Crítica do filme “Quanta Patagônia”

20111018145006-239-b22f6a2bb864a83428cb2db38ffb4267[1]A quantidade de recursos para executar um filme de escalada é seguramente um fator limitante na execução de projetos.

Porém não deve ser encarado como tal.

Entenda por “recursos” desde equipamentos de filmagens como também aquele necessário “aporte financeiro” para a realização da aventura.

Inegavelmente que uma quantia considerável de dinheiro a possibilidade de realização de um trabalho de qualidade é alta.

Porém há um pré-julgamento, errôneo ,de que para se realizar um bom filme é necessário bastante dinheiro.

Não é.

Este tipo de pensamento é equivocado porque se fosse realmente verdade, por exemplo , a saga “Crepúsculo” seria garantia de verdadeiras obras de arte.117342236_640[1]

Muito pelo contrário.

Trazendo para o universo de filmes de montanha, além do fator monetário, também é comum equivocar-se sobre a obrigatoriedade de existir um feito extraordinário como motivação de se realizar uma boa história.

Não necessariamente.

Há um grande volumes de filmes sobre “cadenas” de vias difíceis, ou “solos” impressionantes, e que o conjunto geral de baixa qualidade técnica o filme diminui o feito documentado.

Importante realçar que não necessariamente uma escalada de alta dificuldade resultará em garantia de qualidade de um filme.

2d042477-fcf4-3d96-a238-3111a86cfde4[1]O mérito do escalador que realiza algo difícil é indiscutível, entretanto se a maneira de retratar esta realização não for de qualidade, o feito em si pode vir a ser considerado sem valor ou mesmo “vazio”.

Produções que seguem este exemplo não faltam.

Para realizar uma produção de qualidade, ou até mesmo ganhar o status de “filme”(leia-se não ser apenas um videozinho a mostrar para amigos), são necessários quesitos simples.

Há de ter em mente que é  fundamental também transmitir uma mensagem a quem assiste.

A produção dos brasilienses Márcio César , Guilherme Pahl e Luciana Melo é uma cristalina demonstração de que quando se escolhe o caminho da simplicidade ,e simpatia, com qualidade de história, o fator limitante de recursos financeiros é contornado.

O filme “quanta patagônia” pode ser considerado uma produção simples e eficiente.20111115_121629_g[1]

Possui o mínimo de imagens e diálogos e mesmo com dificuldades de recursos técnicos (câmera, grua e etc) se destaca dentre as produções brasileiras do gênero.

O filme documenta a história de viagem de uma dupla de escaladores oriunda de Brasília até a região do Frey em Bariloche, na Patagônia Argentina, para uma temporada de escaladas tradicionais.

Toda a aventura  é captada em câmera única no estilo POV (point of view) por Guilherme.

Com carisma e simpatia Guilherme Pahl guia o espectador pela da história, e mesmo nas mais diversas situações sua fala demonstra a calma e concentração.

guilherme_pahl[1]Toda a viagem é mostrada desde a aterrissagem até suas últimas escaladas em terras argentinas.

A qualidade da edição realizada por Luciana Melo é o ponto forte de  “Quanta Patagônia”, privilegiando a história e não apenas  costurar fatos isolados.

Tanto em cenas de cunho cômico ou dramático a edição é segura, harmônica e equilibrada.

Alternando momentos cômicos com dramáticos “Quanta Patagônia” é entretenimento garantido.

Por ter uma qualidade de um roteiro bem escrito pelo trio, sua duração passa despercebida ao público, muito em função da maneira despojada e tranquila de apresentar cada acontecimento.

Como captação de imagens é eficiente (apesar de imagens não estarem em HD , nem com qualidade  exuberante), a compreensão de cenas é fácil.

Com uma trilha sonora de bom gosto, embora não original, há boa harmonia entre imagens e música.

Mérito total da edição e um trabalho de pós produção de qualidade.

Não apenas pela qualidade de roteiro e edição apresentados, mas também por mostrar que é possível realizar filmes outdoor sem a necessidade de “feitos  heróicos” ,ou escalada de grande dificuldade, “Quanta Patagônia” merece o status de clássico.

Pode, inclusive, constar nas referências a qualquer pessoa que deseja realizar um filme sobre uma viagem.

Indiscutivelmente o filme tem como mérito não procurar enaltecer ninguém, e sim contar uma história simples de maneira simples.

Como deve ser.

Por ter tantas qualidades merecidamente ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Filmes de Montanha do Rio de Janeiro em 2011.

Nota do Blog de Escalada:

Crítica originalmente publicada no Mountain Voices de Janeiro/Fevereiro 2013

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