Um dos clássicos dos filmes Hollywoodianos, e que marcou profundamente a quem assistiu, é “Amadeus”.
O filme retrata a vida de Wolfgang Amadeus Mozart sob a ótica de um outro maestro o qual tinha ciúmes de seu talento apesar de ao mesmo tempo ficar atônito com tamanha qualidade..
A partir desta metáfora estabelecida fica fácil afirmar que todas as pessoas que verificam as fotografias de montanhas realizadas por Waldyr Neto sentem o mesmo sentimento que Salieri (Personagem do filme “Amadeus” e que amava/odiava o talento do protagonista) .
Mesmo sem saber as teorias de fotografia é fácil entender que as clicadas do fotógrafo são diferenciadas.
Dono de uma simpatia e humildade singulares, Waldyr dedica-se também na realização de disputados workshops de fotografias na região serrana do estado do Rio de Janeiro.
A Revista Blog de Escalada procurou Waldyr Neto para saber mais sobre sua vida e estilo deste este ícone da fotografia de montanha do Brasil.
Leiam abaixo a entrevista COMPLETA com um dos maiores fotógrafos do Brasil
Waldyr, você é um dos mais conhecidos fotógrafos de montanha do Brasil. Como foi a trajetória até chegar neste patamar?
Pratico montanhismo há quase trinta anos e sempre gostei de fotografia.
Mas fotografava com câmeras automáticas e isso era uma limitação.
No final dos anos 90 comprei minha primeira câmera SLR, ainda de filme.
Nessa época estudei bastante e fiz até algumas exposições.
Minhas fotos eram registros de paisagens e da prática do montanhismo.
Eram fotos corretas e eu acho que agradavam as pessoas que já tinham afinidade ao tema, mas hoje vejo que ainda não tinha desenvolvido o conceito da composição fotográfica.
A transição para a fotografia digital foi meio traumática. No início não gostei das câmeras e muito menos das fotos.
Durante um bom tempo simplesmente deixei de fotografar. Acabei voltando por incentivo do fotógrafo e amigo Flávio Varricchio.
Passamos a sair e viajar para fotografar juntos e acabamos desenvolvendo os conceitos que deram origem ao Workshop de Fotografia de Montanha.
Muitas pessoas acreditam que tirar fotos de montanha tem a mesma dificuldade de outras modalidades. Você concorda com esta afirmação?
Acho que cada modalidade da fotografia tem suas dificuldades. Fotografia de montanha em alto nível pode ser algo bastante desafiador.
O fotógrafo de montanha depende de condições muito especiais de tempo, nuvens, luz, etc. para conseguir uma grande foto.
E às vezes essas condições especiais teimam em não acontecer, mesmo durante toda uma expedição. Nessas horas tem que ter tranquilidade para guardar o equipamento e curtir o lugar, os amigos.
Sem essa filosofia a fotografia de montanha pode ser extremamente frustrante.
No universo da fotografia existem dois times. Canon e Nikon. Você pertence a qual? Porque?
Por acaso tenho uma Canon.
Mas poderia ter uma Nikon.
Os grandes fabricantes investem pesado e superam uns aos outros de tempos em tempos. Não existe a câmera definitiva e nem a marca definitiva.
Por outro lado, quando você já tem algumas lentes fica bem complicado e caro mudar de time.
Mas essa questão realmente não tem essa importância toda.
Se fosse para você avaliar a qualidade e quantidade existente em fotografia de montanha no Brasil, qual seria a sua análise?
Se a gente olhar a fotografia de paisagem podemos dizer que temos muitos bons fotógrafos.
Olhando especificamente a fotografia de montanha posso dizer que o grupo já fica mais restrito.
Isso tem um lado bacana, pois temos uma infinidade de locações de montanha esperando para serem descobertas e fotografadas.
Mas eu vejo que o interesse no tema está crescendo.
Muitos montanhistas hoje já não querem voltar daquela viagem bacana com fotos feias.
Acho que o time dos bons fotógrafos de montanha no Brasil tende a crescer.
Você oferece vários cursos e workshops de fotografia de montanha. Qual a maior dificuldade de ensinar fotografia?
As câmeras digitais criaram uma geração de preguiçosos.
Hoje é fácil comprar uma câmera, deixar no modo automático e sair por ai clicando. Algumas fotos podem até ficar boas e isso cria uma acomodação.
Vejo também muita gente se perdendo numa competição de status relacionado ao equipamento.
E tem ainda um grupo que acredita que o conhecimento de Photoshop é mais importante que o conhecimento fotográfico – fotografam de qualquer jeito e depois aplicam efeitos, montagens, etc., quase sempre piorando a foto original.
Nesses tempos acaba sendo um pouco difícil entender que as super-ultra-modernas câmeras atuais ainda funcionam da mesma forma que as antigas: medindo a luz, regulando abertura, velocidade, etc.
E que esse conhecimento vai fazer toda a diferença nas condições de luz mais complexas que a gente encontra na montanha.
Hoje muitos fotógrafos estão também produzindo filmes e vídeos, já que as câmeras também possuem possibilidade de gravar. Você acredita que isso é uma tendência sem volta?
Nem todos os fotógrafos gostam de filmar, mas a mudança que veio para ficar é o uso de câmeras fotográficas para filmagem.
Algumas séries de TV já são filmadas com esse tipo de câmera, que por serem compactas permitem o uso em estúdios e cenários mais apertados.
Em filmes de esportes e aventura as câmeras fotográficas já são largamente usadas, muitas vezes montadas nos drones, que permitem a filmagem aérea.
Analisar fotografia parece algo não muito simples. É possível, em poucas palavras, dizer por que a melhor fotografia nem sempre é a melhor paisagem?
A transição de “registrar uma bela paisagem” para “compor uma boa fotografia” é um dos principais desafios do fotógrafo de montanha.
A beleza da paisagem acaba sendo uma armadilha, pois o fotógrafo pode achar que o simples registro é necessariamente uma boa foto.
A diferença entre um registro e uma boa foto é a composição; um assunto complexo, subjetivo e que a gente leva a vida toda aprendendo.
Se fosse para você dar um conselho para alguém que queira investir em fotografia de montanha qual seria?
Para começar tem que ter uma câmera que permita regulagens manuais.
Pode ser uma D-SLR usada. Alias, começar com uma D-SLR usada é uma ótima forma de começar com baixo orçamento.
Completa o kit um tripé – fotografia de montanha pressupõe o uso de tripé.
A partir daí tem que investir em conhecimento – leitura, cursos, saídas em grupo, participação em fóruns de fotografia, etc.
Com isso a necessidade de upgrade do equipamento vai surgindo naturalmente e o investimento vai sendo feito com bom senso.
Uma dica específica para quem já pratica montanhismo é adequar às excursões à busca pela melhor luz.
Que tal madrugar para ver o dia amanhecer no topo da montanha?
Ou sair de casa a tarde para ver um por do sol e depois descer a montanha a noite, com lanterna?
É uma forma de praticar montanhismo muito divertida e até mais emocionante.
E no final as fotos vão ficar bem melhores.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.