Crítica do Filme “No Rope No Bolts”

Nos filmes comerciais é comum chamar um filme sobre uma viagem de “Road Movie”. Filmes como “Diários de Motocicleta”, “Thelma e Louise” e “Easy Rider” são expoentes deste gênero.

Na esfera de filmes de aventura, ganha força a expressão “trip movie”, o qual seria um estilo de documentar as experiências vividas em uma viagem.

Com esta idéia na cabeça os escaladores cariocas Felipe Dallorto e Flávia dos Anjos idealizaram a produção “No Ropes, No bolts”.

O filme pode ser considerado ambicioso por ter vários propósitos, sendo que um deles é divulgar o “psicobloc”, também chamado de “DWS” (deep water solo).

Dallorto é hoje sem dúvida o maior expoente da modalidade no Brasil, sendo o seu maior divulgador.

O desenrolar do filme foca uma viagem à Europa para que fossem realizadas escaladas em locais fora do “lugar comum” procurados por brasileiros no velho mundo.

Felipe e Flavia  escoheram Mallorca na Espanha e locais na Inglaterra.

Por ter feito uma escolha tão diferente das que a comunidade escaladora faz, o filme serve de referência para quem deseja fazer o mesmo itinerário.

Deixando a entender que em sua pós produção, o filme foi dividido em três partes: introdução ao psicobloc e atividadades na Espanha, escaladas na Inglaterra e volta à escaladas em Mallorca.

Com imagens de bonitas paisagens praianas, a primeira parte do filme serve como ótimo incentivo a pratica do DWS.

Nesta parte todas as imagens possuem cores fortes e radiantes, que enriquecem as tomadas em ângulos criativos.

Com muita simpatia e carisma Dallorto consegue conduzir o filme com segurança, passando a precisa sensação de que o espectador faz parte de sua viagem.

Porém quando sua viagem ruma à Inglaterra ocorrem algumas derrapadas na produção.

Com um filme de título “No Rope, No Bolts” (sem cordas ou chapeletas, em tradução livre), assistir escaladas com cordas e proteções móveis causa estranheza a quem imaginou o contrário.

As imagens captadas na Inglaterra por causa do clima hostil do país britânico tiveram uma leve queda em nitidez e brilho.

A ausência de luz solar, chuva constante, e poucos de ângulos que privilegiam a paisagem exigiram muito de seu equipamento, e não obtiveram imagens de qualidade como em Mallorca.

As imagens de cores não vibrantes da Inglaterra não comprometem o andar do filme, mas tiram um pouco do entusiasmo construído pelo sol e praia mostrados em Mallorca.

Como foi mostrada uma Inglaterra de clima ruim com frio e chuva constante o interesse de quem pretendia escalar por lá pode ter ficado abalado.

Com uso extenso de imagens de escalada o filme passa a sensação de se tornar lento e arrastado nesta parte.

No terço final do filme, as filmagens voltam à Mallorca.

Pela mudança de local têm-se uma súbita há uma sensação de alívio nesta volta a um local colorido e ensolarado.

Até mesmo Felipe volta a sorrir para a câmera.

Neste ponto há a apresentação de sua motivação para a viagem e em sua obsessão em conhecer o lugar.

Neste detalhe é que se pode considerar como outro pequeno descuido na produção.

Pela qualidade de depoimentos e imagens a sensação de que esta parte poderia estar no início da produção.

Detalhe este que não afeta a qualidade do filme, mas tira parte do brilho que o filme poderia atingir.

O filme oferece bom entretenimento, e serve de boa fonte de inspiração para quem deseja saber mais sobre “psicobloc” e escaladas na Europa.

Por ser a primeira produção de Dalorto e Flávia, foram mostradas muitas qualidades o que deixa expectativa para suas outras realizações de filmes.

Muito disso por serem uma dupla totalmente imersa em uma filosofia de escalada em uma próxima produção haverá amadurecimento natural em suas realizações.

Nota do Blog de Escalada: ★★★★★