistas norte-americanas, é “RGB”. Mas a produção que conta a história de Ruth Bader Ginsburg, uma juíza pertencente à ala mais liberal da corte suprema dos EUA, não conseguiu boas notas entre os críticos especializados.
Na questão de negócio, afinal o Oscar é um prêmio da indústria norte-americana do cinema, “RBG” arrecadou US$ 14,3 milhões nos EUA. Já o filme “Free Solo” 18,1 milhões, o que novamente o coloca na frente em mais um quesito que possui peso no Oscar. Os dados de bilheteria são do site www.boxofficemojo.com.
Entretanto, e os outros filmes? Analisando friamente os números, o maior adversário de “Free Solo” parece ser “Minding the Gap”, que obteve notas significativamente altas e superando em alguns índices o filme de escalada. Mas seu rendimento em bilheteria é inexpressivo: US$ 12.000. Acompanhando a lista estão “Of Fathers and Sons” com US$ 11.400 e “Hale County This Morning, This Evening” com pouco mais de US$ 86.000.
A bilheteria é importante? Sim, e muito. Ela que serve de “termômetro” para futuros investimentos no gênero e nos cineastas premiados. Portanto, cada produção que foi comprada por streaming ou por DVD, entra neste número. Portanto, este é um dos inúmeros motivos que a prática de baixar um filme, como “Free Solo” de maneira ilegal (por torrent e similares), faz um gol contra.
Concluindo, as chances de “Free Solo” ganhar o Oscar é altíssima.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.