Divulgado mais detalhes do documentário sobre a busca pelo corpo de Bernardo Collares

A Revista Blog de Escalada traz com a mais absoluta exclusividade todos os detalhes sobre o filme que está sendo planejado para mostrar a procura pelo corpo de Bernardo Colares.

A responsável pela produção do filme, Rosane Santiago Cordeiro, concedeu todos os detalhes disponíveis sobre a produção.

Acompanhe abaixo as palavras de Roseane Santiago:

Foto: Eliseu Frechou

Este não é apenas um documentário de registro, é um filme emocional sobre luta, amor e verdade!

Trabalho com comunicação, jornalismo e áudio visual há 25 anos e nos últimos tempos tenho me especializado em documentários.  

Tenho vários trabalhos na área de cultura social, onde o objetivo é divulgar e integrar as ações documentadas à sociedade, mas de um tempo para cá os trabalhos científicos têm sido foco da produtora, atualmente estamos fazendo um Documentário para uma equipe de cientistas da UFRJ sobre a Antártida.

 Acredito que nada acontece por acaso, o contato com os cientistas da Antártida tem me dado algum conhecimento sobre marés, situações climáticas e principalmente vida no gelo, o que me da uma certa mobilidade para contar a história que interessa a vocês, a busca pelo corpo de Bernardo Collares.

 Como decidi contar essa história? Sem pretensão nenhuma…

Por conta de contatos interessantes que tenho e uma certa boa vontade em ajudar ao meu semelhante, volta e meia alguém me solicita desde auxílio para a compra de um botijão de gás, a arrumar hospital para doença desconhecida, ajuda para grupo de Folia de Reis, procura de criança desaparecida, enfim situações em que, as vezes, com uma simples apresentação o problema é resolvido.

E foi com a visão de que eu poderia ajudar, que uma amiga em comum colocou Heliane Collares, mãe de Bernardo, em contato comigo.

 Resumindo, fiquei envolvida pela história de Heliane/Bernardo Collares. Gostaria muito de tê-lo conhecido, mas acredito que a situação de não ter tido contato direto com o mesmo faz bem ao projeto, pois da a este um cunho jornalístico e artístico mais eficiente, sem o envolvimento passional que vem permeando as opiniões sobre os últimos momentos deste homem.

Apesar de estar iniciando o processo de captação, já tive que pesquisar bastante para a elaboração do projeto e investigarei muito mais para a conclusão do mesmo…

A idéia do documentário teve como objetivo inicial, revelar a busca desta mãe pelo corpo do filho nas montanhas argentinas, mas com o passar do tempo e a minha integração com o tema tomou um vulto maior.

O roteiro de “A BUSCA” é costurado por três personagens ou, se posso dizer, três causas (vide quadro anexo).

 São personagens que não se calam e por isso incomodam muita gente.  

Pessoas que compartem do mesmo sentimento, embora vivendo realidades absurdamente diferentes: uma dona de casa (Heliane Collares), um borracheiro e uma ativista política.

Foto: Acervo Pessoal Bernando Collares

Três vidas que foram abaladas por tragédias que as levaram a lutar, em situações dramáticas, pelos corpos desaparecidos de seus entes queridos.

 Narradas pelas próprias personagens e através dos depoimentos de pessoas próximas, que viram e viveram o drama ou dramas semelhantes, este filme conta histórias de amor e garra.

O que une nossas personagens, além da obstinação desenfreada, é que mesmo o descrédito total dos que os cercam, a inadequação e até mesmo o perigo eminente de vida, estes não desistem da BUSCA!

 Eles não “procuram” por seus parentes e sim os BUSCAM!  A partir de um certo momento o encontro dos desaparecidos passa a ser missão de vida.

Nenhum deles tem dúvidas de que não os encontrarão vivos, sabem que buscam os restos mortais de seus queridos, proclamam o direito à verdade com relação a estas mortes e exigem uma digna despedida.

Minha intenção é realizar um documentário de 54 minutos, em formato para televisão, a fim de ser veiculado primeiramente pela internet com ações maciças de divulgação em eventos paralelos e em um site de discussão que ficará no ar, a princípio por 1 ano, a fim de agregar ao projeto situações e dramas semelhantes aos dos personagens abordados no filme.

Só com a notícia que saiu semana passada neste site, já tivemos contatos de possíveis parceiros interessados em participar financeiramente do mesmo.

Estamos nos empenhando muito para conseguir começar as filmagens da parte que trata do Fitz Roy, já em dezembro, para isso precisamos do maior número de parceiros, ajudas e financiamentos possíveis.

 O caso Bernardo Collares tem visibilidade, principalmente pela pessoa que ele era, e mexe com três segmentos da população, o que gosta de histórias de gente boa, o formador de opinião e o outro que é  “fazedor de barulho”.

Eu, particularmente, adoro os três!

  O desfecho da história de vida de Bernardo incomoda? Incomoda e muito! E eu ainda estou descobrindo o porquê…

Uma das fases do documentário será em El Chaltén, mas particularmente no Fitz Roy.

Por incrível que pareça, mesmo com o grau de dificuldade da expedição, algumas pessoas já assinalaram estarem dispostas a colaborar nesta aventura e desde já agradecemos enormemente, pois conseguindo terminar esta etapa vamos ter finalmente nossos heróis.

Aqui o meu trabalho é somente contar uma boa história, chegar perto do céu é missão de gente que nem o Bernardo…

 Nosso público alvo hoje é bastante heterogêneo, acessamos o imenso contingente de pessoas que foi afetado por mortes e desaparecimentos neste país, interessados por política e história do Brasil, universidades, ONGs e Associações de busca a desaparecidos, montanhistas, alpinistas, escaladores, população do Estado do Rio de Janeiro (principalmente da Região Serrana), Associações Esportivas, Centros Culturais, público adulto em geral, enfim curiosos e interessados pelo assunto.  

Há também possibilidades de desdobramento do projeto para atingirmos um público internacional (América Latina e países Europeus através de TVs a cabo com os quais temos contato) e estaremos em todos os festivais de cinema e de documentário possíveis.

 A etapa atual agora é a captação de recursos.

Como os assuntos tratados são polêmicos, e vão contra a muitos interesses, é difícil conseguir recursos para filmar as histórias separadamente, mas o mais inusitado é que o tema tratando com as três unidas está abrindo muito mais portas.

 Sinceramente tive receio de abordar a busca pelo corpo de Bernardo Collares, pois lido muito com o povão e de início achei que o público deste filme seria muito elitizado.

Para isso comecei uma investigação em ruas, universidades, feiras de esporte e vi que o interesse do brasileiro comum pelo tema é bem maior do que eu imaginava. 

Foto: Acervo Pessoal Bernando Collares

Por conta de uma matéria feita pelo programa Fantástico, da TV Globo, a história de Bernardo Collares tornou-se assunto popular. 

Naquele momento para as pessoas “normais” (diga-se não montanhistas) deixar um brasileiro numa montanha argentina era bastante impactante.

Conforme fui avançando as conversas, esses mesmos entrevistados se tornavam esperançosos quando sabiam por mim que a mãe está em busca do corpo de Bernardo e tem tido dificuldades de resgatá-lo.

Essas diferentes pessoas com quem conversei são totalmente solidarias à família e querem entender o que aconteceu.

Quanto à opinião dos montanhistas estas são contraditórias e muito importantes para a realização deste trabalho,  tenho certeza de que pesarão muito na edição final do documentário e na narração deste.

Não vou contar o fim do filme aqui, afinal quero que todos vejam…

 Bem, vocês me pedem uma mensagem para fechar a matéria.

A única coisa que tenho a dizer é que me honra muito realizar este tipo de trabalho, mas posso citar uma frase de Edgar Amorim, que resume o sentimento deste filme:

“O não abandono dos mortos implica a sobrevivência deles. Não existe relato de praticamente nenhum grupo arcaico que abandone seus mortos ou que os abandone sem ritos.”

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Resenha:

No início os movimentos eram pessoais, mas as expedições pelos desaparecidos fazem com que estas se transformem em causas.

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Primeira Causa

A busca de uma mãe, Heliane Collares,  pelo corpo do filho, Bernardo Collares, montanhista brasileiro desaparecido na montanha Fitz Roy em El Chaltén, na Patagônia Argentina.

Acompanhamos a saga desta mãe em busca do corpo do filho, os problemas desta ação, a morbidez que rege o montanhismo com relação aos mortos nas montanhas  e o acompanhamento dos familiares na terceira viagem que estes fazem  ao país vizinho com o objetivo de encontrar e trazer o corpo de volta ao Brasil.

Na força de Heliane, reconhecemos o porquê o filho era unanimidade em seu meio, de onde tirava a força e caráter que sempre demonstrou, sendo exemplo para seus companheiros e criando, com seu desaparecimento, oportunidades para que os costumes do montanhismo sejam repensados.

 – Heliane Collares: “(…)Em fevereiro soubemos que o platô onde você foi deixado vivo e deveria ser encontrado morto, está vazio. Como vazio e desorientado ficou meu coração que, com esse sumiço, sentiu a 2ª morte do mesmo filho!!! ” (…)

Segunda Causa

Numa busca solitária, o borracheiro Osvanor Cardinot, de 54 anos, não desiste de localizar o corpo da neta Laís, de um ano e sete meses, desaparecida no Condomínio do Lago, em Nova Friburgo, na tragédia de 2011 na Região Serrana Fluminense.

Até hoje, ele percorre com um cajado o terreno coberto por cerca de cinco metros de lama e mato e, ainda, reclama do trabalho das equipes de resgate.

Osvanor viu quando a menina se soltou dos braços da mãe dela, enquanto os três e outros quatro membros da famílias tentavam se salvar no escuro em meio a três avalanches que soterraram mais da metade do condomínio.

O avô continua a procura do corpo da neta sem desistir, mostraremos a realidade da Região Serrana hoje e quantos realmente são os corpos desaparecidos.

– Osvanor Cardinot:  “Quando estava sendo socorrido, avisei para não meterem as máquinas porque o corpinho dela estava por cima da terra, mas embaixo d’água. Mas meteram as conchas e quebraram tudo. Não tiveram sensibilidade. Não pensaram. Uma criança de um ano e sete meses vai virar o quê, né?”

Terceira Causa

Yara Xavier Pereira perdeu dois irmãos e o primeiro marido durante o regime militar.

Depois de muita procura e exposição de sua figura diante de um assunto tão perigoso na época, Yara localizou os corpos dos três por acaso no cemitério de Perus, em São Paulo, ao descobrir com um coveiro antigo que havia vários sepultados com nomes falsos no local.

Comparando a lista do cemitério com os codinomes que os militantes usavam no movimento, descobriu seus parentes e os de várias outras famílias.

Porém, mesmo tendo sepultado seus familiares, Yara continua lutando pelas mães que, 30 anos depois, ainda não conseguiram localizar os restos mortais de seus filhos.

Yara ressalta que a luta dos familiares de desaparecidos políticos no Brasil sempre foi pelo esclarecimento das mortes.

 Yara Xavier: “Nossa luta é conjunta e estamos correndo contra o relógio biológico: as mães dos desaparecidos são idosas, têm entre 70 e 85 anos e muitas já morreram(…)” 

Contato para participação no filme ou apoio financeiro:

[email protected]

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