Quais são os verdadeiros motivos pelos quais procuramos sair da zona de conforto em escaladas e aventuras na natureza?
A minha resposta mais provável e genérica seria: para nos emocionar.
Caso não sentíssemos nada, ou pelo menos provássemos a sensação de rotina e tédio procuraríamos outra atividade a realizar.
Pelo mesmo motivo é que procuramos além de realizar atividades, procuramos fazer com as pessoas que mais temos afinidades, isso para que a sensação de bem estar seja potencializada.
Por estes motivos que muitas pessoas ao descrever o prazer de escalar, sempre acaba por citar os amigos e companheiros.
Por este motivo é tão importante quanto retratar um esporte de natureza, é também a valorização de cada ser humano e seus sentimentos.
Independente de qual o grau da via escalada , ou o nível que esteja.
Apostando em uma linha de pensamento mais simplista e não megalomaníaca o fotógrafo mineiro Peruzzo produziu o filme “De Sangue e de Pedra – a Viagem”, em que arrisca a colocar sua irmã Karu como protagonista.
Peruzzo hoje é ,sem dúvida, o principal fotógrafo de escaladores do Brasil.
Conseguindo até mesmo agregar importância a qualquer escalador que é fotografado por ele.
Mérito de um profissional de talento e humildade singulares.
O filme “De sangue e de Pedra – a viagem” documenta o relato de viagem dos dois irmãos Peruzzo para a Serra do Cipó-MG, e quais foram suas impressões sobre o local que é conhecido, e reconhecido, como o suprassumo da escalada esportiva brasileira.
Baseando-se sempre na narração das impressões que sua irmã, e parceira, Karu Peruzzo, teve do lugar, o filme documenta suas atividades no lugar visto de sua ótica.
Com voz suave, boa dicção e sotaque típico de Uberlândia, Karu consegue facilmente envolver o espectador com suas declarações, e, de maneira emocionante conduz a um final que pode ser considerado inesperado e emocionante.
Karu com suas declarações, em pouco mais de 15 minutos de exibição, faz com que o espectador fique com olhos marejados de lágrimas até mesmo ao mais “durão”.
O resultado de todos estes elementos é uma produção que impressiona pela alta qualidade apresentada já na estréia do fotógrafo Peruzzo em produção de vídeos.
Não é um filme perfeito, entretanto é bem superior ao que vem sendo produzido no Brasil e no exterior em termos de filmes outdoor.
Com boas tomadas dos detalhes de cada escalador somada à uma edição sem muita pirotecnia e que valoriza cada imagem captada, a produção flui com harmonia.
Com suas lentes mais preocupadas em documentar natureza e detalhes de escaladores, Peruzzo fez com que o mais cético dos espectadores ter curiosidade em saber mais dos autores, locais e prende a atenção até o final .
Apenas na sequência que documenta Eduardo Barão, o filme tem uma pequena quebra de ritmo, que passa a sensação de não se encaixar no enredo do filme, mas que em nada compromete a qualidade de todo o conjunto da obra.
Um outro aspecto não explorado pelos produtores, e que poderia ter sido, foi o charme, sorrisos , trejeitos e gestos de Karu Peruzzo, que rouba a cena sempre que aparece.
Porém é importante lembrar que tropeços e deslizes fazem parte da estréia de qualquer produtor.
Seguramente poucos filmes outdoor conseguem arrancar lágrimas do espectador como “De Sangue e de Pedra – a Viagem” o faz com elegância e eficiência.
Mérito todo da dupla de irmãos que estreiam em uma produção madura, e de qualidade que deixa ansiedade para suas próximas produções.
Fica a expectativa de que Peruzzo siga em frente com seus projetos de filmes e o seu amadurecimento natural nos brinde com mais vídeos de qualidade como este de sua estréia.
Nota Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.