Entrevista com Paulo Macaco

No Rio de Janeiro há muitos escaladores os quais a sua história pessoal confunde com a própria história da escalada brasileira.

Uma destas personalidades quase que míticas é o Paulo Macaco.

Paulo era considerado na época como um dos escaladores de técnica mais refinada e estilo de escalada exuberante.

Paulo Macaco também é um escalador que passou por dificuldades, contraindo HIV e se tornando deficiente visual.

Para saber mais sobre ele, escutar sua lições de vida tive o auxílio da Patrícia Mattos que me ajudou a fazer as perguntas.

Confiram abaixo o resultado da entrevista

Paulo Macaco, obrigado por conceder entrevista. Como está a sua relação com a escalada hoje?

Entusiasmadíssimo!

Tenho alguns projetos porém preciso de um pouco mais de treinamento para efetuá-los.

Estou falando de escalada esportiva, estou procurando um lugar que me ofereça a possibilidade de um deficiente visual poder exercer a escalada.

Quais foram os motivos que levaram você a querer ser escalador?

Quando eu tinha uns 14 anos anos, fui para a Reserva Florestal do Grajaú e outros locais como Pedra da Gávea, Floresta da Tijuca, etc.

Eu fazia caminhadas e gostava de aventuras e desafios e fiquei fascinado sempre que passava por alturas, porém desconhecia a prática da escalada esportiva.

Um dia eu vi alguns escaladores na Travessia dos Olhos, na Pedra da Gávea.

Eles me informaram onde fazer um curso de escalada e me indicaram o CEB.

Fiquei no CEB durante uns 3 anos e depois me tornei independente e virei um escalador de boulders e falésias, mas a minha raiz foi no CEB.

Lá aprendi o básico.

Você poderia dizer qual a origem de seu apelido? Há alguma história curiosa por trás dele?

Tem sim e é engraçado. Muito cômico!! (risadas)

Com uns 10 anos de idade eu morava num apartamento na Tijuca, no 1º andar, onde tinha uma varanda com grades de proteção.

Eu ficava ali agarrado soltando pipa, pois meus pais não me deixavam sair de casa, eu era muito pequeno.

A molecada olhava aquela cena e gritava “- Olha lá o menino soltando pipa da varanda.”

Imagina? Um neguinho com uma mão agarrada na grade e a outra do lado de fora soltando pipa a uns dois metros do chão, não era nada mais semelhante a um macaquinho!

E começaram a me chamar de Paulo Macaco ou Macaquinho a partir daí.

Na época que escalada você tinha grande destaque na comunidade carioca. Como era o seu treinamento na época?

Eu tinha um treinamento contínuo de 3 a 4 vezes por semana nos dias úteis em rocha.

Eu ia para a Reserva Florestal do Grajaú, onde ficava o dia todo escalando.

Nos finais de semana eu escalava em paredes mais altas.

Fazia também muita barra nos portais do meu apartamento, em uns regletes de 1cm e meio.

5 – Há quem diga que você possuía um estilo único que mesclava suavidade e elegância ao escalar. Como foi que chegou a ter este status entre os escaladores mais experientes?

Eu ficava muito tempo escalando sozinho e viajava em movimentos que me pareciam muito semelhantes aos movimentos de um ballet clássico.

Pois se fosse um ballet moderno seriam movimentos muito rápidos.

Eu gostava de escalar com calma.

Na sua época de escalador ativo, quais foram os grandes feitos que realizou e que gostaria de recordar?

Vários boulders e falésias.

Entre eles eu destaco os boulders “Expressão Corporal” , hoje em dia um 8c, na Urca, e “Olhos de Fogo”, 9a, na Reserva Florestal do Grajaú.

Participei de várias competições, mas dou destaque ao Brasileiro em Arenito no PR e ao Sul-americano que aconteceu em Curitiba, tb no PR em 1989.

Nos dois eu fui contemplado como campeão, graças a Deus!

Tive a honra tb de ter compartilhado escaladas, troca de idéias e experiências com Jacky Godoffe e Alain Renaux quando vieram em visita ao Brasil.

Pessoas muita simpáticas.

Diante da sua condição atual (portador de HIV e deficiente visual) quais são as pessoas que mais dão força a você?

Seria injusto citar alguns nomes e possivelmente poder deixar alguém de fora, prefiro dizer que a comunidade escaladora como um todo e muitas pessoas que não pertencem ao mundo da escalada me ajudam.

Hoje em dia tenho muito que agradecer também a minha esposa e companheira Vera, com quem estou há 4 anos e 4 meses, que faremos amanhã dia 02/04/2011.

Depois de viver momentos pessoais tão difíceis, há algo que gostaria de falar para a comunidade escaladora mais jovem?

Que ouçam o conselho dos mais experientes e se questionem sobre as suas orientações para o BEM.

Que tenham no presente boas instruções, que aprendam com elas para que possam ter um futuro mais tranquilo e não venham a ter sequelas irreversíveis como eu tive.

Estão ocorrendo problemas de mau comportamento de escaladores em locais de escalada. Acarretando até mesmo o fechamento de alguns. Qual a sua opinião sobre o assunto?

Isso é uma questão de educação e ética disciplinar.

Já vem do berço.


Aos que querem ajudar o Paulo Macaco, forneço aqui sua conta no Banco Bradesco, agência 0226-7, conta poupança nº 1006182-2, no nome de Paulo Cesar Bastos.

Se águém precisar do CPF do Paulo entre em contato com o telefone (21) 3337-4651 ou 21 8463 7545 e fale pessoalmente com ele.

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