Não seria exagero nenhum afirmar que Jean Ouriques é , sem dúvida, o maior expoente da escalada esportiva do estado de Minas Gerais.
Não há o que discutir quanto a isso.
Dono de conquistas impressionantes para qualquer escalador do mundo Jean é ainda uma pessoa de opinião e personalidade bem definidas.
Sem medo de dizer aquilo que acha ser certo concedeu uma entrevista ao Blog de Escalada e que está republicada abaixo na íntegra.
Pela qualidade de suas respostas e opiniões, é a talvez a melhor e mais importante entrevista feita aqui neste ano de 2013.
Importância esta devido ao fato de que Ouriques não omitiu ou suavizou nada nem ninguém.
Todas as respostas de Jean mostraram maturidade e personalidade de quem sabe o papel que desempenha na escalada.Acompanhe a entrevista com Jean Ouriques abaixo:
Jean, você conseguiu uma colocação de destaque no Master de Boulder no Chile. Para 2013 podemos esperar marcas semelhantes no campeonato brasileiro?
Este ano não estou muito focado nos campeonatos, mas não deixarei de participar.
Apenas não focarei meus treinos nesse aspecto e nem me cobrarei resultados.
Tenho muitas vias e boulders pendentes aqui perto de casa.
Competir é uma paixão que acho díficil de largar a emoção do campeonato.
O frio na barriga no auto controle necessário para lidar com todos os elementos envolvidos no processo é muito bacana!
Por isso mesmo sem o foco não deixarei de ir e dar o meu máximo durante as competições.
Creio que são muitos fatores.Hoje a cidade de Belo Horizonte possui a maior quantidade de ginásios de escalada do Brasil. Você saberia resumir os motivos que resultaram nisso?
Mas alguns considero bem relevantes.
O principal é a nossa quantidade/proximidade/qualidade de picos de ao redor de Belo Horizonte.
O que incentiva as pessoas que começam nas academias a continuar escalando, porque todos os finais de semana podem frequentar picos de qualidade e assim se motivar a treinar durante a semana.
Você possui uma rotina rígida de treinos?
Passei os últimos 4 meses de 2012 sem escalar por uma luxação no punho direito.
Então retornei agora em janeiro a escalar e a treinar em fevereiro
Estou em um período rígido de treinos agora.
A disciplina dos treinos é diretamente proporcional ao objetivo que quero atingir.
Portanto estou bem focado.
Mas sou a favor de ir se disciplinando aos poucos para parecer natural.
Creio que só assim poderei atingir meus objetivos na escalada.Sou bem rígido em relação aos meus métodos.
Claro!Próximo à Belo Horizonte estão os melhores locais de escalada esportiva do Brasil (Lapa do Seu Antão, Serra do Cipó, Gruta da Lapinha), compensa para o escalador mineiro procurar outros lugares no Brasil a escalar?
Experiência nunca é demais!
Não existe nada como escalar em uma rocha diferente e tentar vias à vista no seu limite ao mesmo tempo se adaptar ao um estilo de movimentação nova.
Confesso que com o tanto de locais com qualidade perto de casa achar tempo para tentar todos os projetos e ainda viajar para conhecer outros picos que se torna o grande desafio.
Com exceção do Brasil quais foram os locais de escalada que já visitou e pensa que é obrigação de todo escalador conhecer?
Para escalar via: Ceuse (França), Gorges du Verdon (França)
Para boulder: Fontainebleau (França) e Choriboulder (Chile)
Sua família administra um ginásio de escalada em Belo Horizonte, como é crescer sempre em meio ao universo de escalada?
Natural! hehehe….
Ter a sua família sempre presente é otimo.
Encadenar um boulder ou uma via e poder ligar para seus pais e irmãos e eles realmente entenderem o que você está falando e o que aquilo representa para você não tem explicação!
Reformulação e alternância de poder nas instituições são necessárias para todos melhorarem.Com o crescimento da escalada cresce também a responsabilidade das associações e federações.Você acredita que elas estão preparadas para isso, ou necessitam de uma reformulação?
De uma forma geral as “organizações” de escalada tem como diretoria pessoas com olhar que ,creio ,não representa a maioria da comunidade escaladora.
Acho que a escalada esportiva e de competição tem que ser tratada com mais carinho e atenção.
Afinal é nela que a maior parte dos iniciantes tem o primeiro contato com o esporte e a que detem o maior número de praticantes.
Quando as federações e confederações se alertarem para esse fato muitas coisas vão mudar e quem sabe ao invés de controlar e frear a expansão do esporte nossos diretores comecem a incentivar a prática consciente do mesmo.
Como você enxerga a possibilidade da escalada esportiva virar esporte olímpico?
Como tudo na vida tem pontos positivos e negativos.
Positivos: Crescimento inevitavél do esporte, maior espaço na mídia em “anos olímpicos”.Pelo menos, acesso a programas federais de ajuda aos atletas e um incentivo a uma maior organização do esporte no mundo em geral.
Negativos: Maior interesse somente pelas competições e não pela escalada em si, doping mais comum entre os atletas.
Valeria um patrocínio ou acesso a algum resultado mais relevante para os mesmos, um crescimento da utilização dos nossos points de escalada em rocha por pessoas que não tem a cultura do montanhismo e portanto um maior impacto ambiental nos mesmos.
Mas sou completamente a favor da escalada virar esporte olímpico, pois todos os pontos negativos ou positivos são suposições.
Portanto acredito que dará certo!
O Brasil passou muitos anos sem possuir campeonatos de escalada de relevância. Na sua opinião porque isso aconteceu?
Um conjunto de fatores, uma certa parte por desinteresse dos escaladores em participar.
Um congelamento de motivação por parte da CBME em fazer campeonatos de alto nível, os ginásios porque da muito trabalho fazer uma competição.
Enfim muitos fatores, mais acredito em uma nova geração mais interessada nas competições..
Uma pergunta a todos os leitores desta entrevista: qual a percentual dos seus equipamentos são importados?Os principais atletas de escalada, como você, não possui patrocínio, ou têm apenas apoio de marcas. A que você credita esta atitude das marcas de equipamentos outdoor do Brasil?
Destes qual o percentual que você comprou no Brasil?
Em geral quando me perguntam sobre patrocínio, incentivo de empresas brasileiras ao esporte respondo com essas perguntas.
Porque a maioria das pessoas possui em sua grande parte o material quase todo importado e ainda de forma informal
Sem passar por um representante brasileiro (comprando em lojas fora do Brasil).
Lógico que a culpa não é só dos compradores.
A maior culpa é do nosso sistema tributário o qual onera demais produtos que fora do Brasil são muito mais baratos.
Creio que os atletas no Brasil se vendem muito barato também.
Por muito pouco (às vezes apenas alguns equipamentos) uma empresa consegue com que alguém diga que é atleta da tal marca que é a melhor do mundo e tal.
Acho que falta um profissionalismo por parte também dos escaladores.
Se alguma marca estiver interessada em patrocinar você. como deve proceder?
Basta enviar um e-mail com a proposta para [email protected] ou me procurar pessoalmente na Rokaz academia de escalada em Belo Horizonte.
Estou lá todos os dias da semana e nos finais de semana em alguma rocha ao redor de Belo Horizonte.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.
Se os escaladores de competição, ou qualquer outro grupo, não se sentem representados pelos clubes e federações, a culpa é exclusivamente deles mesmos, pois foram convidados a participar do processo e abstiveram. As portas da federação ainda estão abertas para voluntários, sejam montanhistas, escaladores ou atletas, para que se façam representar adequadamente.
Curiosamente, me lembro do Ian Ouriques sendo convidado para diretor de competições…
Ola, vale ressaltar que se a escalada se tornar esporte olimpico, a categoria mais provavelmente escolhida sera a velocidade e nao a dificuldade, dadas as regras de mais simples compreensao ao grande publico.